Bruno de Carvalho reiterou no livro hoje publicado a concretização do sonho de presidir ao Sporting, avisando que “vem aí a segunda parte”, apesar de estar “a ser goleado por 5-0”, sem especificar ao que se refere.
Estes excertos constam no último capítulo de “Sem filtro – As histórias dos bastidores da minha presidência”, em que avalia a sua passagem pelo clube, entre 2013 e 2018, quando foi destituído do cargo, em Assembleia Geral.
“A pergunta que faço a mim próprio, neste momento, é se valeu a pena ter de passar por tudo isto devido ao meu amor pelo Sporting”, lê-se no subcapítulo “ainda não acabou” do livro, em que recordou o seu percurso de vida.
Bruno de Carvalho, que cumpre um ano de suspensão de sócio do Sporting, reiterou o “muito orgulho” de ter liderado o clube, assumindo sentir-se “realizado”.
“Também sei que, apesar da destituição e da suspensão de sócio, ainda existem muitos sportinguistas que gostariam que eu tivesse continuado como presidente. (...) Mas depois há o outro lado. O lado do homem. Fiquei com um casamento destruído, sou arguido num processo que pode demorar anos, vi a GNR entrar-me pela casa e levar-me para um posto onde fiquei privado da minha liberdade. E tudo isto depois de ter dado 24 horas por dia ao Sporting durante todo o tempo em que presidi aquele clube. Valeu a pena?”, questionou.
E encerrou o livro com um enigma: “Vou utilizar uma linguagem futebolística. Se isto fosse um jogo, eu estaria a ser goleado por 5-0. Mais que não seja pelos cinco dias que passei detido. Mas ainda só estamos no intervalo. Vem aí a segunda parte”.
Bruno de Carvalho partilhou as suas memórias de vários episódios no clube, nomeadamente sobre as relações conturbadas com os treinadores Jesualdo Ferreira, Marco Silva – que ponderou despedir na pré-época de 2014/15 – e ainda Jorge Jesus.
Relativamente ao atual presidente do Sporting, Frederico Varandas, que liderava o departamento médico do clube, admitiu que este pensasse numa candidatura desde 2016 “quando pagou as quotas em atraso para recuperar o seu número de sócio antigo”, numa altura em que aborda o ataque à Academia do clube, em Alcochete.
Neste caso, que designa “o ataque dos lacraus”, deixou algumas acusações a Bruno Jacinto, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos, e a André Geraldes, antigo ‘team manager’ do Sporting, assinalando que foram Jorge Jesus e Frederico Varandas a “potenciar os efeitos negativos” do caso ocorrido em 15 de maio de 2018, sobre a sua direção.
Bruno de Carvalho diz ter-se arrependido de não ter despedido Jesus, antes da final da Taça de Portugal, e que o técnico “deu a possibilidade a Varandas de se armar em salvador da pátria”. Segundo o mesmo, terá confrontado o treinador e este respondeu: “Mas a máquina já está em movimento”.
“(...) Com o que foi espoletado pelos ataques à Academia, eu e a minha administração passámos a viver num clima de terror. Tudo protagonizado por José Maria Ricciardi, com a forte colaboração de Álvaro Sobrinho, Jaime Marta Soares, Artur Torres Pereira, Sousa Cintra, Frederico Varandas e daquele que tinha sido o nosso treinador. O Jorge tinha razão: a máquina estava mesmo em movimento”, detalhou.
Além da suspensão de sócio, Bruno de Carvalho está ainda acusado pelo Ministério Público da autoria moral do ataque à Academia do clube, de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes classificados como terrorismo, não quantificados.
Em 15 de maio, a equipa de futebol do Sporting foi atacada na academia do clube, em Alcochete, por um grupo de cerca de 40 adeptos encapuzados, que agrediram alguns jogadores, membros da equipa técnica e outros funcionários.
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