Jorge Silvério ocupa há dois anos o cargo de Provedor do Adepto na Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP). Doutorado em Psicologia do Desporto, este professor universitário e psicólogo tenta aproximar a Liga do mundo dos adeptos.

- Quais são as principais queixas que lhe chegam dos adeptos?
- Os adeptos são muito curiosos e chegam interações sobre quase tudo. O âmbito de provedor é muito geral. As queixas têm sido sobretudo sobre questões organizativas, como os bilhetes e os preços. No entanto, surgem muitas também relacionadas com arbitragem, apesar de terem diminuído na última época.

- Como avalia o feedback da direcção da Liga perante as suas sugestões?
- Já atravessei dois presidentes. Hermínio Loureiro foi o mentor do projeto, mas Fernando Gomes é também muito sensível às questões dos adeptos e o feedback tem sido muito positivo.

- Um dos maiores focos de crítica dos adeptos é normalmente o preço dos bilhetes. Atendendo ao contexto de crise, a Liga vai adotar alguma medida de desconto?
- Os preços já não sofrem mexidas há algumas épocas. Há um intervalo de preço entre 5 e 65 euros na primeira Liga e 2 a 20 euros na Liga Orangina. Temos de nos adaptar às circunstâncias e o próprio presidente tem falado sobre isso. Há uma norma que está a ser preparada sobre a categorização dos estádios e isso terá relação com o preço dos bilhetes, à semelhança do que é feito lá fora.

- É legítimo alterar o teto financeiro ao preço dos bilhetes?
- Os clubes têm de ver se vale a pena baixar o preço e vender mais ou cobrar mais caro e arriscar. E isso é feito pelos clubes, embora já haja hoje muitos descontos. Eu penso que se poderia baixar o teto financeiro dos bilhetes, mas não me parece que seja determinante, pois existem também outros fatores, como o clima de insegurança ou atividades concorrenciais: Centros comerciais, cinemas, atividades culturais diversificadas. Muitas atividades cresceram e o futebol foi estagnando…

- Outro problema que tem abalado o futebol português é a violência entre claques e polícia. O atraso na implementação do novo regulamento disciplinar não é mais uma falha na regeneração dos clubes?
- É mais um atraso e é uma medida extremamente importante, mas estão a ser tomadas também outras medidas, como a da criação do Oficial de Ligação aos Adeptos. A própria UEFA patrocinou este projeto e os clubes a partir de 2012/13 terão de ter esta figura, uma vez que faz parte do manual de licenciamento da UEFA. É uma figura extremamente importante, porque permite a tomada de um conjunto de medidas preventivas, nas quais devemos apostar, sobretudo no caso da violência.

- Considera que os dirigentes são os maiores responsáveis pela criação do clima de violência, com declarações muitas vezes ‘incendiárias’ na véspera dos jogos?
- Há declarações menos pensadas e mais emotivas… Os seus protagonistas são modelos para a sociedade e podem influenciar de forma negativa o comportamento dos adeptos. Temos de ter algum cuidado e contenção.

- A hora tardia a que muitos jogos se realizam acaba por afastar os adeptos do estádio. O que é que está a ser feito para inverter este cenário?
- O conhecimento atempado dos horários é uma vantagem. Os clubes dispõem da possibilidade de negociar os horários com os canais e aí terá de haver o entendimento, mas é uma matéria para a qual a Liga tem estado atenta. Algumas coisas estão a ser feitas e são de esperar mais medidas que levem mais pessoas aos estádios.