O recém-eleito Pedro Proença está capacitado para gerar consensos na presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), caracteriza Sónia Carneiro, antiga diretora-executiva coordenadora em dois dos três mandatos do ex-árbitro na Liga de clubes (LPFP).

“Não tenho dúvida de que vai ser determinante para unir o futebol amador ao profissional. Sendo tão determinado e organizado, acho que conseguirá ser um pouco o ministro do futebol e agregar todas aquelas entidades que estão à volta da FPF e que, muitas vezes, entravam em guerrilha. Agregará a nível federativo exatamente como agregou na LPFP”, reconheceu à agência Lusa a advogada e árbitra do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD).

Pedro Proença, de 54 anos, vai suceder a Fernando Gomes na FPF, após ter batido hoje Nuno Lobo, líder cessante da Associação de Futebol de Lisboa, nas eleições dos órgãos sociais rumo ao quadriénio 2024-2028, deixando para trás uma década à frente da LPFP.

“Nada na vida dele é por acaso. As coisas são pensadas, estudadas e trabalhadas, daí o sucesso que tem tido: conseguiu ser o melhor árbitro do mundo [em 2012] e transformar a LPFP. Determinação, trabalho e seriedade são as suas características essenciais e note-se que não para. Trabalha 24 horas sobre sete dias, sempre focado nos objetivos”, disse.

Assessora jurídica de Proença e da Liga de clubes desde 2015, Sónia Carneiro passou a desempenhar funções executivas no organismo regulador do futebol profissional nacional um ano mais tarde, coordenando mesmo todas as áreas de intervenção de 2018 a 2021.

“Ele tenta sempre encontrar uma solução e reúne com as pessoas que acha que podem acrescentar valor. Depois, não aceita que as pessoas lhe levem um problema: quando o fazem, têm de levar já a solução”, partilhou, convencida do sucesso dos vetores “trabalho, responsabilidade, profissionalismo e agregação" elencados pelo ex-árbitro internacional em julho de 2015, quando venceu o antecessor Luís Duque e foi eleito pela primeira vez.

Questionada sobre a postura de Pedro Proença em momentos adversos, Sónia Carneiro ilustrou com a adaptação das dinâmicas da LPFP às restrições implicadas durante cerca de dois anos pela pandemia de covid-19, que afastou o público dos recintos desportivos.

“Tivemos o mundo parado e o futebol foi o grande exemplo para que o país retomasse a normalidade. Ele teve uma importância fundamental na articulação com as instituições, a Direção-Geral da Saúde (DGS), o Ministério da Saúde e o Governo, apesar daquela ideia inicial de que o futebol ficaria de parte [dos setores com medidas aliviadas]”, enquadrou.

Os sucessivos apelos à comercialização centralizada dos direitos audiovisuais dos jogos da I e II Ligas, que teve o decreto-lei aprovado em 2021 em Conselho de Ministros e vai entrar em vigor até 2028/29, também vincaram a “capacidade de liderança, resolução de dificuldades e resiliência” do dirigente, que “transforma os problemas em oportunidades”.

“O Pedro Proença foi à sociedade civil buscar profissionais e pessoas a quem reconhecia competências para que o ladeassem no seu projeto. Quer na parte inicial da recuperação económica da LPFP, que deixou de estar em insolvência para passar a ser uma entidade lucrativa, com património e uma arena de dimensão quase única para uma sede de uma liga profissional, quer na transformação do organismo numa verdadeira empresa”, juntou.

Sónia Carneiro louva a forma como o primeiro presidente da história da LPFP a ser eleito para três mandatos consecutivos “granjeou o respeito de todos” e uniu as 34 sociedades desportivas dos dois escalões profissionais numa meta comum de “melhoria do produto”.

“Esta nova geração de dirigentes percebe que há 90 minutos que os separam em campo, mas tudo aquilo que envolve o futebol é para o interesse de todos. Julgo que não temos nenhum momento em que todos os clubes estivessem unidos à volta da Liga”, finalizou.

Proença vai transitar da LPFP para a FPF, tal como fez em dezembro de 2011 Fernando Gomes, que se tinha lançado no desporto como basquetebolista do FC Porto e partilha o percurso multifacetado do gestor, antigo andebolista da formação de Benfica e Sporting.