Emídio Mendes, responsável de um grupo empresarial que promoveu um empreendimento de luxo - Jardins do Mondego - quando José Eduardo Simões era também director municipal da Administração do Território (DMAT) na Câmara de Coimbra, negou que tivesse interesses económicos em jogadores do clube, ao contrário do que consta nos autos e do que o Ministério Público (MP) procurou evidenciar.

Um dos momentos marcantes da sessão no Tribunal de Coimbra foi protagonizado pelo requerimento do Procurador da República para que fossem reproduzidas as escutas telefónicas da testemunha, o que levou o defensor do dirigente desportivo, Rodrigo Santiago, a opor-se e a obrigar os três juízes que compõem o Tribunal Colectivo a interromper a sessão por uma hora para emitir despacho favorável à tese do MP.

Emídio Mendes, que inicialmente afastara o seu envolvimento com jogadores, acabou por admitir que ajudara o clube a negociar o avançado brasileiro Marcel com o Benfica, mas recusou ter interesses económicos, mesmo perante o MP a evidenciar conversas com o então director desportivo do clube de Lisboa, José Veiga, a negociar a transacção.

Constantemente advertido pela juíza que preside ao Tribunal Colectivo, e pelo Procurador da República, para “responder sem rodeios”, o empresário continuou na sua tese, apesar de o confronto de argumentos indiciar contradições entre as declarações e a prova constantes dos autos, nomeadamente diálogos com José Veiga, conversas com o então treinador, Nelo Vingada, e José Eduardo Simões, e com um outro interlocutor que perguntava o preço do passe.

Emídio Mendes continuou a afirmar não ter participações em passes de jogadores e que ajudava José Eduardo Simões e a Académica para que não descesse de divisão, comparando o seu “filantropismo” com a “responsabilidade social” das suas empresas, que doaram ambulâncias para Moçambique, na altura das inundações, e aos Bombeiros de Cascais.

O empresário também não conseguiu justificar o que significava uma lista de jogadores da Académica que foi apreendida em buscas a uma empresa sua, em que constavam os nomes de Marcel e dos conterrâneos brasileiros Roberto Brum (cedido ao Sporting de Braga, e posteriormente ao Santos), Dinonattan, Luciano, Hugo Alcântara, Lira, Gerson, Fernando, bem como o internacional português José Castro e Sarmento.

Admitiu que para “ter reconhecimento social” em Santos (Brasil), onde tem interesses empresariais, ajudou a negociar o médio internacional Diego para o FC Porto, e outro futebolista para o Santander (Espanha), sempre sem contrapartidas financeiras.

Assumiu ter feito doações e aprovisionado uma conta em nome de José Eduardo Simões numa dependência bancária em Oeiras a partir da qual este terá movimentado um empréstimo de 3,6 milhões de euros, sem juros, que disse ser para o ajudar pessoalmente, e depois admitiu que uma parte poderia ter sido para encargos da Académica.

O depoimento da testemunha Emídio Mendes, que se fez acompanhar pelos advogados João Nabais e Dias Ferreira, preencheu a sessão da tarde de hoje, sendo interrompido à noite, pelas 21:00, para prosseguir na manhã da próxima quinta feira.

José Eduardo Simões é acusado de 12 crimes, seis de corrupção passiva para ato ilícito, cinco de corrupção passiva para ato lícito e um de abuso de poder, no âmbito de três processos, dois dos quais são julgados em apenso, por alegadamente utilizar as funções de DAMT, entre 2003 e finais de 2005, para angariar fundos para a Académica.

Emídio Mendes, inicialmente constituído arguido, beneficiou da suspensão provisória do processo, e agora figura apenas como testemunha.