“A constatação é da completa ‘estrangeirização’ do futebol português. É obvio que isto é uma espiral de irracionalidade, em que vale tudo, sem cuidar das consequências para o modelo de desenvolvimento da modalidade”, disse Joaquim Evangelista, em declarações à Agência Lusa.
Perante os números, 219 estrangeiros na Liga (47,2 por cento), 106 na Liga de Honra (27 por cento), 222 na II Divisão (22,8) e 227 na III Divisão (22,5), o sindicalista refere que, aparentemente, os clubes “já perderam a noção”.
“Não perceberam ainda que este fenómeno pode ter, de alguma forma, ganhos a curto prazo, mas a médio prazo vai prejudicar-nos a todos. Eu defendo a aposta na formação, um equilíbrio nas contratações e um futebol onde convivam estrangeiros e portugueses, mas de forma equilibrada”, sublinhou.
No entanto, estes números não surpreenderam Joaquim Evangelista, que os justifica com “a cultura dos grandes clubes, que os clubes de menor dimensão imitam”.
Favorável à “regra de 6+5”, admitindo dificuldades de adaptação ao “Direito comunitário”, Evangelista defende que sejam os “dirigentes a tomar a iniciativa” e “a decidir o modelo de negócio que querem para o futebol português”.
“É difícil? É com certeza, mas eu acho que a maioria dos dirigentes já percebeu que este caminho não é benéfico para o futebol português, pode ser para os próprios, mas para o futebol não é e isso reflecte-se na perda de competitividade, no afastamento dos adeptos do estádio, na violência, na descaracterização do futebol e nas próprias selecções nacionais. É um problema nuclear, mas que a maioria das pessoas têm medo de abordar”, frisou.
Apesar de recusar o “rótulo” de xenófobo, o sindicalista questiona o esquecimento pelos futebolistas portugueses: “Nós temos campanhas a defender os produtos nacionais, porque é que o futebol não há-de ter esta política?”.
Evangelista preconiza uma “cultura de responsabilidade e ética nos negócios” e “uma verdadeira aposta na formação”, sugerindo a criação de “uma rotação de oportunidades” com jovens jogadores: “Eu acredito que nem todos os jogadores da formação possam ser utilizados, mas tem de se criar um modelo em que os outros clubes nacionais possam beneficiar dessa aposta”.
“Agora, não fazer nada é assistir à agonia do futebol português e é isso que está a acontecer. Eu reconheço que alguns possam ganhar dinheiro, mas estão a matar o futebol porque a realidade, neste momento, é a de clubes a baterem-se pela sobrevivência, como o Boavista e o Estrela da Amadora, clubes estruturalmente deficitários, com problemas gravíssimos como o Vitória de Setúbal, o Belenenses, o Beira-Mar, o Varzim, enfim… e os outros com dívidas a jogadores, ao Estado e penhoras. Pode ser tarde não atacar o problema desde já”, rematou.
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