Gaspar Ramos ficou surpreendido com as recentes palavras de Jorge Nuno Pinto da Costa em relação ao Benfica, e em entrevista ao SAPO Desporto recordou alguns episódios pelos quais passou no futebol português enquanto dirigente desportivo.

Recorde-se que o líder do FC Porto acusou recentemente o Benfica de recorrer a 'artimanhas' para vencer fora de campo e deu como exemplo o caso de Inocêncio Calabote. Gaspar Ramos reagiu às declarações de Pinto da Costa e recordou a sua experiência pessoal enquanto dirigente desportivo durante o final da década de 80 e início dos 90s.

"Artimanhas do Benfica? Era o FC Porto que controlava todas as instâncias do futebol desde a arbitragem, conselho de disciplina e conselho de justiça. Tudo isso era controlado, e eu, naquela altura, tive de tomar medidas muito duras junto das próprias instituições para que essas situações pudessem ser moderadas, e só assim pudemos ser campeões porque senão não éramos", começou por dizer Gaspar Ramos antes de comentar o caso recente a envolver o empresário César Boaventura e Vítor Catão, dirigente do São Pedro da Cova.

"Tudo isso foi feito e infelizmente eles [FC Porto] continuam a ter a preocupação de o voltar a fazer. Essa é a razão porque muitas destas coisas estão a acontecer nos termos da maior baixeza. Não é por acaso que um é líder dos Superdragões e está no Canelas, o outro é um sujeito que é dirigente do São Pedro da Cova, e depois vimos o que aconteceu outro dia com as agressões [ao César Boaventura]. E toda esta gente tem ligações às pessoas que lideram o FC Porto, o que não é por acaso", frisou Gaspar Ramos.

"Eu vi o vídeo [do Vítor Catão e do César Boaventura], e lamento muito que pessoas como o Vítor Catão ainda persistam no futebol. No meu tempo vivi problemas de coacção terríveis e até lamento hoje que o presidente do FC Porto se tenha esquecido de coisas que certamente orientou no período em que eu fui dirigente no futebol", acrescentou Gaspar Ramos antes de comentar o já célebre vídeo das agressões de Vítor Catão a uma equipa de reportagem da RTP em 1993.

"Sim, constatei essas agressões em 1993 do Vítor Catão, mas certamente não foram apenas essas. Ele certamente pertencia à equipa do guarda Abel entre o final dos anos 80 até ao início da década de noventa e depois continuou até ao Apito Dourado onde essas coisas continuaram sempre", disse ainda Gaspar Ramos para depois criticar a memória selectiva de Pinto da Costa

"Respeito imensas pessoas lá de cima do norte, mas há outras pelas quais tenho uma ideia muito baixa por tudo aquilo que tem sido a sua atitude no futebol, e aquela que ainda vão tomando, esquecendo-se de tudo o que foi feito", disse Gaspar Ramos para depois recordar o clima de terror incutido aos adversários no antigo Estádio das Antas pelo guarda Abel.

"Infelizmente conheci o 'famoso' guarda Abel. Desde agressões que fazia a diretores, a coação a jornalistas, a árbitros, tudo isso foi feito nesse tempo. Tudo isso eu denunciei nos próprios órgãos", atirou Gaspar Ramos.

Questionado sobre que tipo de soluções poderá haver para mudar o atual clima de terror e intimidação no futebol português, Gaspar Ramos não tem dúvidas: há 'dinossauros do dirigismo' que já deveriam ter dado o seu lugar a outras pessoas com uma mentalidade diferente.

"O futebol português tem de mudar. Mas a mudança só se faz com a saída de pessoas que não abdicam desses princípios. As pessoas têm de mudar. O grande problema é que eu olho para trás, e quando eu entrei no dirigismo desportivo com pessoas com o Borges Coutinho, Ferreira Queimado, por aí fora, fico com uma saudade enorme de gente desse gabarito. E mesmo em relação ao FC Porto com pessoas como o Américo de Sá e outras pessoas, que tinha uma postura digna ao nível da grandeza do clube, porque o FC Porto é um clube grande que merece o respeito das pessoas, simplesmente não tem pessoas que o dignifiquem", sentenciou Gaspar Ramos.