Muito Sporting para tão pouco Gil Vicente. A lutar por objetivos dicotómicos, leões e gilistas deixaram em campo o que realmente valem.
De um lado, uma equipa que tem 'campeão' escrito na testa. Do outro, a imagem da aflição. Pelo presente, mas sobretudo pelo futuro.
Numa partida de sentido único, apesar das francas melhorias dos minhotos na segunda parte, o Sporting veio ao Minho passear e regressa a Lisboa a cantar (de galo).
Quanto ao Gil, vai ser dura esta reta final de campeonato, muito dura.
Uma teoria infalível (Parte 1)
Há uma teoria milenar que se propõe a validar a existência de uma energia supranatural, que não se explica, mas que aponta, dê por onde der, para um final feliz. Conhece?
Provavelmente não, porque acabei de a inventar. Mas se dúvidas houvesse, os dois golos aos 10 minutos marcados pelo Sporting são material de prova suficiente para validar o que toda a gente vê, sem ver.
Sentiu-se na autoestrada de acesso a Barcelos (nem imagino na A1), nas áreas de serviço, nas nacionais, junto ao estádio e especialmente num dos topos do Estádio Cidade do Barcelos (repleto e apetrechado com cartolinas verde e brancas numa espécie de mini-Alvalade)
Há, de facto, qualquer coisa no ar. Isto para além da evidente qualidade futebolística que diz o óbvio, mesmo antes da matemática. Mas para quê a matemática quando se tem esta filosofia de jogo?
Com quatro alterações, duas delas forçadas, o Sporting marcou antes de jogar. Sim, isso mesmo. Ainda Franco Israel não tinha tocado na bola, já os leões venciam por 2-0. Primeiro Trincão, aos sete minutos - que jogo de Trincão! - depois Diomande, três minutos depois. E assim, sem se esforçar muito, era pelo menos a ideia que dava, o jogo parecia ficar decidido a oitenta minutos do fim. Uma benção para quem luta para ser campeão, um autêntico pesadelo para quem luta para não descer.
O cenário antes da partida arrancar era, de facto, apelativo para os leões. O Gil Vicente ficou sem treinador ao início da semana e foi Carlos Cunha, técnico dos sub-23, a orientar a equipa antes da chegada de Tozé Marreco. O técnico, que deixou o Tondela para orientar os gilistas, já esteve na bancada, apesar de ainda não ter sido apresentado. E deve ter tirado notas, muitas notas.
Na primeira parte só deu Sporting, Sporting e mais Sporting. Sem Matheus Reis, lesionado, Esgaio jogou à esquerda, mas a pensar com o pé direito (o que raramente corre bem). Fez o melhor que pôde, e a verdade é que chegou, Mas verdade seja dita, com a confiança dos leões, com todo o respeito pelo Gil, nesta fase a máquina pode perfeitamente funcionar com uma ou outra areia na engrenagem.
Diria que estamos perante uma espécie de piloto automático, hoje de seu nome Trincão, que voltaria a marcar já para lá da meia-hora. O resultado empurrava para o tapete um Gil Vicente anémico, paralisado, arrastado. E porque um male nunca vem só, o quarto chegou de autogolo. Dá para acreditar? Gyokeres estava por perto, ainda colocou a máscara, mas em vão. O golo não foi do sueco.
Ao fim da primeira parte não havia alma com dois dedos de testa que questionasse a justeza do resultado, que até podia ter sido mais desiquilibrado. Um remate apenas era o melhor que a equipa barcelense tinha conseguido, contra 11 do Sporting, 7 deles enquadrados.
Tudo corria bem ao Sporting, cada vez mas em estado de graça, apercebendo-se de que a tarefa para a noite desta sexta-feira estava arrumadíssima.
Uma teoria infalível (Parte 2)
As 'finais' que se aproximam exigem uma gestão refinada e cuidada do plantel. A teoria, desta vez, é de que uma vantagem de quatro golos traria um Sporting de propositadamente mais tranquilo (talvez, em alguma situações, mais do que Rúben Amorim desejaria), enquanto do outro lado a equipa da casa lembrou-se... de jogar. E assim foi. Infalível.
Com mais espaço em campo pela menor intensidade dos leões, os gilistas puderam, pelo menos, dar um ar da sua graça - era o que pediam os adeptos da casa depois da primeira parte fantasmagórica.
Aos 53 minutos, Israel foi chamado a intervir pela primeira vez: um passe a rasgar da autoria de Félix Correia viu Debû a chegar atrasado à emenda. Foi, pasme-se, o primeiro lance digno de registo para o Gil Vicente.
Os galos estavam substancialmente melhor, mas sem nunca assustarem. Nas bancadas, por esta altura, vislumbrava-se uma longa faixa com um pedido, daqueles difíceis de concretizar; 'Fica Amorim!". numa semana em que o técnico do Sporting já deve ter começado a aprender o 'You'll Never Walk Alone'.
O ambiente era de festa, mas o Gil não queria ser o bombo, ou bobo, pode escolher, serve para ambas as circunstâncias.
Com o jogo controladíssimo, Rúben Amorim foi mexendo, Trincão, o melhor em campo, saiu já perto dos 70 para receber a maior ovação da noite.
O jogo foi-se mastigando até ao apito final, com uma ou outra investida de parte a parte, mas o 4-0 da primeira parte acabaria mesmo por manter-se intacto. Nota para Gyokeres, sempre muito esforçado, mas que fica em branco pelo quarto jogo consecutivo. Seria um dado normal para qualquer jogador, mas não para o possante avançado sueco.
O Sporting volta ao Minho já na próxima terça-feira, mas em Famalicão, para (finalmente) disputar o jogo em atraso. Se vencer - e colocando em hipótese a vitória do Benfica nesta jornada, apesar de tudo o cenário mais provável, os leões podem confirmar os sete pontos de vantagem quando faltarem 15 por disputar. Pois bem, caro leão, é caso para dizer: diz-me que vais ser campeão sem dizeres que vais ser campeão.
Breve nota justíssima: O Sporting venceu, mas o herói da noite foi Andrew
O guarda-redes do Gil Vicente, um dos melhores guarda-redes da I Liga, há que dizê-lo, jogou 90 minutos com total profissionalismo, horas depois de ter conhecimento do falecimento da mãe, que vive no Brasil.
Uma nota de tremenda admiração e grandíssimo respeito pela atitude de Andrew, um verdadeiro talento deste campeonato.
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