Contrariamente ao que hoje se verifica, os clássicos no futebol nem sempre foram encontros pautados pelo equilíbrio, em que tudo estava em aberto até ao apito final. Aliás, foram as grandes goleadas que contribuíram, no passado, para 'atiçar' a rivalidade entre os três 'grandes'. Exemplo disso é o facto de os dois resultados mais desnivelados entre FC Porto e Sporting terem acontecido há já 80 anos.
No total, foram 16 os clássicos disputados entre ‘dragões’ e ‘leões’, para o campeonato, que tiveram seis ou mais golos. Recorde alguns desses embates.
FC Porto 10-1 Sporting (1936)
É preciso recuar até à década de 30 para encontrar o resultado mais desnivelado num clássico FC Porto-Sporting. Mais precisamente a 22 de março de 1936, quando os portistas bateram a equipa de Alvalade no Campo do Ameal (Porto) por 10-1. Carlos Nunes, com um ‘póquer’, e Pinga, autor de um ‘hat-trick’, foram os grandes protagonistas da goleada, que contou ainda com o precioso contributo de Carlos Pereira, Valdemar Mota e António Santos, com um golo cada. O romeno Wilhem Possak, treinador-jogador dos ‘leões’, apontou o tento de honra da formação visitante.
O jogo ficou marcado por um lance caricato ocorrido aos 30 minutos da primeira parte, quando o FC Porto já ganhava por 2-1. Pinga lançou Santos que correu isolado em direção à baliza dos ‘leões’, mas foi travado por uma saída destemida de Artur Dyson. O guarda-redes dos ‘dragões’ acabou por abandonar o relvado de maca. Na altura não eram permitidas substituições, tendo sido Rui Carneiro, curiosamente um avançado, a ‘sacrificar-se’ e a ir para a baliza, onde sofreu 4 golos em apenas 9 minutos. Curiosamente, nem FC Porto nem Sporting se sagraram campeões nessa época, com o título nacional a ser entregue ao Benfica.
Sporting 9-1 FC Porto (1937)
Apenas um ano depois, a 4 de abril de 1937, o Sporting vingou-se da humilhação sofrida no Ameal com uma goleada por 9-1, o segundo resultado mais desequilibrado entre as duas equipas, desta feita no seu terreno. Manuel Soeiro, com um ‘póquer’, João Cruz, com um ‘hat-trick’, e Pedro Pireza, com um ‘bis’, construíram o resultado avolumado. Pelos ‘dragões’ marcou Pinga.
Entre os vários condimentos que apimentaram este confronto, o destaque vai para a presença de Joseph Szabo no banco dos ‘leões’. O técnico húngaro tinha acabado de ser contratado pelo então presidente do Sporting, Joaquim Oliveira Duarte, numa jogada de antecipação ao FC Porto, que se preparava para recuperar o treinador, que já havia feito história naquele clube.
Sporting 6-1 FC Porto (1938)
Nem um ano depois – estávamos a 27 de março de 1938 – o Sporting volta a receber o FC Porto com nova goleada, embora por números não tão exagerados. Com três golos, o herói do encontro acabou por ser um jovem ainda em início de carreira, mas que acabaria por se revelar uma das maiores glórias do clube: Fernando Peyroteo. João Cruz (2) e Adolfo Mourão completaram a goleada. Pelo FC Porto marcou Ângelo Silva.
Destaque também para os bancos, com a presença de dois húngaros no comando técnico das duas equipas: Miguel Siska pelo FC Porto e o já mencionado Szabo pelo Sporting.
Sporting 5-0 FC Porto (1942)
Foi o único clássico entre Sporting e FC Porto a terminar num 5-0. Novamente no Campo do Lumiar, a 18 de janeiro de 1942, em jogo a contar para o Campeonato Nacional da Primeira Divisão, marcaram para os ‘leões’ o avançado João Cruz (3), Peyroteo e Armando Ferreira.
Não obstante os cinco golos sofridos, começava a dar nas vistas, ao serviço dos ‘dragões’, Béla Andrasik, guarda-redes húngaro, a cimentar a preferência do futebol português das primeiras décadas pelo futebol magiar.
Sporting 6-1 FC Porto (1960)
A 24 de janeiro de 1960, agora no Estádio José de Alvalade, houve nova goleada com cinco golos de diferença, com o vencedor a repetir-se. A vitória ‘leonina’ contribuiu-se com golos de Vadinho (3), Faustino Pinto (2) e Juan Seminário. O golo de honra do FC Porto foi apontado pelo checoslovaco Janko Daucik, filho do treinador Ferdinand Daucik.
Este foi um dos últimos jogos realizados por José Maria Pedroto enquanto jogador. Na época seguinte, o médio ‘pendurou’ as chuteiras e deu início à carreira de treinador, que viria a revolucionar o futebol do FC Porto.
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