O ciclo de Jorge Jesus em Alvalade parece estar ao chegar ao fim de duas temporadas no Sporting com apenas mais um título no palmarés leonino: a conquista da Supertaça no arranque da época 2015/2016. As críticas de Bruno de Carvalho após o final do jogo com o Belenenses parecem traçar um destino de ruptura com Jorge Jesus e perante a possível saída do técnico português é altura de fazer balanços a duas temporadas de poucos títulos e muito futebol ofensivo.

Época 2015/2016

A chegada de Jorge Jesus a Alvalade prometia um novo paradigma no futebol leonino. Depois de três épocas a poupar e a garantir uma base sólida para lutar pelo título com Benfica e FC Porto, Bruno de Carvalho decidiu arriscar e contratar o treinador bicampeão pelos 'rivais' da 2ª Circular.

Com a contratação de Jorge Jesus no início da época 2015/2016, o Sporting assumia definitivamente a candidatura ao título com a conquista da Supertaça Cândido Oliveira frente ao eterno rival Benfica, e um equilíbrio entre jogadores formados em Alcochete, como João Mário, William Carvalho e Adrien Silva, e jogadores com experiência internacional como Teo Gutiérrez, Bryan Ruiz, Aquilani, Coates, Schelotto. Jorge Jesus assumia-se como o principal responsável do futebol leonino a todos os níveis. A equipa do Sporting apresentava o melhor futebol a nível nacional, mas perante o primeiro grande desafio da época não conseguiu o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Uma derrota na Rússia frente ao CSKA Moscovo atirou a equipa de Jorge Jesus para a Liga Europa, mas o bom futebol praticado deixava os adeptos leoninos a sonhar com vários títulos, ainda para mais depois da vitória por 3-0 no Estádio da Luz, que parecia lançar definitivamente o Sporting na corrida ao título. O bom futebol praticado pela equipa leonina parecia justificar os 6 milhões de euros por ano que Jorge Jesus receberia de salário.

No entanto, antes do final de 2015 o Sporting acabaria por sofrer um duro golpe com a eliminação da Taça de Portugal frente ao SC Braga num jogo com uma arbitragem algo polémica. Quatro dias depois, o Sporting perdia a liderança do campeonato para o FC Porto com uma derrota frente ao União da Madeira por 1-0 e o fantasma de Dezembro voltava a assombrar a aposta as hostes leoninas.

A reação dos 'leões' de Jorge Jesus no arranque de 2016 serenaram os ânimos e o Sporting voltou a reconquistar a liderança do campeonato nacional com um triunfo sobre o FC Porto por 2-0.

Apesar de alguns empates e das eliminações da Taça da Liga e da Liga Europa, a equipa de Jorge Jesus mantinha a aura de principal candidato ao título com vantagem sobre FC Porto e Benfica. No início do mês de março, o Sporting recebia o Benfica com um apenas um ponto sobre o rival da Luz, e parecia seguir embalado para manter a liderança do campeonato depois de somar três vitórias sobre a equipa de Rui Vitória (Supertaça, campeonato e Taça de Portugal), mas um golo solitário de Mitroglou tirou a vantagem dos 'leões' e permitiu aos 'encarnados' agarrar a liderança em Alvalade com dois pontos de avanço. O título acabou por rumar ao rival da Luz e a primeira época de Jorge Jesus saldou-se por 36 vitórias, seis empates e nove derrotas. Os 111 golos marcados em jogos oficiais davam uma média de 2,18 golos por jogo e as expectativas para a época seguinte aumentavam exponencialmente com a continuidade de Jorge Jesus, que viu a renovação do seu contrato alargada até 2019 e anunciada a meio da época por Bruno de Carvalho num voto de confiança do presidente leonino. Para além disso, e segundo as informações veiculadas na altura, o presidente do Sporting deu mais poderes ao técnico leonino e perante o assédio do FC Porto aumentou-lhe substancialmente o vencimento para 8 milhões de euros por ano.
Comparativamente aos antecessores de Jorge Jesus, o Sporting de Leonardo Jardim apresentou uma média de dois golos por jogo num total de 35 jogos. O atual treinador do Mónaco somou em Alvalade um total de 23 vitórias (66%), 8 empates (23%) e apenas 4 derrotas (11%) e garantiu o apuramento direto para a Liga dos Campeões com um orçamento muito inferior ao que dispôs Jorge Jesus.

Já o Sporting de Marco Silva deu continuidade ao bom trabalho que Leonardo Jardim deixou e voltou a apresentar uma percentagem de derrotas inferior à de Jorge Jesus no seu primeiro ano em Alvalade. Na época 2014/2015, o Sporting terminou em terceiro lugar no campeonato, mas conquistou a Taça de Portugal frente ao SC Braga. No total, Marco Silva levou o Sporting a 31 vitórias, 15 empates e apenas 7 derrotas. Com apenas menos seis golos marcados do que a equipa de Jorge Jesus, os 'leões' de Marco Silva apresentaram uma média de 1,98 golos por jogo e de 1,02 golos sofridos por jogo.

Época 2016/2017: Das ressacas europeias à eliminação de quase todas as competições em janeiro

Com a conquista da Supertaça Cândido Oliveira e o segundo lugar no campeonato, o segundo ano de Jorge Jesus começou como na época de estreia: muita ambição pela conquista do título de campeão. Sob indicação de Jorge Jesus, o Sporting assegurou a contratação de vários nomes sonantes para quebrar a hegemonia do Benfica. Chegaram a Alvalade nomes como Lazar Markovic, André, Bas Dost, Joel Campbell e até o regressado Elias. Para além disso, Bruno de Carvalho não olhou a meios e ainda colocou à disposição do técnico jogadores como Beto, Douglas, Alan Ruiz, Marcelo Meli, Petrovic, Luc Castaignos e Lukas Spalvis numa clara inversão de política de contratações.

As quatro vitórias consecutivas no arranque do campeonato nacional e a boa exibição dos 'leões' em pleno Santiago Bernabéu frente ao campeão Europeu Real Madrid prometiam um Sporting à imagem daquilo que tinha sido no ano passado: vertigem ofensiva, posse de bola e nota artística. Apesar dos bons indicativos na derrota em Madrid por 2-1, o regresso do Sporting de Jorge Jesus às competições internas sofreu o primeiro percalço da época com a surpreendente derrota em Vila do Conde por 3-0 diante do Rio Ave de Luís Castro. Na jornada seguinte, o Sporting reagiu bem e venceu o Estoril-Praia por 4-2. No regresso à Liga dos Campeões, os 'leões' de Jorge Jesus somaram um importante triunfo sobre o Légia de Varsóvia por 2-0, mas um empate a 3-3 na deslocação a Guimarães voltou a atrasar o Sporting na corrida ao título e a levantar questões sobre o rendimento da equipa após as jornadas europeias.

Na receção ao Borussia Dortmund, a equipa do Sporting voltava a apresentar bons indicadores, mas uma derrota por 2-1 acabaria por afetar a confiança da equipa no regresso ao campeonato com dois empates consecutivos frente a Tondela e Nacional da Madeira. Na deslocação à Alemanha, Jorge Jesus apostou numa mudança radical no modelo de jogo do Sporting com três centrais e Luc Castaignos no lugar de Bas Dost e acabou por sair derrotado por 1-0 pelo Borussia Dortmund. A derrota em Dortmund hipotecava as esperanças dos 'leões' de seguir em frente na Liga dos Campeões, mas com dois jogos pela frente na prova ainda havia a hipótese matemática.

Com um Estádio de Alvalade totalmente lotado para assistir ao regresso de Cristiano Ronaldo a 'casa', o Sporting voltava a apresentar bom futebol, mas um golo de Varane e a expulsão de João Pereira ditaram uma derrota pela margem mínima que deixava a equipa de Jorge Jesus com a Liga Europa em perspectiva.

Seguiram-se duas vitórias para o campeonato e um triunfo para a Taça da Liga antes de um jogo decisivo para as contas europeias contra o Légia de Varsóvia. Na visita à Polónia, e a quatro dias da deslocação à Luz, o Sporting precisava apenas de um empate para garantir a continuidade nas provas europeias. Com o dérbi da Luz no horizonte, Jorge Jesus apostou numa linha defensiva constituída por três centrais e com Zeegelaar e Bruno César nas alas. A equipa leonina ressentiu-se das alterações no esquema tático e acabou por ser afastada em pleno mês de dezembro das competições europeias com uma derrota por 1-0.

Quatro dias depois, o Sporting visitava o Benfica na 13ª jornada com a possibilidade de ficar a um ponto do líder, mas uma derrota por 2-1 colocou os 'leões' a quatro pontos do primeiro lugar e com algumas queixas de arbitragem.

Afastados das competições europeias e mais longe do primeiro lugar com a derrota caseira com o SC Braga duas jornadas depois do dérbi, a equipa liderada por Jorge Jesus terminava o ano de 2016 com um triunfo sobre o Varzim para a Taça da Liga. No entanto, a crise leonina acentuou-se no início de 2017 com a eliminação da Taça da Liga perante o Vitória de Setúbal e da Taça de Portugal frente ao Chaves. O empate com o Marítimo à 18ª jornada 'empurrava' o Sporting para a quarta posição e os 10 pontos de diferença para o líder Benfica pareciam cada vez mais impossíveis de alcançar.

Inversão na política de contratações em janeiro: regressa a aposta na prata da casa

Com a equipa leonina apenas na luta pelo título em pleno mês de janeiro, a direção do Sporting decidiu recuar na sua política de aposta em jogadores internacionais e virou-se para dentro, para a prata da casa, e interrompeu o empréstimo de vários jogadores como Podence, Francisco Geraldes, Rayn Gauld ou João Palhinha. Elias, Markovic, Petrovic, André e Meli saíram no mercado de janeiro numa óbvia redução no plantel liderado por Jorge Jesus.

No arranque do mês de fevereiro, o Sporting visitava o Dragão à 20ª jornada e estava obrigado a vencer para relançar a sua candidatura ao título. No entanto, uma derrota por 2-1 retirava grande parte das aspirações ao título por parte dos 'leões'. Jorge Jesus voltou a apostar numa surpresa no onze inicial, e mais uma vez, esta época, falhava na sua aposta em Matheus Pereira e Marvin Zeegelaar.

Perante a inevitabilidade de lutar apenas pelo segundo lugar, o Sporting reagiu, e já sem a pressão de lutar pelo título, conseguiu uma série importante de 11 jogos consecutivos sem perder. No entanto, e com a possibilidade de poder ascender ao segundo posto do campeonato perante a série de empates do FC Porto, o Sporting de Jorge Jesus voltou a falhar, em casa, frente ao Belenenses, com uma derrota histórica por 3-1, a primeira em 62 anos diante do emblema do Restelo em casa para o campeonato.

No final do jogo, Bruno de Carvalho foi cáustico com a exibição da equipa e enviou recados internos para o que se avizinha na próxima época. Uma das expressões usadas pelo líder leonino para criticar a derrota do Sporting frente ao Belenenses foi claramente uma 'indireta' a Jorge Jesus quando disse que, "Não me interessa o caudal ofensivo da equipa, interessa-me é vencer. Para mim chega. Tudo tem de ser diferente na próxima época".

Ora, a duas jornadas de terminar a época 2016/2017, os dois anos de Jorge Jesus em Alvalade saldam-se, até ao momento, por um total de 92 jogos, 61 vitórias, 12 empates e 19 derrotas. Com um total de 184 golos marcados, os 'leões' de Jorge Jesus apresentam uma média de dois golos por jogo e de 0,95 golos sofridos por encontro. O atual técnico do Sporting tem a mesma média de 66% de vitórias do que Leonardo Jardim e de menos empates (12%) do que Marco Silva (28%) e Leonardo Jardim (23%).

No entanto, a possível saída do técnico no final desta época coloca algumas dúvidas sobre o futuro do futebol leonino, uma vez que o atual treinador foi um dos rostos de apoio à recandidatura de Bruno de Carvalho e uma das 'peça' fundamentais para a estrutura desportiva idealizada pelo líder leonino para os próximos anos.

Apesar das informações veiculadas pela imprensa sobre o iminente divórcio entre Bruno de Carvalho e Jorge Jesus ainda há a possibilidade para uma reaproximação de ambos caso o técnico leonino reconquiste os poderes de decisão que perdeu em janeiro, nomeadamente o poder de escolha dos jogadores a contratar.