O antigo presidente da FPF, João Rodrigues, que desempenhou vários cargos na FIFA, reconhece que o “edifício” do organismo estava “podre”, culpa Josef Blatter pela situação a que se chegou e diz acreditar na inocência de Michel Platini.
“Nunca acertei no totobola nem na lotaria, não sou adivinho, mas quando ele [Blatter] foi eleito desta vez, eu disse que não estaria mais de um ano no poder. Esteve quatro dias”, afirmou João Rodrigues durante a apresentação do livro ‘FIFA Nostra’ do jornalista Luís Aguilar sobre o fenómeno da corrupção que abalou o organismo máximo do futebol mundial.
João Rodrigues não tem dúvidas de que o edifício da FIFA estava “podre”: “Quando João Havelange chegou à FIFA, esta tinha a sede num andar em Zurique, e a primeira coisa que ele fez foi arranjar dinheiro para a construção de uma nova sede, que se revelou extremamente pequena algum tempo depois, pelo que houve necessidade de comprar um terreno para a construção de uma sede. Três anos depois o Joseph Blatter, aproveitando uns hectares que João Havelange tinha comprado nessa zona, fez este monumento que você vê, sem nexo e sem outra justificação que não fosse o fausto”.
O antigo presidente da FPF conhece como poucos a FIFA por dentro e acredita que a recente “vassourada” vai permitir a sua “regeneração progressiva”, até porque as pessoas “sentem que o deixar correr já lá vai, que hoje há responsabilidades e que os outros estarão atentos” e que irá existir, depois deste “terramoto”, para quem for eleito, “um nível muito elevado de exigência, em termos de honorabilidade”.
Em quem João Rodrigues acredita é no atual presidente demissionário da UEFA, Michel Platini, e na sua inocência.
“Eu defendo o Platini e quando me falam no milhão e 200 mil euros que lhe foram pagos, penso que Blatter devia ter coragem de assumir o que determinou essa entrega de dinheiro. Na minha ótica não há ali qualquer ilícito criminal pela simples razão que foi declarado. Platini declarou que tinha recebido esse dinheiro quando o recebeu”, disse.
O autor do livro, o jornalista Luís Aguilar, que já tinha lançado outro sobre o mesmo tema, com o título ‘Jogada Ilegal’, considerou que o seu mais recente ‘FIFA Nostra’ não é uma continuidade do anterior.
“Não era difícil de prever que os anos seguintes nos trariam novidades. Na sequência das detenções que houve em maio do ano passado, acabei por pegar em cada uma das personagens e, em função da forma como a corrupção foi evoluindo, acabei procurei explicar no livro como ocorreu essa evolução, quem foram os culpados, quem foi cúmplice e como se pode evitar no futuro que tudo volte a acontecer”, afirmou.
Luis Aguilar entende que a regeneração da FIFA não vai ser assim “tão rápida e fácil” porque alguns dos envolvidos em casos de corrupção continuam lá e muitos dos presidentes de federações que permitiram que essas pessoas se perpetuassem ainda hoje mantêm esse poder, têm direito de voto e vão votar na sexta-feira [dia das eleições].
Além disso, Aguilar considerou que, quando um organismo apodrece por dentro, não tem capacidade para se autoregenerar e lembrou que a mudança que ocorreu veio de fora, da justiça norte-americana e do Ministério Público suíço.
“Obviamente não vamos assistir a uma mudança imediata, vai levar algum tempo, sabemos é que, neste momento, a FIFA não tem margem para dar passos em falso”, concluiu Luís Aguilar.
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