O presidente do Benfica de 03 de Novembro de 1997 a 31 de Outubro de 2000 está indiciado de três crimes de peculato, um de branqueamento de capitais, um de falsificação de documentos e um de abuso de confiança.

Os factos que sustentam a acusação do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa remontam ao período de Janeiro de 1999 a Julho de 2000 e foram investigados pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP).

Actualmente a viver em Londres, Vale e Azevedo, a aguardar em liberdade que o Tribunal de Westminster se pronuncie sobre pedido de extradição para Portugal, requereu a abertura da instrução, pedindo a nulidade da acusação e alegando que tinha contrato de conta corrente com o Benfica.

De acordo com o despacho de acusação a que a Lusa teve acesso, Vale e Azevedo também impugnou as provas periciais e invocou que as informações requeridas a instituições bancárias foram realizadas com violação do segredo de justiça, uma vez que não foram determinadas por ordem judicial.

O TIC de Lisboa decidiu-se pela pronúncia de Vale e Azevedo, considerando que "os factos descritos na acusação estão indiciariamente provados, quer pela vasta prova documental, quer pela prova testemunhal".

Concluiu a juíza que redigiu o despacho de acusação que o arguido Vale e Azevedo "concentrou em si todas as decisões referentes às contratações", tendo José Manuel Capristano, também responsável pelas transacções,"conhecimento de alguns contratos celebrados que assinava na qualidade de vice-presidente".

Devido à crise financeira que afectou o Benfica de 1998 a 2000, algumas contas bancárias foram penhoradas de 24 de Abril a 13 de Junho de 1998, passando os créditos e débitos do clube a ser movimentados através de duas contas da Vale e Azevedo & Associados.

"Os serviços da contabilidade do clube inscreviam os montantes a débito e crédito do arguido, sem a conferência dos respectivos documentos de suporte e sem a conferência dos existentes com os extractos das contas tituladas pela Vale a Azevedo & Associados", refere-se no despacho de pronúncia.

A juíza do TIC de Lisboa considerou que os procedimentos permitiram a Vale e Azevedo "a apropriação de verbas que eram devidas ao Benfica e, posteriormente, à Benfica, SAD", e que o então presidente "passou a ocultar aos membros da Direcção, incluindo a José Capristano, as condições em que se processavam" as transferências de jogadores.

O tribunal comprovou que os restantes membros da Direcção presidida por Vale e Azevedo tiveram conhecimento das movimentações de verbas do clube nas duas contas da sociedade de advogados "já no segundo semestre de 1998, como facto consumado", não contestando, mesmo sabendo que já tinha cessado a penhora de contas do Benfica.

As acusações estão relacionadas com as transferências do brasileiro Amaral para a Fiorentina, do britânico Scott Minto para o Benfica, do marroquino el Hhalej para o Southampton e de Gary Charles para o West Ham.

O antigo presidente do Benfica foi condenado nos processos de transferência do guarda-redes russo Ovchinnikov e no caso Euroárea, relacionado com a venda simulada dos terrenos sul do Benfica, na Luz, por cinco milhões de euros.