O presidente dos Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, disse esta terça-feira que é fundamental discutir o tema do ‘match-fixing’, o qual considera ser um dos grandes problemas do futebol.

"O ‘match-fixing’ é um dos grandes problemas do futebol. Os valores do desporto são postos em causa. No dia a dia sabem onde existem as vulnerabilidades, os campeonatos mais frágeis e os jogadores que precisam. O nosso campeonato é um deles e deve-se ao incumprimento salarial”, afirmou o dirigente durante a conferência “A (im)possibilidade do Match-fixing no Futebol”, que decorreu na Universidade Europeia, em Lisboa.

Joaquim Evangelista abordou também a questão dos jogadores de futebol apostarem em jogos desta modalidade, referindo que estes agentes não estão autorizados a fazê-lo: “Todos os agentes desportivos estão proibidos de apostar. Podem ser condenados a penas de prisão se o fizerem.”

Nesta palestra, em que se falou sobre a forma de combater o fenómeno do ‘match-fixing’ em Portugal, Joaquim Evangelista afirmou que os baixos salários pagos aos atletas não justificam a participação dos mesmos nestes esquemas de viciação de resultados, apesar de serem alvos fáceis por parte de quem procura viciar jogos.

“O salário médio dos jogadores da II Liga é de cerca de 800 euros por mês. Os salários baixos não justificam as apostas. Muitos dos jogadores não sabe que não podem apostar na sua modalidade. Temos de alertar os jogadores para as consequências do ‘match-fixing”, garantiu o dirigente do Sindicado dos Jogadores.

Relativamente aos investidores estrangeiros, Evangelista destacou a importância destes agentes para o desenvolvimento dos clubes, mas afirmou que os mesmos devem ser escrutinados.

"Economicamente o futebol precisa disso e tem benefícios, mas também há investidores que não são escrutinados. Há bons e maus investidores. É preciso escrutinar os investidores estrangeiros”, referiu Joaquim Evangelista, dando depois o exemplo do Beira-Mar. O iraniano Majid Pishyar investiu nos aveirenses e acabou por levá-los à falência. O mesmo empresário tinha estado em outros dois clubes (Admira Wacker, da Áustria e Servette, da Suíça) que também acabaram por entrar em falência.

Atividade das apostas desportivas não é rentável em Portugal

Ricardo Domingues, CEO da Betclic Portugal, abordou nesta conferência a questão das apostas desportivas em Portugal, referindo que este negócio não é rentável para as operadoras.

“Não há mais operadores porque não é rentável montar um negócio de apostas desportivas em Portugal”, referiu, acrescentando que a tributação em Portugal é feita sobre a faturação e não sobre o lucro, como é efectuado noutros países europeus, o que leva a que a maioria dos portugueses aposte fora de Portugal, onde os preços são mais atrativos.

Relativamente à questão do ‘match-fixing’, Ricardo Domingues referiu que as casas de apostas reguladas (11 em Portugal) são as últimas a saber quando existe este fenómeno num jogo de futebol.

“O ‘match-fixing’ é um problema transfronteiriço. As casas de apostas reguladas são os principais afetados por este problema pois são as últimas a saber desta questão”, referiu o CEO da Betclic Portugal, acrescentando que o ‘match-fixing’ “já existia antes das casas de apostas reguladas” e que estes operadores “vieram acrescentar transparência” ao mundo das apostas desportivas.

Ricardo Domingues salientou ainda que existe uma associação que está atenta a situações anormais nas apostas desportivas, que quando são detetadas transmite as informações às autoridades competentes.

“A Associação ESSA (Associação Europeia para a Segurança no Desporto) promove a integridade no desporto. Quando são notados padrões de apostas irregulares são comunicados às autoridades competentes”, referiu.

O caso pessoal de Nuno Gomes

Nuno Gomes, antigo internacional português, diz nunca ter sido aliciado durante a carreira de futebolista e fala na vulnerabilidade do jogador como algo a explorar por parte de quem alicia.

“Sou do tempo em que jogava às cartas no balneário”, começou por dizer. "Felizmente quando joguei este ‘boom’ ainda não tinha rebentado. Os clubes por onde passei tinham os ordenados em dia. Percebo que haja esse aliciamento em equipas mais pequenas, em que os jogadores levam muito pouco dinheiro para casa. Quanto menos ganham, mais vulneráveis estão e o investimento chinês está relacionado com isso", considerou.

Nuno Gomes, que jogou em Itália durante duas temporadas (de 2000 a 2002), ao serviço da Fiorentina, deparou-se com o fenómeno naquele país. “Em Itália falava-se muito em resultados combinados, mas entre as equipas. Lembro-me de ver os capitães nos túneis a fazerem um gesto com as mãos, como que a dizer: ‘o resultado é para ficar empatado’”, contou.

E se Nuno Gomes quisesse comprar um jogo, quem procuraria aliciar? “Se eu quisesse comprar um jogo, ia aos defesas... ou ao guarda-redes”, respondeu, explicando a escolha: “O defesa faz penáltis.”

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