Há várias formas de analisar os desaires do FC Porto esta época. Erros individuais dos jogadores, opções questionáveis de Nuno a fazer o onze ou a mexer na equipa, erros de arbitragem, falta de soluções no plantel. Em 28 jogos oficiais esta temporada, a formação azul-e-branca venceu 15, empatou dez e perdeu três, marcou 45 golos e sofreu 13. Demasiados empates que já colocaram a equipa fora da Taça da Liga e Taça de Portugal (derrota nos penáltis frente ao Desp.Chaves) e que deixam o FC Porto a quatro pontos do Benfica na Liga.

Empates e mais empates

As razões para as três derrotas e os dez empates são várias. Os ´dragões` não têm tido sorte com as arbitragens em Portugal, como se viu esta terça-feira frente ao Moreirense e como já tinha ficado visível na eliminação da Taça de Portugal frente ao Desportivo de Chaves e noutros jogos, com penaltis por marcar e golos mal anulados. Mas as arbitragens não explicam tudo. Uma das justificações para tantos resultados negativos está no banco. O técnico Nuno Espírito Santo tem cometido alguns erros na análise ao jogo e na hora de mexer na equipa, como ficou visivel nalguns encontros.

O primeiro empate chegou no primeiro jogo oficial, no play-off de acesso à Liga dos Campeões. No Dragão frente a AS Roma, o FC Porto empatou 1-1, apesar de ter jogado 50 minutos com mais um. À 3ª jornada da Liga, a primeira derrota. Em Alvalade os azuis-e-brancos estiveram a vencer mas o Sporting deu a volta ainda na primeira parte. No segundo tempo Nuno mexeu mas foi mais para ´ajudar` Jesus: ´povoou` a zona central de médios, colocou Depoitre e Adrian Lopez, lançou Oliver que só tinha feito três treinos com a equipa. No segundo tempo a equipa não conseguiu criar perigo já que, pelo meio, quem mandava era o Sporting. Sem extremos criativos, o jogo do FC Porto não apareceu.

Voltou a empatar na primeira jornada da fase de grupos da Champions com o Copenhaga no Dragão. As entradas de Diogo Jota, Brahimi e Depoitre para os lugares de Corona e Herrera não melhoraram a equipa. Na segunda jornada, derrota em Inglaterra com o Leicester pela margem mínima. O FC Porto só melhorou e passou a jogar melhor quando entraram Corona e Diogo Jota e a equipa passou a jogar com extremos, num futebol mais apoiado. Antes, tentou jogar com bolas longas mas na vertente física mandava os campeões ingleses. Criou oportunidades mas não concretizou.

Antes da derrota com o Leicester, novo empate, agora fora para a 5.ª jornada da Liga, com o Tondela, num jogo em que o FC Porto deu 45 minutos de avanço. Entrou num 4-4-2 com Depoitre e André Silva na frente, com Otávio e Brahimi nas alas mas os laterais Layún e Alex Telles ficaram ´presos` aos extremos do Tondela e não subiram. A equipa ficou sem profundidade, o jogo pelo meio foi anulado pelo Tondela. No segundo tempo o FC Porto melhorou no 4-3-3 mas já era tarde.

525 minutos sem marcar

Seguiram-se cinco vitórias (quatro seguidas, intervaladas por um empate) antes de um período negro de seis empates e 525 minutos sem marcar qualquer golo. No empate 0-0 com o Setúbal na 9.ª jornada, o jogo pedia um jogador de área no segundo tempo já que a estratégia não estava a resultar mas Nuno optou por... um médio. No empate seguinte com o Benfica, a equipa fez um grande jogo mas, no segundo tempo, Nuno foi tirando avançados e colocando médios. O Benfica foi crescendo até empatar nos descontos. Frente ao Chaves para a Taça, a equipa não estava a render o que se esperava. Mas Nuno resolveu aguardar até ao prolongamento, altura em que lançou... Evandro e Layún, para os lugares de André André e Varela. Tarde demais. Foi penalizado nas grandes penalidades, num jogo onde faltou claramente criatividade, principalmente nos minutos finais do jogo e no prolongamento. Brahimi, que podia mexer com o jogo, ficou banco e de lá não saiu. Ninguém percebeu.

Numa altura em que o FC Porto já estava em crise de golos, vieram mais três encontros sem marcar. Em Copenhaga, Nuno optou por não arriscar nada e só mexeu na equipa depois dos 80 minutos para refrescar o meio-campo. O empate era bom mas a vitória seria melhor. Nos dois empates seguintes com o Belenenses faltou frescura física no nulo em Belém para a Liga e entrosamento nos que jogaram no segundo jogo no Dragão para Taça da Liga, mesmo a jogar com mais um durante 50 minutos. Mais do que a finalização, faltou criar oportunidades numa equipa muito previsível e sem imaginação.

A série negra de empates e jogos sem marcar teve o seu fim aos 92 minutos frente ao SC Braga, por um miúdo de 18 anos, num jogo onde o FC Porto jogou com mais um durante 60 minutos. O Dragão entrou no seu melhor período, com cinco vitórias seguidas, interrompidas pelo empate com o Feirense e derrota com o Moreirense para Taça da Liga. Frente aos de Santa Maria da Feira, faltou eficácia, mais uma vez, num jogo onde NES só fez duas substituições, em resposta ao golo do empate. Com o Moreirense, optou por retirar Boly e lançar um médio e, com isso, ´matou` o jogo ofensivo da equipa já que os laterais deixaram de subir, os extremos que entraram (Diogo Jota e Corona) não acrescentaram nada.

Jogadores fora de forma

Outro problema é a forma de alguns jogadores. Corona tarda em mostraro que vale, com exibições pouco convicentes, apesar dos muitos minutos. Herrera deve ser um dos poucos capitães de equipa que salta da equipa titular para a bancada sem ter qualquer problema disciplinar ou físico. O médio mexicano até já foi assobiado no Dragão e tarda em impôr-se numa equipa onde já foi titular indiscutível. Sempre que joga, raramente justifica a aposta, apesar de ser um dos melhores médios da equipa.

Nuno Espírito Santo tem de repensar a forma de jogar do FC Porto frente as equipas ditas pequenas. O FC Porto tem sempre grande volume de posse de bola mas cria poucas oportunidades. Circula muito a bola mas sempre de forma lenta, dando tempo à equipa adversária para se reorganizar. E quando cria oportundades, falha. A juventude dos homens da frente não explica tudo. Depoitre, que tem sido muito criticado, é quase sempre mal servido e mal aproveitado já que a equipa raramente cruza para tirar partido do seu jogo aéreo e da sua estatura. Corona não justifica a titularidade mas vem jogando quase sempre. Resumindo, é preciso ir ao mercado agora em janeiro para contratar um ponta-de-lança experiente, que garanta golos, e um extremo capaz de desbloquear o jogo da equipa. Até porque, durante um mês, não há Brahimi (vai estar no CAN2017 pela Argélia), ele que vinha a ser um dos melhores em campo nos derradeiros encontros.

A juventude do plantel, a falta de eficácia e os erros de arbitragem não justiicam tudo. O FC Porto tem de crescer e muito se quiser chegar ao título. Caso contrário, terá mais um ano de ´seca`. E já há paciência no Dragão para tanto tempo sem ganhar, num clube habituado a vencer.