O diretor de futebol de formação do Benfica, João Santos, assume que «as oportunidades que se permitem na equipa principal são reduzidas», ainda que a política do clube encarnado, tal como o presidente Luís Filipe Vieira pretende, passe por «formar para a equipa principal».

«As oportunidades surgem e é agarrar. As que se permitem na equipa principal são reduzidas, fruto da concorrência. Comparo o Benfica em exigência ao Real Madrid», disse o dirigente durante o painel “Na formação os compromissos semanais não comprometem a programação a longo prazo?” inserido no Fórum do Treinador, a decorrer no Porto.

Nélson Oliveira continua a ser, muito provavelmente, o caso mais flagrante de subaproveitamento. Foi o melhor marcador no Mundial de sub-20, o ano passado na Colômbia, e continua a ser pouco aproveitado na equipa de Jorge Jesus. Questionado sobre a oportunidade dada a Rodrigo, em comparação com o internacional português, João Santos fala em «contextos diferentes».

«Viu o percurso do Rodrigo? Seleção espanhol, formação espanhola muito mais exigente… Tem a ver com os contextos», frisou, ainda que admitindo que «o Nelson tem de jogar». «Há momentos em que sentimos que se não jogar regride. Dizia o Mário Wilson: “João, um bom jogador colocado num contexto de jogadores excelentes, pode ser excelente. Num mau, não vai deixar de ser bom, mas regride”».

Ainda que a equipa principal dos encarnados seja composta quase por estrangeiros, João Santos garante que na formação «há um estrangeiro por escalão».

Futebol de rua faz falta

Para Luís Castro, da formação do FC Porto, um dos principais problemas da formação começa nos escalões mais baixos, de sub-8, sub-9 ou sub-10.

«Não há em Portugal formação de técnicos nos primeiros escalões. Foi uma situação que fugiu à Federação, não sei porquê. Depois há a carga escolar, que é horrível. Não há ligação da Federação e dos clubes às escolas», sublinhou, lembrando que «há sete ou oito anos que não sai ninguém de topo da formação», como os casos de Cristiano Ronaldo ou Nani.

Durante a conversa foi lembrado o caso de Fábio Paim, um jogador por quem se dava muito e que se eclipsou.

«São promoções artificiais, para promover jogadores. Devemos esperar. No caso dele deve ter sido mal protegido, mal estruturado e depois há muitas variáveis que podem interferir na prática do futebol: os pais, os treinadores, os agentes», frisou Luís Castro.

Uma das situações que agrava esta situação nos escalões mais novos é a inexistência do chamado futebol de rua, onde muitos dos atuais jogadores de topo mundial começaram e por isso o FC Porto tenta minimizar essa situação.

«Temos de arranjar num treino de 1h30, 30 minutos de liberdade. Temos de ter esse espaço para eles porem as balizas da forma que querem. Já que a rua não lhes dá, temos de por em prática essas estratégias», explicou Luís Castro.