Pedro Proença acentuou hoje um perfil multifacetado dos relvados aos gabinetes com a eleição para novo presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), após 17 anos como árbitro de elite e uma década na Liga de clubes (LPFP).

Ao bater Nuno Lobo, líder cessante da Associação de Futebol de Lisboa, o gestor, de 54 anos, sucederá no quadriénio 2024-2028 a Fernando Gomes, ex-presidente da LPFP e agora candidato ao Comité Olímpico de Portugal (COP), de quem herda um forte legado.

O crescimento desportivo, financeiro, infraestrutural e institucional da FPF nos últimos 13 anos coincidiu com o auge de Proença, que passou de ‘juiz’ a artífice da revitalização da LPFP em 2015 e é o mais proeminente da nova geração de dirigentes desportivos lusos.

Eleito pela primeira vez em 28 de julho, ao vencer o antecessor Luís Duque, socorreu-se da licenciatura em gestão pelo Instituto Superior de Gestão e da experiência como diretor financeiro, empresário e administrador de insolvências para transformar três épocas de prejuízos num recorde de cerca de três milhões de euros (ME) de lucro logo em 2015/16.

Seguiram-se mais oito exercícios positivos, intercalados com uma dupla recondução sem oposição em 2019 e 2023, que fez dele o primeiro presidente da LPFP a ser eleito para três mandatos seguidos, reflexo da habilidade em gerar consensos sobre metas comuns.

Além da sustentabilidade financeira, o organismo criou e mediatizou a ‘final four’ da Taça da Liga e a conferência anual Thinking Football, iniciou os passos para a comercialização centralizada dos direitos audiovisuais dos jogos da I e II Ligas, que entrará em vigor até 2028/29, resistiu aos impactos da pandemia de covid-19 e atingiu em 2023/24 a melhor assistência em 12 épocas nos estádios da elite, com quase 3,7 milhões de espetadores.

Nem tudo foram boas novas para o setor, que, apesar dos mecanismos de licenciamento e fiscalização reforçados, teve clubes com salários em atraso, insolventes ou impedidos de inscrever novos atletas pela FIFA, enquanto Portugal perdeu uma vaga de acesso às provas europeias há duas temporadas, ao descer à sétima posição do ranking da UEFA.

Sem nunca abandonar o Porto, onde transitou há dois meses da antiga sede na Rua da Constituição para uma moderna arena na freguesia de Ramalde, com um investimento avaliado em 18 ME, a LPFP estava a consolidar essa gestão empresarial e a alimentar perspetivas de internacionalização quando Pedro Proença entrou na corrida à FPF, da qual era ‘vice’ por inerência, sob a intemporal divisa de unir a comunidade futebolística.

Essa afirmação institucional adensou-se em novembro de 2023, ao ser nomeado líder da Associação de Ligas Europeias, cuja administração já integrava desde 2015, passando a representá-la no Comité Executivo da UEFA, para o qual viria a ser indicado no final de janeiro por Fernando Gomes como candidato luso às próximas eleições daquele órgão.

Nascido em 03 de novembro de 1970, em Lisboa, Pedro Proença Oliveira Alves Garcia tornou-se associado do Benfica em pequeno e começou a sua vasta ligação ao desporto como andebolista, tendo passado pelas ‘águias’ e pelo Sporting, no qual se cruzou nos iniciados com Carlos Resende, recordista de golos e internacionalizações por Portugal.

Ao ser persuadido por um colega de escola a frequentar cursos de arbitragem, trocou os pavilhões pelo apito nos relvados dos escalões distritais lisboetas de futebol ainda antes dos 18 anos, repercutindo um percurso construído a pulso com as chegadas à primeira categoria em 2000, às insígnias da FIFA em 2003 e ao grupo de elite da UEFA em 2009.

Dos cerca de 400 encontros dirigidos, arbitrou 178 na I Liga portuguesa, entre 2000/01 e 2014/15, mais duas finais da Taça de Portugal, duas da Taça da Liga e três decisões da Supertaça Cândido de Oliveira, por entre 14 jogos entre os ‘grandes’ e seis galardões de melhor árbitro da temporada (2004/05, 2006/07, 2009/10, 2010/11, 2011/12 e 2013/14).

Proença impunha-se com um misto de autoridade e proximidade junto dos jogadores, a quem tratava carinhosamente por “meus queridos”, mas não deixou de ser criticado por erros arbitrais impactantes, tendo mesmo sido alvo de uma agressão de um adepto do Benfica num centro comercial de Lisboa, em agosto de 2011, que o obrigaria a enfrentar uma intervenção cirúrgica, antes de embalar para o período mais cintilante nos relvados.

Projetado além-fronteiras com a presença na decisão do Europeu de sub-19 de 2004, na estreia em fases finais, chegou à centena de jogos internacionais e dirigiu em menos de dois meses as finais da Liga dos Campeões de 2011/12, tal como logrou António Garrido em 1979/80, e do Campeonato da Europa de 2012, feito singular na arbitragem nacional.

Melhor ‘juiz’ do globo para a Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS) nesse inolvidável ano, Pedro Proença esteve ainda na Taça das Confederações de 2013 e no Mundial2014, mas não voltou às finais e fez os últimos jogos no Mundial de clubes, pousando o apito em janeiro de 2015, então com 44 anos, já a menos de um ano do limite etário, agraciado como o árbitro luso do século no âmbito do centenário da FPF.

Fiel ao cabelo aprumado e reluzente de gel, que lhe valeria a alcunha de ‘Gelinho’, o ex- membro do Comité de Arbitragem da UEFA formalizou essa despedida precisamente ao lado de Fernando Gomes, cuja sucessão assumirá com o apoio de figuras de diversos quadrantes sociais, deixando a LPFP dois anos antes do previsto e à beira de eleições.