O reeleito presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) disse hoje que este desporto, por vezes, é “muito injusto” e tem “demasiadas pedras artificiais colocadas pela mão humana para não o deixar prosseguir".
Luciano Gonçalves falava na tomada de posse dos órgãos sociais da APAF, que decorreu na Associação de Futebol do Porto, que tem os árbitros profissionais Artur Soares Dias e Luís Godinho como presidentes da Assembleia Geral e do Conselho Deontológico.
A cerimónia realizou-se no Porto por ter sido a mesa eleitoral que ali funcionou a que teve maior número de votos entre as 25 distribuídas pelo continente e ilhas, nas eleições realizadas em 23 de maio. Luciano Gonçalves encabeçou uma lista única e foi reeleito para um segundo mandato consecutivo com o lema "compromissos, rigor e união".
"As pedras são tudo aquilo que nos tira do nosso foco", explicou o dirigente associativo, dando como exemplo "as críticas destrutivas" que, em sua opinião, servem para fazer "perder tempo" no caminho para "formar melhor os árbitros". Essas "pedras no caminho" são colocadas por "mão humana", afirmou, sem detalhar.
Luciano Gonçalves disse que o "bem do futebol" impõe que todos os agentes do setor trabalhem em conjunto: "Se todos estivéssemos unidos, teríamos um futebol muito mais justo", considerou.
A grande prioridade da direção a que preside para os próximos quatro anos (2020-2024) é a formação. "Esta pandemia [de covid-19] veio por a nu um défice que existe na arbitragem" e que, no seu entender, é dos árbitros que se focam só no futebol e que depois, quando terminam a sua carreira, enfrentam problemas por não terem uma profissão.
"Temos de trabalhar na gestão financeira e nas carreiras duais. Os árbitros de futebol profissional constituem uma percentagem diminuta" num universo constituído por cerca de 4.800 árbitros (perto de 300 são mulheres), notou Luciano Gonçalves. "Existe para baixo uma base de 4.500 árbitros que precisam de ser apoiados em outras áreas".
O dirigente considerou que "outro projeto muito interessante é o reconhecimento da atividade de árbitro como uma profissão, seja profissional seja amador". Tal pressupõe "que os árbitros possam também declarar os seus rendimentos" obtidos nessa atividade, para poderem vir a ter baixas ou uma reforma futura.
"Merecemos isso e prometemos lutar até onde os árbitros estejam disponíveis", salientou
Luciano Gonçalves disse que um árbitro pode ter uma longa carreira, até aos 45 anos, sem ter tido outra atividade paralela, e "vai-se embora sem nada" e numa idade em que "para voltar ao trabalho é muito difícil".
O presidente da APAF acredita que o futuro da arbitragem pode ser melhor do que o presente, mas lembrou que há quatro anos, quando foi eleito para o cargo, também "esperava ter outros resultados", em especial quanto à "imagem que, erradamente, continua a existir do árbitro".
"Nós, arbitragem, também temos a nossa culpa" assumiu, considerando que o setor tem de perceber o que pode fazer para que a sociedade olhe como "não como aquele indivíduo que lhe estraga o dia depois de um jogo".
Luciano Gonçalves disse ainda que os árbitros estão "conscientes do estado em que se encontra o setor em Portugal, das dificuldades que persistem e da imagem social que os caracteriza, "erradamente", segundo disse: "Não se preveem tempos fáceis", antecipou.
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