
"Não consigo falar português, mas agradeço-lhe por ter descoberto Cristiano Ronaldo". Este comentário no YouTube, a propósito de uma entrevista recente de Aurélio Pereira a Rui Miguel Tovar, são elucidativos sobre o prestígio do 'detetor de talentos' que nos deixou aos 77 anos de idade. Alguns adeptos, em outros comentários, prosseguem nos elogios. "Se há homem que merece uma estátua em Alcochete é este senhor".
É indesmentível o legado do 'Senhor Formação' no Sporting. Aurélio Pereira foi responsável pela descoberta de estrelas como Cristiano Ronaldo, Luís Figo, Paulo Futre e Nani que marcou presença na cerimónia. E por isso foram muitas as figuras do futebol português, do plantel do Sporting, passando por todos os escalões de formação, dos sub-14, à equipa B e modalidades, que não quiserem falhar a homenagem.
Antes de seguir para o cemitério dos Olivais, o cortejo fúnebre parou junto ao estádio de Alvalade, na praça Centenário, numa última homenagem do Sporting ao caça-talentos. Durante a cerimónia reuniram-se centenas de pessoas, entre funcionários, jogadores e dirigentes. Frederico Varandas e João Palma, presidente da Mesa da Assembleia Geral, depositaram uma coroa de flores junto ao mural que foi criado em sua homenagem, num momento de comoção para todos os sportinguistas e amantes do futebol em geral.
Daniel Bragança: "Quando ele me elogiava parece que crescia dois palmos"
Daniel Bragança, um dos sub-capitães, e que serviu de porta-voz do plantel leonino, recordou com saudade as conversas com o antigo coordenador da formação, e a forma como os seus elogios lhe serviam "de gasolina". "Quando ele me elogiava parecia que crescia dois palmos, dava-me gasolina para continuar. É esse o respeito que ele conseguiu, por tudo o que fez, não só pelo Sporting, mas também pela formação, por Portugal. Mesmo tendo em conta a frágil condição, Daniel Bragança revela que ainda há duas semanas recebeu um telefonema de Aurélio Pereira com intuito de ficar a par da sua condição física, depois da intervenção cirúrgica ao ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. "Teve esse cuidado [com os jogadores] e por isso é que vai ser recordado", refere.
Nani, outra das pérolas dos leões, evocou a forma como sempre se sentiu apoiado pelo 'senhor formação' numa altura em tentava chegar ao profissionalismo. "Antes de me tornar profissional, tive de esperar dois anos para poder ser inscrito e o senhor Aurélio esteve sempre presente, a acalmar-me e a dar-me os parabéns pela minha atitude e comportamento, por não desistir e não perder o foco nos treinos".
Na praça centenário, a emoção esteve presente perante o legado e a marca indelével do antigo responsável pela formação. Palmas e o silêncio, em sinal de respeito, no lento cortejo, pautaram o momento solene pintado por um céu cinzento.
"Aurélio Pereira tinha um dom"
Tomaz Morais, diretor geral da formação do Sporting, fala mesmo num "dom" por parte do antigo funcionário do clube. "Era a forma como ele olhava para um jogador. Tinha a capacidade de olhar para um jogador e para tudo o que envolvia, estava dentro dele."
"Deixa uma marca extraordinária e o legado que deixa é de grande responsabilidade. É uma figura universal hoje em ia", elogia. Em relação à forma como o clube poderá incorporar o seu legado, atira. "Temos que incorporar os seus valores, queremos mais e melhores pessoas."
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