Esta quinta-feira é de balanço para os lados da Luz, com Rui Costa, presidente do Benfica, a falar sobre uma época em que as águias apenas conquistaram a Supertaça, logo a abrir a temporada, ficando depois muito aquém das expetativas, com as contratações a deixarem não corresponderem ao esperado e a contestação ao treinador Roger Schmidt a crescer gradualmente com o passar dos jogos, ao ponto de ser questionada a sua continuidade ao leme dos encarnados em 2024/25.
Schmidt fica para 2024/25
Apesar dessa contestação, Rui Costa começou a conversa com os jornalistas presentes no Seixal por garantir desde logo que o técnico germânico vai manter-se como treinador principal do clube.
"Acho que estão reunidas as condições para continuar a ser treinador do Benfica. Roger Schmidt vai continuar a ser treinador do Benfica. Nunca houve da nossa parte uma notícia contrária a isso. Se não considerasse que ele tivesse todas as condições para continuar a ser treinador evidentemente a minha opção seria até mais fácil, mais populista, mas acredito na estabilidade do projeto, acredito no treinador que já deu mais do que mostras da qualidade dele", começou por dizer o líder máximo das águias.
"O que foi feito na época passada não pode ser obra do acaso. Este ano efetivamente houve coisas que não correram como esperávamos e desejávamos, acabámos a temporada aquém do que eram as expectativas iniciais mas não faço nem nunca farei deste treinador um bode expiatório porque não foi o único responsável. Terá as suas responsabilidades também, como é óbvio e inerente, mas não é o único responsável de todo", acrescentou Rui Costa.
"O que nos importa agora é criar as condições necessárias e internas para que ele possa fazer o mesmo trabalho que fez há um ano e é com ele que tenho a máxima convicção de que iremos conquistar títulos no próximo ano. E é nesse sentido que já estamos a trabalhar há imenso tempo, para emendar o que não foi bem feito este ano, e para que possamos entrar na próxima época da mesma forma que entrámos há um ano", disse ainda.
"Confio plenamente neste treinador. E por que razão? É raro um treinador que está num clube e que prefere mesmo em termos comunicativos ser prejudicado ele, dar a cara ele, do que propriamente atacar o clube por esta ou aquela razão. Ele está completamente inserido no clube, com a máxima vontade de refazer o que não foi feito este ano. Houve muitas lacunas efetivamente. Desde logo em termos de mercado, não conseguimos ter o mesmo impacto que tivemos há um ano. Jogadores que chegaram no ano do título e tiveram um impacto imediato", referiu também sobre o técnico alemão.
A questão dos laterais
Outro assunto abordado na conversa de Rui Costa com os jornalistas foi a dos laterais, com a saída de Grimaldo, por exemplo, a não ser colmatada da melhor forma.
"Tivemos um problema de adaptação imediata de Jurásek, não vou esconder absolutamente nada, percebemos que estava a demorar a adaptar-se à responsabilidade de jogar no Benfica mas não deixámos de ir buscar um jogador que vinha completamente credenciado, como é Bernat. Em relação a Bernat, chegou ao Benfica, sim, com um problema em fase final de recuperação, uma recuperação que foi extremamente avaliada, chegou com uma lesão muscular que não impediria nunca a sua continuidade. E o facto é que nunca tivemos Bernat. Chega com 5 anos de Bayern Munique, PSG... e posso até dizer que chega com mais cartel do que aquele com que Grimaldo sai do Benfica", referiu Rui Costa.
"O facto de Grimaldo não ir à seleção espanhola tinha também a ver com o Bernat, que lá estava. Não quer dizer que seja melhor ou pior, mas Bernat chega com mais cartel do que aquele com que Grimaldo saiu. O que acontece é que não tendo Bernat quase no ano inteiro, fustigado com lesões raras na carreira dele, entre elas uma lesão grave, e ficamos sem lateral-esquerdo. Porque Jurásek não teve o rendimento que esperávamos, não tínhamos Bernat e se calhar por destino, ou infelicidade nossa, o Bah este ano fez praticamente meio campeonato", prosseguiu.
"Estivemos praticamente grande parte da época sem os laterais de raiz, quer de um lado quer do outro, onde Roger Schmidt teve de acabar por improvisar. É um erro crasso, assumido. Todas estas circunstâncias impediram que as rotinas que tivemos no primeiro ano de Schmidt, bem vincadas, acabassem por ser inseridas, introduzidas, porque foi quase mexer na equipa constantemente para dar um equilíbrio face ao que foi acontecendo ao longo do ano e face às nossas falhas. Seria mais fácil para mim dizer: tive lesões daqui, lesões dali, o que podia fazer? Se calhar devíamos ter feito mais e não conseguimos. Aqui tivemos muitos problemas e obrigámos o nosso treinador a ter de improvisar muitas vezes para equilibrar a equipa e até ser contestado por isso muitas vezes sem ter responsabilidade de ser médico, jogador e tudo e mais alguma cosia", concluiu.
A contestação por parte dos adeptos
Rui Costa também falou sobre a contestação crescente por parte dos adeptos, da qual ele próprio chegou a ser alvo.
"Acredito que este ano tenha sido um ano de grande frustração [para os adeptos] pelo facto de as expectativas terem sido bem altas. Éramos campeões nacionais e começámos a época com as expectativas bem lá em cima, começámos por ganhar a Supertaça, tínhamos reforços de peso. A frustração da parte dos nossos adeptos está dentro da exigência que é natural num clube como o Benfica", disse.
"Mas vamos partir para uma época nova e tenho a certeza absoluta que não há um benfiquista que não queira começar bem, a lutar pelo título, e que haja essa divisão. É o meu apelo e a minha convicção. Este ano houve episódios que não foram bonitos, é inegável, e aceito e respeito as contestações. Há um limite para elas e não beneficia ninguém, não beneficia quem está dentro de campo, como é óbvio. Não é nesse clima que se consegue expressar da melhor forma", frisou.
"Custou-me muito, não a contestação, os assobios, mas o dia do jogo com o Farense em casa. Provavelmente, por não estar habituado. Extrapulou-se a contestação. Não vou esconder a irritação com que o treinador estava. Foram ultrapassados limites, custou-lhe aceitar isso. E temos de aceitar que lhe tenha custado. Foi a pessoa que levou com a garrafa e não foi agradável. Temos de aceitar também, que são seres humanos, que pode haver um momento de alteração", concluiu.
Kokçu não foi contratação falhada
A conversa prosseguiu, depois, para a política de contratações do Benfica na época que agora termina, com Rui Costa a debruçar-se sobre Kokçu.
"Se me perguntarem pessoalmente o que considero de Kökçü, digo que gosto ainda mais dele hoje do que o que gostava há um ano quando o vi. É um jogador com características fantásticas, qualidade fantástica e que não conseguiu expressar ao máximo o seu potencial. Mas acho que é inequívoco e que todos consideram que Kökçü é um jogador de nível elevadíssimo. O dinamismo da equipa, a forma de jogar da equipa não beneficiou muitas vezes as suas principais características mas isso também faz parte de todos os jogadores", lembrou.
"E não esquecer que há aqui o aparecimento de um miúdo que acabou por se afirmar de uma forma clara, que se chama João Neves, e nós não conseguimos meter 14 jogadores em campo. Isso não invalida que estejamos perante um jogador de enormes qualidades e que tenho a certeza que terá um futuro brilhante porque tem caráter, tem carisma, tem qualidade. É um ativo do Benfica e temos todo o orgulho nisso", acrescentou.
Di María pode ficar mais um ano...ou não
Regressado no início da temporada ao Benfica, Di María assinou contrato por apenas uma época e Rui Costa explicou que ainda não sabe se o argentino vai prosseguir de águia ao peito em 24/25.
"Ele assinou por um ano porque na cabeça dele queria deixar de jogar na Europa e depois queria terminar a carreira na Argentina. Por razões que vocês conhecem, que foram públicas, esta posição da Argentina já não está tão delineada quanto isso", explicou.
"Para a semana iremos ter uma reunião com o representante do Di María, onde iremos perceber se continua mais um ano ou não. Não consigo dizer hoje se fica ou não fica. Temos essa esperança, mas para o início da próxima semana teremos uma reunião decisiva para decidir isso", anunciou.
Investimento a pensar também noutras épocas
O elevado investimento feito pelas águias esta época também foi tema de conversa.
"O Benfica investiu 100 milhões em ativos, não os lançou à rua. Há esse estigma, da quantidade de dinheiro investido. Temos a convicção que a prioridade será sempre desportiva, quando se investe é a pensar em resultados desportivos. O Benfica tem jogadores jovens que serão mais valias desportivas e talvez mais tarde financeiras, mas a prioridade será sempre desportiva", frisou.
"Tentámos contratar jogadores em janeiro que acreditamos serão mais valias no futuro, como Marcos Leonardo que eventualmente se vai impor. Investimos e não ganhámos, não posso fugir a isso, mas não investimos para meses, investimos em ativos para o clube. Benfica não vai investir todos os anos 100 milhões de euros. Fizemos uma redução de ativos nos últimos anos, procurando criar um núcleo de jogadores, protegidos por jogadores mais experientes como Otamendi, Di María, João Mário, Aursnes, criar um núcleo de ativos válidos desportivamente, jovens de grande valor que possam ser uma mais valia para o clube desportiva e só mais tarde financeiramente. Se virem a média de idades do clube, percebem que a renovação teve um sentido", lembrou.
"Quando se fala dos 100 milhões, percebo o adepto e o próprio jornalista quando refere que 100 milhões é para ganhar tudo, mas muitos destes investimentos são para o futuro. Tivemos o propósito de antecipar o mercado", concluiu.
João Neves na flash interview após derrota com o FC Porto
Um dos momentos que marcou a época do Benfica foi a derrota por 5-0 no Estádio do Dragão, ante o FC Porto. No final dessa partida foi João Neves, poucas semanas após ter perdido a mãe, a dar a cara e a falar na flash interview, decisão que gerou alguma polémica.
"Ninguém vai esquecer esse jogo. Qualquer jogador poderia ter dado a cara. A situação de ter sido o João [Neves] a ir ao flash, pode ter incomodado muita gente, mas não incomodou o João , antes pelo contrário. Às vezes são mensagens deixadas para dentro, que para fora não são tão percebidas. Mas para dentro essa mensagem foi dada", sublinhou Rui Costa.
"Vi muita gente preocupada por ter sido o João Neves a falar nesse jogo, naturalmente, quem deveria ter falado nesse jogo era o capitão de equipa, o Otamendi, que não o poderia fazer, pois estava castigado, tinha sido expulso. Foi um jogo complicado, difícil, que nos marcou bastante, mas em relação ao João Neves deixem-me dizer-vos que não conhecem a personalidade deste rapaz, o perfil dele no balneário, e posso dizer que é bem marcante. Mesmo nesta idade é um líder nato e tenho a certeza absoluta, que a posição de colocar o João [Neves] a falar naquele jogo, é também uma mensagem para dentro. O João não ficou incomodado por ter falado, por ter sido ele a dar a cara, antes pelo contrário", prosseguiu.
Gyokeres não foi hipótese porque havia Gonçalo Ramos
Um dos problemas do Benfica na temporada foi a falta de eficácia dos seus avançados, depois da saída de Gonçalo Ramos. Rui Costa reconheceu que o Benfica chegou a seguir Gÿokeres, mas que a contratação do agora jogador do Sporting não foi equacionada por Gonçalo Ramos ainda estar no plantel na altura.
"Sinalizados pelo scouting do Benfica estão centenas de jogadores. Resta saber se naquele momento precisamos ou não de alguém para aquela posição. Falou-se tanto desse caso, que o tínhamos sinalizado e perdemos. Nós nunca atacámos porque na altura não precisávamos pois tínhamos o Gonçalo Ramos, que sai muito depois de o Sporting o ter contratado. Nem sequer é uma questão. Se calhar se for ali aos armários do scouting tem lá o Messi referenciado há uns anos quando estava na equipa B do Barcelona", explicou.
"Muitas vezes fala-se das coisas como se fosse um erro brutal, nem sequer se colocou isso em questão porque naquela altura não precisávamos de um avançado porque tínhamos o Gonçalo Ramos, ponto final parágrafo. Há muitos jogadores referenciados que não chegam ao Benfica e depois chegam a clubes grandes, como acontece com todos os outros clubes. Isso é algo normal pois não se pode comprar toda a gente", explicou Rui Costa, admitindo que o rendimento dos pontas-de-lança em 2023/24 ficou aquém do esperado", reforçou.
"Não é normal numa equipa como o Benfica o ponta-de-lança não ultrapassar os 10 golos numa época. Indiscutivelmente também foi um problema que sentimos na equipa e por isso essas tais rotações de avançados à procura da melhor solução, quer para fazer golos quer para se inserir com o resto da equipa. Não significando isto, e repito e quero deixar bem claro, que seja por ausência clara do jogador mas muitas vezes por adaptações ou o que quer que seja. Recordo que o Darwin quando chegou ao Benfica, o primeiro ano não foi tão produtivo como o segundo. O próprio Gonçalo Ramos quando partiu para a época passada como titular a número 9 havia muita dúvida de muita gente se estava pronto pois na época anterior tinha feito meia dúzia de golos", lembrou o líder máximo das águias.
Saída de Rafa e a questão financeira que não deixa dar garantias sobre António Silva ou João Neves
Adeus confirmado ao Benfica na presente época é o de Rafa, assunto também abordado por Rui Costa.
"Tentei manter Rafa como tentei Grimaldo. Os jogadores às vezes decidem procurar outros desafios, desportivos e financeiros. Tentámos, não conseguimos manter, mas respeitamos a decisão. Desejamos as melhores felicidades ao Rafa", disse.
"João Neves e António Silva? Nunca porei o clube na posição financeira que esteve há uns anos, não sou louco. Não penso o próximo que vier que feche a porta, jamais farei isso ao meu clube. Todos os clubes têm necessidade de vender, mas a estratégia é vender o mínimo possível. Benfica nunca incumpriu com fair-play financeiro e assim vai continuar", apontou.
Negadas conversas com Mourinho
José Mourinho chegou a ser falado como possível substituto de Roger Schmidt como treinador principal do Benfica. Rui Costa negou ter estado em contacto com o 'Special One'.
"Nunca falei com Mourinho, ele próprio admitiu isso. A última vez que estive com José Mourinho até foi numa situação pesada infelizmente, velório de Artur Jorge. Não falamos desse assunto. Acho que Mourinho merece todo o respeito do mundo", afirmou Rui Costa.
"Quem disser em qualquer clube que não pensa em plano B e C está a mentir. Mesmo que a minha convicção seja que Schmidt seja o melhor treinador para o Benfica neste momento, prepara-se sempre um plano B ou C", acrescentou, contudo.
Os processos judiciais
A fechar, Rui Costa falou igualmente dos vários processos judiciais que envolvem o Benfica, alguns dos quais com o seu nome também referido.
"A auditoria está finalizada. Demorou muito mais do que esperávamos inicialmente, mas porque foram analisados 51 contratos, que faziam parte do processo Cartão Vermelho. Finalmente está concluída, teve uma série de complementos para poder ser uma auditoria completa, ocupando várias geografias, já foi apresentada à administração do clube e será agora entregue ao MP e apresentada aos sócios como prometido. Em relação ao processo atual, tudo o que está neste processo não está na auditoria, mas assim que tomámos conhecimento do processo, mandámos abrir uma auditoria nova sobre todos os contratos que possam estar incluídos neste processo", afirmou.
"A última coisa que quero é que não se saiba o que realmente se passa. Eu era administrador executivo, não vice, foi nessa condição que fui chamado. Prestei todos os esclarecimentos que me pediram. Desconheço por completo qualquer plano que visasse prejudicar o Benfica, não quero tão pouco pensar porque caso contrário não fazia sentido eu continuar no Benfica naquela altura e muito menos estar hoje nesta cadeira", acrescentou.
"Não caí aqui de paraquedas, sirvo o Benfica desde os 8 anos. Tenho a consciência plenamente tranquila. Sei muito bem o que faço no Benfica, na minha vida, e se há coisa que não permito é que se mexa com a minha honra, a minha idoneidade e a minha lealdade a este clube", terminou.
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