Quando Rui Vitória foi anunciado como novo treinador do Benfica, em substituição de Jorge Jesus que se tinha "desertado" para o rival Sporting, muitos adeptos ´encarnados` "torceram o nariz" por essa escolha. O técnico natural de Vila Franca de Xira trazia no currículo uma Taça de Portugal, conquistada exatamente frente ao Benfica de Jesus na época 2012/2013 no Jamor e um título de campeão na Segunda Divisão ao serviço do Fátima.

O trajeto de Rui Vitória no futebol português foi feito à base de muito trabalho, sempre com bons resultados. Começou no Vilafranquense, clube que representou como jogador em nove temporadas. Integrou depois os quadros do Benfica para dirigir a equipa de juniores do clube da Luz durante duas épocas, antes de se mudar para o Fátima onde esteve quatro anos. Antes de pedir licença sem vencimento para treinar o Paços de Ferreira e ver no que dava, o técnico de 45 anos era professor de educação física.

O Paços Ferreira foi o salto seguinte. Na Mata Real deu continuidade a sua evolução como técnico, tendo deixado os "castores" à beira da Europa. Por apenas um ponto o Paços não se apurou para a Liga Europa, numa época em que terminou no sétimo posto (2010/2011). Ainda iniciou a época seguinte mas o Vitória de Guimarães acabou por convence-lo a mudar-se para a Cidade Berço. No Minho, Rui Vitória tinha um "mina" de diamantes prontos a serem lapidados. Voltou a ficar às portas da Europa (6º lugar), numa temporada em que foi eliminado nos play-offs de acesso à Liga Europa pelo Atlético Madrid. Pelo meio perdeu a Supertaça para o FC Porto.

No segundo ano na Cidade Berço, Rui Vitória terminou no 9º lugar (época 2012/2013) mas deu uma alegria enorme aos sedentos e exigentes adeptos do Vitória de Guimarães. A conquista da Taça de Portugal frente ao Benfica foi o culminar de uma época de altos e baixos a nível de resultados mas muito produtivo a nível de formação de atletas. Jogadores como Tiago Rodrigues, Paulo Oliveira, Ricardo Pereira, André André, Hernâni, cresceram e muito com Rui Vitória. Foram todos vendidos aos "grandes", permitindo encaixes financeiros significativos, num clube que estava mergulhado numa grave crise financeira.

A Taça de Portugal conquista ao Benfica colocou os minhotos na fase de grupos da Liga Europa em 2013/2014 mas uma vitória, dois empates e três derrotas não foram suficientes para seguir em frente. O esforço na Liga Europa foi tremendo e a equipa acabou por pagar um preço alto na Liga, onde terminou apenas no 10º lugar. Em 2014/2015, com a equipa concentrada apenas no campeonato, o Vitória de Guimarães voltou a terminar no 5º posto, atrás apenas de Benfica, FC Porto, Sporting e SC Braga. Terminava aqui a aventura no Minho já que um desafio maior estava à espera deste ribatejano de 45 anos.

O começo na Luz não foi fácil. Uma pré-época feita com as malas às costas e uma preparação deficiente fizeram com que o Benfica perdesse nas primeiras saídas: Supertaça no Algarve frente ao Sporting, Arouca e FC Porto para a Liga e Galatasaray para a Champions. Na Luz, Rui Vitória teve de inventar fórmulas para sobreviver a tudo: um plantel mais fraco que nos anos anteriores, lesões, e os frequentes ataques de Jorge Jesus. Resistiu a tudo e arranjou soluções para todos os problemas.

Sem Maxi, que foi para o rival FC Porto, Rui Vitória lançou Nélson Semedo para a ribalta, até uma lesão afastar o lateral do onze. No centro do terreno, teve em Jardel a trave mestra de uma defesa quase imbatível na Liga. Com Luisão lesionado por mais de cinco meses, foi Lindeloff a saltar da equipa B e agarrar o lugar. No meio-campo apareceu um miúdo de 18 anos que passou dos sub-19 para a equipa principal, encantando meia Europa. Renato Sanches foi uma das principais descobertas de Rui Vitória mas também um dos elementos que veio dar consistência num sector que começou com Pizzi ao lado de Samaris mas estabilizou com Fejsa e Renato Sanches, relegando Pizzi para a ala.

Na Luz, Rui Vitória bateu recordes atrás de recordes: ultrapassou o número de triunfos seguidos de Jorge Jesus numa época na Luz para a Liga (12), passou a ser o técnico português com mais jogos sem derrotas fora de portas pelo Benfica (15) e chegou as 29 vitórias numa única edição da Liga, batendo assim Toni (27 em 1988/89), Jesus (27 em 2014/15) e Jimmy Hagan (28 em 1972/73). Só Sven-Goran Eriksson com 32 triunfos em 1990/91 fez melhor.

Além de ter chegado aos quartos-de-fnal da Liga dos Campeões e ter dado muita luta ao poderosíssimo Bayern Munique, Rui Vitória formou uma equipa onde todos acreditam na vitória, onde há uma união e crença que há muito não se via pelos lados da Luz. A eficácia de Jonas, o faro de Jiménez, a inteligência de Gaitán e a segurança de Jardel ajudaram os "encarnados" a chegarem ao tão desejado tricampeonato, o 35º da história do clube, num ano em que o investimento foi o menor das últimas sete temporadas.

Na Liga, as "águias" só perderam para o Sporting, Arouca e FC Porto. Aliás, os "dragões" foram os únicos que não perderam com os "encarnados", tendo ganho os jogos na Luz e no Dragão. Pelo meio, apenas um empate, um 0-0 fora frente ao União. Nos 34 jogos realizados na I Liga, o Benfica venceu 29, empatou um e perdeu quatro. Marcou 88 golos e sofreu apenas 22. Nos 51 jogos oficiais da época em todas as provas, o Benfica venceu 39, empatou três e perde nove. Marcou 116 golos e sofreu 40.

O homem a quem Jesus disse que não o considerava treinador e que duvidava que tivesse ´mãos` para o Ferrari chamado Benfica, acaba de levar o clube ao 35º título de campeão, numa longa maratona ganha ao Sporting. É caso para dizer que, afinal, este ribatejano até tem ´mãozinhas` para o Ferrrari.

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