Roger Schmidt marcou presença no 'Thinking Football Summit' no Porto. O treinador do Benfica falou sobre o processo defensivo da sua equipa e deu dois exemplos distintos. O alemão explicou as suas opções na Supertaça de Portugal, ganha ao FC Porto e abordou ainda sobre as dificuldades do Benfica no final da época passada.

Pode-se ganhar sem envolver todos os jogadores no processo defensivo? "Para nós é impossível. Se quisermos jogar na nossa forma, não podemos deixar jogadores de fora do trabalho sem bola. Quando queremos pressionar, tem de ser alto, logo nos atacantes. Num futebol moderno, precisamos de onze jogadores que sejam fiáveis no comportamento tático. Os defesas são os mais envolvidos nisso, mas espero a mesma coisa dos atacantes. O mesmo mindset, mas dois níveis à frente. Vejo muitos bons exemplos: se olharmos para o Manchester City, que venceu no ano passado a Liga Inglesa e a Liga dos Campeões, os jogadores de ataque deles não são preguiçosos. Estão sempre atrás da bola e fazem a diferença porque têm qualidade individual. Se virem o Paris Saint-Germain, uma equipa que defrontámos na época passada, com Mbappé, Neymar e Messi na frente, mas eles não fazem nada para recuperar a bola. Com esse pensamento podem ganhar a Ligue 1, mas no futebol internacional precisamos de todos."

Na Supertaça com o  FC Porto abdicou de um avançado-centro: "Acho que foi uma boa ideia, porque ganhámos a Supertaça. Percebo o que quer dizer. Pensei muito sobre essa decisão: acordei de manhã, no dia da Supertaça, e nao tinha a certeza, tinha tudo em aberto até ao último segundo. O Gonçalo Ramos tinha saído para o PSG e precisávamos de uma solução para este jogo. Estava a pensar que jogadores podia colocar. Podia jogar direto com um ponta de lança, como o Musa ou o Tengstedt. Mas a minha decisão foi diferente. Na verdade, a diferença foi ter colocado o Fredrik [Aursnes] como segundo atacante. Ter alguém ao lado do Rafa a pressionar e criar uma compensação. O jogo começou, o FC Porto esteve muito bem no início, nós não entrámos bem. Depois, com o passar da primeira parte, começámos a controlar e nos últimos 60 minutos estivemos muito bem. Ao intervalo mudámos ao colocar um avançado na frente e acabámos por ganhar o jogo. Temos de tomar decisões antes do jogo, é a diferença para as pessoas que trabalham na imprensa ou para os adeptos. Eles podem discutir depois, mas eu decidi pelo Rafa e o Fredrik na frente. Foi uma boa decisão."

Que jogos viu da Liga Portuguesa antes de assinar pelo Benfica? "Para ser honesto, não foram assim muitos. Quando decidi terminar a minha ligação com o PSV e começar um novo desafio e o Benfica começou a ser uma boa opção para mim, claro que comecei a ver alguns jogos do Benfica, da Liga dos Campeões e do campeonato para ver o valor do plantel e das equipas. Para mim, as coisas começam quando eu chego. Tenho uma ideia de jogo e tento ser aberto ao ponto de ajustar à cultura do clube e aos jogadores que tenho ao meu dispor. Por esse motivo é que eu não vi todos os jogos. Estava focado em começar desde o zero, o que também acaba por ser bom para os jogadores, como se viu. Vi alguns jogos, sim. Mas não assim tantos."

Adaptação à Liga Portuguesa: "Acho que não podemos falar da Liga como um todo. Cada clube tem o seu estilo de jogo e abordagem. Obviamente que nesta altura acho que muitas equipas jogam com cinco ou quatro defesas e isso aconteceu na última época. Se o adversário estiver a defender em profundidade há muitos defesas perto da área e que existem poucos espaços. Temos de fazer as acelerações certas e encontrar esses espaços. Há momentos nos jogos em que existem ritmos diferentes. É importante encontrar soluções contra defesas que têm a última linha mais atrás."

Análise ao jogador português: "Têm boas habilidades técnicas, há muitos bons jogadores, com toque de bola. O que mais gosto é que são muito abertos, adoram jogar futebol, e isso, para mim, como treinador, é ótimo. Trabalham muito, especialmente a vertente técnica, gosto. Os jogadores portugueses são capazes de jogar esse futebol."

Dificuldades do Benfica na fase final da Liga 2022/23:"É muito fácil analisar-nos porque jogamos sempre da mesma forma. Como treinador, podemos ter diferentes abordagens e ideias para cada jogo. É importante termos as nossas próprias ideias e não mudarmos consoante o adversário. Na Liga dos Campeões tentámos sempre sermos nós mesmos. Se virem o Benfica a jogar, não jogamos com um estilo diferente a cada semana que passa, mas nos adaptamos. Nesta época, jogamos da mesma forma que jogámos na última época. Fizemos alguns ajustes apenas. Não ganhamos todos os jogos, mas conseguimos ser competitivos na maioria deles e implementar o nosso estilo de jogo."

Prémio de melhor treinador da I Liga 2022/23: "O que posso dizer? Estou muito feliz por receber este prémio. Este prémio é em nome do Benfica, dos meus jogadores, de todo o meu staff. Estou muito feliz por este prémio."

*Artigo  corrigido e atualizado (Schmidt é alemão e não neerlandês como anteriormente referido).