Costuma dizer-se que os campeonatos ganham-se contra os pequenos e perdem-se contra os grandes. Jorge Jesus parece ter ouvido com atenção o conselho popular: o Benfica ganhou o campeonato e conseguiu, por vezes com mais engenho do que arte, não o perder.

Em primeiro lugar, os "encarnados" pouco escorregaram nos duelos com os menos favoritos. Ainda perderam três vezes, todas elas no norte (em Braga, Paços de Ferreira e Vila do Conde), mas apenas empataram em jogos com os grandes rivais. Segundo o tal lugar-comum, o Benfica ganhou então aí o campeonato.

Onde não o perdeu foi nos duelos com FC Porto e Sporting: em quatro jogos, o Benfica apenas ganhou um (e logo no Dragão, por 0-2), mas não perdeu nenhum. Empatou três. Soube abdicar da tal "nota artística" quando necessário para evitar pequenos desastres com potencial para criarem um grande desastre.

Pouco se incomodou quando, em pleno Estádio da Luz, dividiu pontos contra Sporting (1-1) e FC Porto (0-0, num jogo que a equipa de Lopetegui já precisava de vencer com urgência). O importante era evitar "momentos Kelvin" que pudessem deitar tudo a perder para os lados da Luz. Para isso, Jorge Jesus transportou a maturidade que adquiriu ao longo dos anos para o relvado e apresentou equipas realistas e menos explosivas.

Para encontrarmos uma época igualmente invicta frente aos rivais temos de puxar a cassete bem atrás. Até 1993/94, numa altura em que o Benfica disputava a Taça das Taças e o campeonato contava com Famalicão, Salgueiros e Estrela da Amadora. Já lá vai algum tempo, portanto. Toni comandava uma equipa que tinha João Vieira Pinto como principal estrela.

Depois de dois anos de domínio do FC Porto, o Benfica voltou então a sagrar-se campeão e para isso muito contribuíram também os quatro "clássicos": duas vitórias frente ao Sporting (2-1 na Luz e um histórico 3-6 em pleno Estádio de Alvalade), um empate e uma vitória contra o FC Porto (3-3 nas Antas e 2-0 na Luz) permitiram ao Benfica terminar o campeonato com mais dois pontos do que o FC Porto. Quatro duelos determinantes para levantar o troféu no final da época.

Seguiram-se 20 épocas com, pelo menos, uma derrota em "clássicos" para o campeonato, até chegarmos a 2014/15: pela primeira vez na era Jorge Jesus, e mesmo na era Luís Filipe Vieira, o Benfica conseguiu manter-se imbatível nos grandes duelos do futebol português.