O antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho disse hoje em tribunal que, se o treinador Jorge Jesus não tivesse retirado “algumas medidas de segurança”, a invasão à Academia de Alcochete não teria sido possível.

“Nada disto teria acontecido se as medidas de segurança que eu tinha implementado não tivessem sido retiradas”, afirmou, explicando que Ricardo Gonçalves, chefe de segurança à data dos acontecimentos (15 de maio de 2018), lhe disse que Jorge Jesus mandou retirar no início da época, à sua revelia, algumas medidas de segurança que tinham sido implementadas, como o cartão de passagem pelas portas eletrónicas.

Na 35.ª sessão do julgamento que decorre no tribunal de Monsanto, em Lisboa, o ex-presidente do clube de Alvalade vincou ainda ter sido “sempre contra” a ida de adeptos ao centro de treinos dos ‘leões’ e que essa situação só foi possível devido a um precedente aberto pelo antigo técnico do clube.

“O grande mal foi, em dezembro de 2017, depois de eu ter dito não, o senhor Jorge Jesus ter dito sim, nas minhas costas, e deixar as claques entrarem na academia”, adiantou, acrescentando: “O problema é a primeira vez, e no meu mandato aconteceu uma vez e à minha revelia.”

Nesse sentido, o antigo líder leonino revelou ter chamado de seguida o treinador Jorge Jesus e lhe ter dito que, “na próxima vez” que o desautorizasse, “ia para a rua”.

Paralelamente, Bruno de Carvalho assegurou não ter sido responsável pela alteração da hora do treino de dia 15 de maio de 2018 para a tarde, atribuindo essa decisão a Jorge Jesus na reunião da véspera.

“Nem sugeri, nem tinha de a sugerir [a alteração da hora de treino]. É uma invenção total. Foi ele que, falando com o [adjunto] Raul José, explicou que poderia receber um ‘papelinho’ [nota de culpa] a dizer que estava suspenso. Eu respondi que ia reunir com a equipa jurídica de manhã, mas que isso não queria dizer que havia papelinho. O que ele entendeu é que de manhã vão fazer o papel, por isso passou o treino para a tarde”, resumiu.

Já na parte final do depoimento, o antigo presidente disse que foi o “único despedido no meio disto tudo”, admitindo que no dia 14 de maio queria despedir duas pessoas: “Um acabou condecorado [Jorge Jesus] e outro é hoje presidente [Frederico Varandas]”.

Por outro lado, Bruno de Carvalho referiu na sessão de hoje a existência de mal-estar entre Jorge Jesus e o plantel, ao revelar o que disse aos jogadores na reunião, do dia seguinte à derrota (2-1) frente ao Marítimo.

“Na reunião de 14 de maio queria dizer aos jogadores que o Jorge Jesus não ia ser mais o treinador e até queria dizer mais: ‘Sei que vão todos fazer um jantar de comemoração’”, afirmou.

Finalmente, o ex-presidente do Sporting contestou a acusação da autoria moral dos 97 crimes formulada pelo Ministério Público e a ideia de que ele seria responsável por juntar as pessoas em Alcochete a uma hora específica para serem alvo do ataque.

“As pessoas todas trabalhavam na Academia. Uma possível teoria em que eu juntei as pessoas para serem agredidas não faz sentido. Não atraí ninguém que não trabalhasse na Academia. Não fiz nada de nada”, concluiu.

O processo da invasão à Academia tem 44 arguidos, acusados de coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo. Bruno de Carvalho, ‘Mustafá’ e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.

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