A “irreverência” do Sporting irá opor-se à “agressividade positiva” do rotinado FC Porto, projetou o treinador Augusto Inácio, dispensando prognósticos conclusivos sobre o ‘clássico’ da quarta jornada da I Liga de futebol.
“Ninguém sabe como é que os jogadores vão chegar desta pausa das seleções, como é que os novos reforços se vão entrosar com a equipa e as ideias do treinador e que consistência será apresentada pelas equipas. É uma grande incógnita estar a falar neste jogo sobre as possibilidades de cada um”, partilhou à Lusa o técnico, de 65 anos.
Os ‘leões’ abriram a época com triunfos nas visitas a Paços de Ferreira (2-0) e Portimonense (2-0), mas foram afastados do ‘play-off’ da Liga Europa pelos austríacos do LASK Linz (4-1), um desfecho “péssimo a todos os níveis”, mas imutável nos habituais níveis de pressão e responsabilidade em redor de um plantel carregado de juventude.
“Os miúdos mostraram grande personalidade até aqui e têm feito algumas coisas muito boas, mas só por fogachos de tempo e ainda lhes falta experiência. Os primeiros 20 minutos em Portimão foram muito bons, mas a partir daí faltou consistência exibicional, talvez por falta de condição física, para manter aquele nível e ritmo”, analisou.
Augusto Inácio, ex-jogador, treinador e dirigente e confesso adepto ‘verde e branco’, acredita numa “grande campanha” em 2020/21, apesar de “essa marcha poder ser influenciada por outras coisas”, como a “luta interna por causa da guerrilha das claques”, que os atletas “não podem sentir de forma tão veemente como se passa cá fora”.
“Já se percebeu que o Rúben Amorim não vai muito à bola com o Andraz Soprar e faz falta aquele ponta de lança que dê profundidade, jogue de cabeça dentro da área e permita à equipa ter outra abordagem quando as ideias do treinador não dão certo”, avisou o timoneiro que desfez um jejum de títulos de 18 anos dos ‘leões’ em 1999/2000.
Sendo “uma incógnita até onde este Sporting pode ir”, o antigo internacional luso deseja uma estrutura “focada em trabalhar, jogar e tentar ganhar” desafios numa prova de regularidade em que “a força de Benfica e FC Porto é maior”, enquanto o reforço João Mário “assimila novas dinâmicas”, embora “saiba o ambiente que já viveu” em Alvalade.
“Se o sistema fosse 4-3-3 ou 4-2-3-1, saberia explicar a sua posição. Sendo um 3-4-3, já obedece a um critério que só o treinador poderá saber. No tempo do Jorge Jesus, o João Mário jogava de dentro para fora, agora pode jogar de fora para dentro do lado direito ou como segundo homem do meio-campo com João Palhinha ou Matheus Nunes”, avaliou.
No primeiro ‘clássico’ da temporada, Augusto Inácio prevê que o Sporting “se recolha mais e atue no contragolpe”, usufruindo da mobilidade de Jovane Cabral, perante um FC Porto que “se reforçou melhor” e quer confirmar que a derrota caseira frente ao Marítimo (3-2) “foi só um acidente de percurso numa tarde em que as coisas não correram bem”.
“Zaidu tem grande futuro como defesa esquerdo. É difícil comparar com a classe do Alex Telles, mas veremos se consegue ser mais perfeito e mostrar capacidade de cruzamento e de último passe para o golo. Uma coisa é jogar no Santa Clara, em que pode acertar uma e falhar duas. No FC Porto, tem de acertar duas e só falhar uma”, ilustrou.
As mexidas de última hora no defeso ofereceram um “plantel mais equilibrado” aos ‘dragões’, permitindo que Sérgio Conceição vá explorando diversas opções setoriais, atendendo à densidade competitiva que enfrentará a partir de sábado, com sete duelos em 23 dias, incluindo metade das aparições na fase de grupos da Liga dos Campeões.
“Em nome, os jogadores que o FC Porto contratou são bons. Em competição, ainda não os vi e não posso dizer se o clube fica mais forte ou mais fraco. Aquela intensidade de quererem mostrar serviço ao treinador pode levá-los a cometer erros e também pode ser bom, ao estarem ali prontos para se ‘matarem’ em prol de um lugar na equipa”, notou.
No ataque, o defesa campeão europeu e mundial pelos ‘azuis e brancos’ em 1987 enaltece as contratações de Mehdi Taremi, “mais posicional, de toque e finalização”, e de Toni Martínez, “combativo, um cão a trabalhar e o primeiro a pressionar sem bola”, pois ambos “dão uma frescura técnica que não havia” com Aboubakar, Soares e Zé Luís.
“A resposta politicamente correta é dizer que o campeão é o favorito. O Benfica investiu muito, tem bons jogadores e o tempo dirá se tem um grande plantel. Acho que os dois rivais partem em direito de igualdade para pensar que podem ser campeões. Gostava de dizer que o Sporting é mais favorito que todos eles, mas infelizmente não é”, admitiu.
O Sporting, quinto colocado, com seis pontos e um jogo a menos, recebe à porta fechada o FC Porto, quarto, com seis, no sábado, às 20:30, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, num ‘clássico’ da quarta ronda arbitrado por Luís Godinho, da associação de Évora.
Comentários