Na quinta-feira, o acórdão do processo E-toupeira valorizou a “determinação criminosa” do ex-assessor jurídico do Benfica Paulo Gonçalves e do funcionário judicial José Augusto Silva para condenar os dois arguidos por corrupção, ilibando apenas o terceiro arguido, Júlio Loureiro.

“A Sporting Clube de Portugal – Futebol SAD mostra-se surpreendida por o Tribunal ter considerado plausível que esse agente desportivo, apesar de ter sido ‘o elemento preponderante que desencadeou toda a sequência de crimes’, nada tenha informado das suas ações e do resultado das suas diligências ao então presidente da SLB SAD, Luís Filipe Vieira, nem tão pouco os seus vice-presidentes ou Administração”, pode ler-se no comunicado dos ‘leões’, no site oficial.

Paulo Gonçalves foi condenado a dois anos e seis meses de prisão, suspensa na execução, por um crime de corrupção ativa, mas, para o Sporting, este processo é mais um a manchar o desporto nacional.

“Este é mais um de vários processos cujos graves contornos colocam em causa o funcionamento e reputação do futebol português e a verdade desportiva das nossas competições: tráfico de influências, corrupção, entregas de malas com dinheiro, jogadores no ativo que dizem ter sido aliciados – um sem número de negócios duvidosos e práticas criminosas que mancham o Desporto nacional”, pode ler-se.

Na mesma nota, o Sporting recordou o processo do Apito Dourado, no qual a justiça "falhou" num crime que “não teve o castigo merecido”.

“A Justiça falhou no chamado processo do Apito Dourado. É fundamental que desta vez não volte a ficar tudo na mesma, com os intervenientes a fingir que nada se passou, que não existem escutas disponíveis na internet, que o crime teve o castigo merecido. Não teve. E o crime não pode compensar, porque a perceção de que o crime compensa mina totalmente a confiança dos cidadãos nas instituições”, apontou.

Por fim, falou do que foi feito em Itália, no caso que envolveu a Juventus, levando à descida de escalão do clube de Turim.

"Neste, e noutros casos, tenhamos referência do que é feito lá fora, como é exemplo o caso italiano que levou a Juventus à descida de divisão", concluiu.

Paulo Gonçalves, antigo assessor jurídico da SAD do Benfica, estava acusado de seis crimes de violação do segredo de justiça, 21 de violação de segredo por funcionário, nove de acesso indevido, nove de violação do dever de sigilo, em coautoria, além de um crime de corrupção ativa, dois de acesso indevido e dois de violação do dever de sigilo, tendo sido punido apenas pelo crime de corrupção ativa.

José Augusto Silva foi condenado pela prática de um crime de corrupção passiva, seis de violação de segredo de justiça, nove de acesso indevido, nove de violação do dever de sigilo, 28 de acesso ilegítimo e um de peculato, com o tribunal a deixar de fora apenas 21 crimes de violação de segredo por funcionário. Por sua vez, Júlio Loureiro foi absolvido do crime de corrupção passiva.

O caso E-toupeira remonta a 2018, quando o MP acusou o antigo assessor jurídico do Benfica Paulo Gonçalves, os funcionários judiciais José Augusto Silva e Júlio Loureiro e a SAD do Benfica de vários crimes. Contudo, em dezembro desse ano, a decisão instrutória acabou por não pronunciar para julgamento a SAD ‘encarnada’.