O jogador do Rio Ave Tarantini pretende fazer chegar às mais altas instâncias do futebol mundial um estudo sobre as dificuldades que os jogadores portugueses encontram no final da carreira.
O médio da equipa vila-condense, que se tem debruçado sobre o tema através de um projeto apelidado Tarantini.pt onde tem reunido e analisado dados, considerou que "este é um problema sério e que merece reflexão".
"Quero seguir com este estudo o mais longe possível, fazendo um doutoramento e levando-o ao nível da FIFA e UEFA, porque é um problema real e tudo o que pudemos fazer para melhorar é importante", partilhou à Lusa o jogador.
Segundo os dados recolhidos por Tarantini, com auxílio de uma base dados de um site desportivo, o jogador português termina a carreira, em média, aos 30,9 anos, e na maior parte das vezes sem ter assegurado uma estabilidade económica.
Isto porque, segundo o mesmo estudo, que abrangeu uma amostra de 16.470 jogadores portugueses de campeonatos profissionais e não profissionais, entre 1980 e 2017, apenas 16% destes atletas conseguem chegar à I Liga.
O número fica ainda mais reduzido quando analisados os jogadores que conseguem chegar a um clube ‘grande’, algo alcançado apenas por 5%, sendo que só 2% dos futebolistas lusos atinge uma presença na seleção nacional.
Perante este cenário, Tarantini alerta para a necessidade dos futebolistas portugueses precaverem o seu futuro, apostando, nomeadamente, na educação e formação em outras áreas.
"Estes resultados alertam para necessidade dos jogadores fazerem a sua prevenção e não colocarem as ‘fichas' todas na carreira de futebolista, porque as coisas podem correr mal", disse Tarantini.
O também capitão do Rio Ave reconheceu que os jogadores de futebol ganham acima da média nacional, mas que, se não fizerem um planeamento, o pós-carreira pode ser "desastroso"
"O jogador português que queria ganhar muito dinheiro no futebol tem de chegar a um ‘grande', e só 5% o consegue. Além disso, um atleta mantém-se, em média, 5 épocas na I Liga, e é preciso transportar esse período para valores de remuneração líquidos", analisou.
Tarantini admite que quando partilha estes dados com colegas de profissão as impressões iniciais são "de surpresa", mas nota que não há pro-atividade para a inverter.
"Uma coisa é eles ficarem sensibilizados com os dados, outra é passarem à ação. Os meus colegas sabem que isto pode acontecer, mas apesar de estarem sensíveis à questão, não agem", admitiu.
Por isso, o médio do Rio Ave elege a prevenção como palavra-chave para "inverter o problema".
"A escola e a formação existem há muitos anos, mas senão houver um plano os jogadores não vão agir. Temos de criar algo que passe pela obrigatoriedade e ir aos miúdos na formação e incentivá-los a continuar os estudos", vincou.
Tarantini, de 33 anos, que a par do futebol apostou numa carreira académica, culminada com uma licenciatura e um mestrado, pretende ir ainda mais longe na sua formação.
"Quero levar este projeto até um doutoramento, com o apoio de uma universidade e de outras entidades, e poder fazer uma avaliação ainda mais profunda sobre este tema no futebol português", garantiu.
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