"Ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos", esta é uma máxima inexorável do mundo do futebol que prega a solidez defensiva como elemento fundamental para a conquista de títulos. Contudo, não haverá clube no mundo que não queria associar a sua eficácia defensiva a uma proeminente veia goleadora. Quando os dois mundos se unem, não há campeonato que escape, e este foi precisamente o caso do Benfica 2022/23.

Especial Benfica campeão 2023: reportagens, análises, opiniões, fotos e vídeos do título encarnado

Os encarnados registam 82 golos marcados (2,4 por jogo) e apenas 20 sofridos (0,60 por jogo), sendo assim simultaneamente o melhor ataque e a melhor defesa da primeira liga nesta altura. As águias têm mais sete golos marcados que o SC Braga, o segundo melhor ataque, e menos dois golos sofridos que o FC Porto, a segunda melhor defesa.

Pungente veia goleadora e com poucas arritmias

Os encarnados ficaram em branco em apenas três partidas do campeonato, todos eles disputados longe do Estádio da Luz, e das quais resultaram um empate e duas derrotas. Depois de sete jornadas sempre a marcar, o Benfica foi a Guimarães, acabando por empatar a zero diante dos vimaranenses.

Novo jogo a zeros registou-se à 14ª jornada em nova visita ao Minho. Em Braga, os comandados de Roger Schmidt saíram vergados a uma pesada derrota por 3-0, a mais volumosa da época. A maior surpresa deu-se na 28ª ronda quando o Benfica rumou a Trás-os-Montes para defrontar o Desportivo de Chaves, acabando por perder por 1-0 já nos últimos minutos.

Exceção feita a estes três jogos, a equipa da Luz marcou pelo menos um golo em todos os restantes encontros, tendo faturado em todas as partidas jogadas em casa. No total foram 45 golos marcados no Estádio da Luz, contra apenas 27 apontados fora de portas.

Ramos deu frutos e Mário foi 'Super'

Para este registo ofensivo em muito contribuíram Gonçalo Ramos e João Mário; em conjuntos, os dois jogadores registam 34 golos pelos encarnados no campeonato, sendo assim responsáveis por cerca de 47% do registo ofensivo da equipa. Os dois jogadores têm uma grande vantagem relativamente aos colegas de equipa; o terceiro melhor marcador da equipa é Rafa, com sete tiros certeiros, seguido de David Neres com seis, e Petar Musa com cinco.

A relevância dos dois internacionais portugueses ganha outra dimensão se olharmos para o número de pontos que os seus golos deram aos encarnados. Com efeito, 61 dos 80 pontos amealhados até esta altura pelas águias foram conquistados com a contribuição da sua veia goleadora . São 76% dos pontos do Benfica com o cunho da dupla Ramos/Mário.

Fortaleza fora de portas

Para além da eficácia ofensiva, o título do Benfica assenta muito na sua solidez defensiva. Nos trinta e um jogos disputados no campeonato até ao momento, as águias mantiveram a sua baliza inviolável em 20 ocasiões. Nos restantes dez jogos, apenas por uma vez (3-0 em Braga) a defesa encarnada permitiu mais de dois golos.

A eficácia defensiva da equipa da Luz é também percetível se atentarmos ao número de golos sofridos nos encontros em que a equipa perdeu pontos. Assim, dos 17 golos sofridos no campeonato, apenas oito foram consentidos nos jogos em que a equipa encarnada não venceu, sendo que os restantes foram "emendados" com a veia goleadora das águias.

Curiosamente, e ao contrário do registo ofensivo, a solidez defensiva do Benfica verifica-se, em grande parte, nos jogos fora da Luz. Dos 17 golos consentidos, apenas cinco ocorreram fora de portas (SC Braga, Estoril e GD Chaves), menos de metade dos sofridos na Luz.

Golos=título: Poucas exceções à regra

Será uma daquelas regras quase incontornáveis do futebol: o campeão é, na maioria das vezes, a equipa com mais golos marcados no final da época. Claro que, como qualquer regra que se preze, esta também tem as suas exceções. Com efeito, nos últimos vinte anos, apenas por quatro vezes o campeão nacional não foi a equipa mais concretizadora.

Em 2002/2003 o FC Porto de José Mourinho sagrou-se campeão nacional com onze pontos de vantagem relativamente ao SL Benfica. Contudo, os dragões acabaram a liga com 73 golos marcados, menos um que os encarnados.

Duas épocas depois o título sorriu ao Benfica, conquistando o ceptro com três pontos de vantagem sobre o FC Porto e quatro sobre o Sporting. No final das contas foram precisamente os leões a equipa mais concretizadora com 66 golos marcados, mais quinze que os campeões nacionais.

Em 2012/2013, Vítor Pereira levou o FC Porto ao tri-campeonato, vencendo o Benfica de Jorge Jesus na reta da meta da liga. Um ponto separou as duas equipas no final, mas foram os encarnados a equipa mais goleadora com 77 tiros certeiros, contra 70 dos dragões.

O último caso deu-se há duas temporadas. Em 2020/21 o Sporting quebrou um jejum de campeonatos de 19 anos ao conquistar o título sob o comando de Rúben Amorim. Os leões venceram a liga com cinco pontos de avanço relativamente ao FC Porto. A equipa de Alvalade foi apenas o terceiro melhor ataque do campeonato com 65 golos, menos nove que o FC Porto.