Frederico Varandas foi ouvido esta sexta-feira no Tribunal de Monsanto no âmbito do julgamento do ataque à Academia de Alcochete.
O líder dos leões revelou o que viu e ouviu no dia 15 de maio. O presidente do Sporting diz uma tocha que acertou no preparador físico Mário Monteiro estava destinada para ele.
"Estava no meu gabinete. Os fisioterapeutas e os enfermeiros antes do treino estavam no balneário a tratar e preparar os jogadores. Apercebi-me de que algo de anormal estava a acontecer, ouvi barulhos fora do normal, murros, pontapés e portas a bater."
"Quando me aproximei do balneário estava muito fumo, a visibilidade era reduzida e percebi que estavam a atirar tochas e fumos. Já à porta do balneário um indivíduo atirou uma tocha na minha direção, mas eu desviei-me e acertou no Mário Monteiro, que estava atrás de mim", começou por contar.
O presidente do Sporting, na altura médico do clube, disse ouviu "alguém a gritar que se não ganhássemos o jogo [Final da Taça de Portugal] iam matar-nos e fala de um ambiente de caos no balneário.
"Ouvi gritos e alguém a gritar que se não ganhássemos o jogo iam matar-nos. Alguns jogadores tinham-se refugiado no ginásio. No balneário estava tudo virado do avesso, a máquina da água virada ao contrário, roupas espalhadas por todo lado e os jogadores em pânico."
Depois do ataque, Varandas referiu que ninguém queria ir ao Jamor para disputar a final da Taça de Portugal."Nos dias seguintes os jogadores recusaram-se a regressar à academia, diziam que não tinham condições. Nessa altura, vou ser sincero, ninguém pensava no jogo. (...) o ambiente era de terror. Queriam vencer o jogo, mas a nível emocional não estavam preparados.".
Frederico Varandas contou ainda que foi a casa de Bas Dost para retirar os pontos do avançado que tinha sido ferido na cabeça e que colocou a sua clínica à disposição para Bruno Fernandes e Podence poderem manter a forma.
O líder dos 'leões' falou ainda do tom de intimidação que Bruno de Carvalho denotou na reunião com o staff do Sporting na véspera do ataque à Academia.
"Estavam o staff e departamento clínico. Secretários técnicos, roupeiros, Manuel Fernandes. Com Rui Caeiro, Carlos Vieira, Bruno de Carvalho e André Geraldes. Objetivo? Acima de tudo amedrontar os funcionários. Foi surreal. Bruno de Carvalho disse que estava farto que lhe enfiem o dedo no c.... Que a Taça valia tanto como um furúnculo que ele tinha no c...", disse, prosseguindo.
"[Bruno de Carvalho] vira-se para o Paulinho e diz 'não olhes para mim preocupado, tu vais tratar da relva' e 'de hoje para a frente isto vai mudar. Quero toda a gente no treino amanhã [dia 14 de maio de 2018] à tarde'. Para mim em tom desafiador e a instigar a plateia na sala disse 'aconteça o que acontecer, amanhã quero ver quem é que continua comigo'.
"Havia três reuniões a seguir. Após a dos técnicos, o Jorge Jesus ligou-me e disse 'acabou, fui despedido'", relatou Varandas.
O dirigente relatou também o que viu na confusão no aeroporto da Madeira, onde Fernandes Mendes, antigo líder da Juve Leo, se envolveu em altercações com Acuña e Battaglia.
"No aeroporto houve uma situação anormal. Estavam jogadores a mostrar bilhetes e adeptos da claque ao lado. O Fernando Mendes pareceu alcoolizado. Em discussão com Acuña e Battaglia, foi intrometer-se e tiveram de ser separados. Houve ameaças. Havia polícia e spotters que ajudaram na separação. Também vi o William a tentar separá-los. Diziam insultos, palavrões. 'Filhos da p...', a insultar Battaglia e Acuña. Coisas do género de 'pensam que estão aqui a brincar'", disse.
No final da audição de Frederico Varandas, o advogado de Bruno de Carvalho, Miguel Fonseca, pediu uma acareação entre o atual presidente do Sporting e as várias testemunhas que estiveram na reunião de 14 de maio de 2018 entre o staff e o ex-presidente, por considerar que existiam "discrepâncias" entre os testemunhos.
Contudo, a juíza Sílvia Pires indeferiu o pedido, defendendo que este era "descabido" e que "discrepâncias são normais".
O julgamento prossegue à tarde com testemunhas de defesa e com a audição do futebolista Freddy Montero, que joga nos Estados Unidos.
O processo do ataque à Academia de Alcochete - onde, em 15 de maio de 2018, jogadores e equipa técnica do Sporting foram agredidos por adeptos ligados à claque Juve Leo - tem 44 arguidos, acusados de coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá', líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.
Comentários