O virologista Marc Van Ranst, que aconselhou a Bélgica a parar os campeonatos, diz que vai ser impossível retomar o futebol nos próximos meses, e avisou  que até à porta fechada será um risco.

Virologista da universidade de Leuven e considerado uma das figuras de proa da Europa na matéria, Marc Van Ranst defende que será impossível voltar a jogar futebol nos próximos meses.

"A verdade é que já estamos em Abril e continuamos a ter milhares de novos casos da COVID-19, todos os dias, pela Europa fora. Como é que se pode falar em recomeçar o futebol quando não sabemos sequer se já atingimos o pico daquilo que, de qualquer forma, será apenas a primeira fase da doença", questionou, em entrevista ao Het Nieuwsblad.

Van Ranst foi um dos especialistas consultados pelo comité executivo da liga belga e que levou a proposta para que a época fosse dada por terminada (a 11 jornadas do fim) e o Club Brugge coroado campeão – uma proposta que terá de ser aprovada pelos clubes em assembleia-geral, marcada para 24 de Abril, e que a UEFA criticou, por considerar prematura, ameaçando até com a exclusão dos clubes belgas das provas europeias. O virologista, porém, acredita que o organismo que rege o futebol europeu começa a mudar de ideias.

"Ninguém pode culpar os clubes belgas de tomarem uma decisão dessas. Segundo a liga, seriam precisas três a quatro semanas de treinos antes de se poder recomeçar a jogar. Não é realista terminar as competições atuais e acho que a UEFA começa a perceber isso", disse Van Ranst, que revelou já ter aconselhado o organismo nesse sentido. O belga vai também defender a proposta da liga do seu país, de terminar já a temporada, em videoconferência na próxima quarta-feira.

A UEFA quer que ligas e clubes aguardem mais algumas semanas antes de tomarem decisões sobre o que resta da temporada, sobretudo porque está em cima da mesa a possibilidade de que venha a ser prolongada até Agosto.

Para isso, teria de voltar a jogar-se, o mais tardar, no final de Junho. Mas a hipótese de fazê-lo à porta fechada, diz Van Ranst, nada resolve: "Quando isso aconteceu vimos adeptos juntarem-se, fazerem festas e é isso que não pode acontecer. O futebol é o problema secundário mais importante do mundo, mas temos de ser honestos: eventos de massas como concertos, ou festivais de música, e como jogos em estádios vão ser as últimas coisas que voltarão a ser permitidas".

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, já provocou mais de 107 mil mortos e infectou mais de 1,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Dos casos de infecção, quase 345 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.