O selecionador português de futebol, Paulo Bento, admitiu hoje que os clubes têm mais apoio do que a seleção, numa aula para jovens universitários, em que sublinhou as vantagens da genuinidade na comunicação.

«A seleção nacional vende menos do que os clubes», reconheceu o técnico luso numa sessão de trabalho com alunos da Faculdade de Motricidade Humana, em Oeiras, subordinada ao tema "Treinar no Clube e na Seleção", que contou com a participação do diretor de A Bola, Vítor Serpa, e do ex-treinador e atual diretor técnico da seleção de râguebi, Tomás Morais.

Corroborando uma afirmação de Vítor Serpa, de que «há ainda um divórcio entre a seleção e os clubes», o treinador da equipa das "quinas" apontou o exemplo da última conferência de imprensa que deu, na qual os jornalistas «estavam mais preocupados com o sorteio da Liga Europa e da Liga dos Campeões» do que com a iniciativa para a qual tinham sido convocados.

Quando Vítor Serpa questionou a política de comunicação dos clubes e da seleção, recordando que os jogadores vendem melhor shampôs e relógios do que os modelos de jogo, Paulo Bento concordou, embora notando que a comunicação, por si só, não chega.

«Quem é genuíno tem mais vantagem na comunicação» e «passa melhor a mensagem que quer», sustentou Paulo Bento, acrescentando: «Eu ponho-me mais na pele do jornalista do que os jornalistas se põem na pele do treinador».

Quanto às táticas e estratégias, o técnico luso reconheceu que nos clubes é mais fácil a preparação física e psicológica, porque há mais tempo para trabalhar com os jogadores, o mesmo se passando quanto à definição do modelo de jogo.

«É impossível fazer uma transformação (do modelo de jogo) com pouco tempo para treinar» e, além disso, «Portugal tem uma identidade própria em termos de sistema de jogo», argumentou.

Paulo Bento lembrou que as outras equipas semifinalistas do Euro2012 - Alemanha, Itália e Espanha - não só têm «a maior parte dos jogadores a jogar no país, como jogam em apenas dois ou três clubes», apontando o caso da seleção espanhola, dominada por futebolistas do Barcelona e do Real Madrid.

Afirmando a «necessidade de estar próximo dos jogadores», embora mantendo as distâncias nos casos em que seja preciso, o selecionador rejeitou a ideia de que o futebol é «um mundo cão» e que «adultera as pessoas».

«Isso é mentira. São as pessoas que adulteram o futebol», acusou, para voltar a garantir que não é influenciado pela "pressão" exercida pelos órgãos de comunicação social e rejeitando a ideia de que os jornalistas podem "destruir" os balneários.

«Não me parece que isso seja verdade. Há que viver com a comunicação social e saber respeitá-la, saber da sua importância e da influência que tem, essencialmente, nos adeptos. Isso não implica que tenha que influenciar o nosso trabalho», concluiu.