Mais de 20 anos depois da vitória no Mundial de futebol de sub-20 em Riade, os jogadores portugueses reconhecem ter ganho contra tudo e contra todos, mas lembram que praticamente só celebraram em Portugal.
“Passámos a noite na zona da piscina do hotel, sem dormir, mas foi tudo muito rápido”, afirmou João Vieira Pinto, enquanto Filipe é mais pormenorizado:
“Estávamos fechados no hotel e claro que nos metemos com os brasileiros, que também lá estavam alojados... Acho que foi a noite toda”.
Amaral ainda se lembra de “receber cumprimentos na embaixada portuguesa na Arábia Saudita”, numa manifestação de gratidão sem o impacto da recepção popular em Lisboa: “Só no aeroporto, perante aquela multidão, sentimos a dimensão do feito”.
“A chegada ao aeroporto de Lisboa foi inesquecível. Eu cheguei ao pé da minha mãe várias horas depois de ter aterrado e, aí, só aí, sentimos o que tínhamos feito de bom e que ficou para a história. Na Arábia estávamos sozinhos e os festejos foram só entre nós, sem excessos, porque nem havia copos, porque não havia álcool”, recordou Bizarro.
Amaral lembra-se de “nos dias seguintes, ter sido uma euforia a celebrar com pessoas que não conhecia de lado nenhum”, no culminar de um triunfo cujos prémios não tinham sequer sido negociados.
“Acho que valeu perto de 150 contos (cerca de 750 euros), talvez tudo somado com as diárias tivéssemos recebido 300 contos (1500). Não foi nada de especial, havia jogadores que ganhavam mais do que isso num mês”, recorda o antigo extremo de Sporting e Benfica.
Para Filipe, a formação campeã em Riade, em 1989, valia mais pelo conjunto: “Não tinha grandes nomes, provavelmente até seria o João Vieira Pinto o nome mais sonante e que nem era dessa geração, mas tinha um colectivo fortíssimo”.
“A não ida do Vítor Baía foi um revés que nos juntou ainda mais e, como há coisas no futebol difíceis de explicar, o Bizarro fez um campeonato irrepreensível”, sublinhou o esquerdino.
A opinião é corroborada pelo antigo guarda-redes Bizarro: “A caminho dos jogos íamos sempre a cantar, aos gritos, histéricos, parecia que íamos para tudo menos para um jogo de futebol”.
O actual treinador do Sertanense reconhece que Portugal partiu para a Arábia Saudita “com pretensões, mas sem ser favorito”, e que o triunfo no primeiro jogo da prova, frente à Checoslováquia com um golo de Paulo Alves, “abriu perspectivas e a segunda vitória também deu muita confiança”.
“A nossa abordagem ao jogo com a Arábia Saudita é que não foi nada correcta. Acabámos por perder justamente, mas serviu como aviso para os jogos seguintes”, recorda Amaral, enquanto Filipe salienta o crescendo da equipa lusa, que, “ganhando e jogando bem, começou a merecer respeito, mas só viu as possibilidades de triunfar com vitória frente ao Brasil”.
A taça seria erguida a 3 de Março de 1989 pelo matosinhense Tó Zé, depois da vitória na final com a Nigéria, por 2-0, com golos de Abel Silva e Jorge Couto, culminando o percurso desta geração, que, segundo Amaral, “abriu as portas para o reconhecimento, mas as vindouras é que aproveitaram”.
Filipe é mais cáustico:
“Julgo que por vezes as pessoas pensaram que, por ser a primeira vez, tínhamos sido campeões do Mundo por acaso.”
Não foi. Portugal voltaria a sagrar-se campeão do Mundo 848 dias depois, em Lisboa.
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