Há exatamente 15 anos, os gregos não “perceberam” a letra da música cantada por Nelly Furtado, que falava de uma “força que ninguém pode parar” e estragaram a festa a Portugal, a abrir e fechar o Europeu de 2004.

O país, que ganhara a organização à Espanha, viveu quase um mês em euforia, de bandeiras na janela, no apoio aos comandados de Luiz Felipe Scolari, mas, depois de fazer o mais difícil, a formação das “quinas” falhou o tão desejado “caneco”.

A seleção lusa superou um primeiro desaire com os gregos (1-2 no Dragão, no jogo inaugural), conseguindo chegar à final, a sua primeira, mas acabou por falhar uma segunda vez.

A 04 de julho, no Estádio da Luz, a formação portuguesa era favorita, mas caiu por 1-0 face ao conjunto helénico, que havia chegado ao Euro2004 sem qualquer triunfo em fases finais.

Um golo do avançado Angelos Charisteas, aos 57 minutos, escreveu a mais ‘dolorosa’ derrotada da história do futebol português, face a uma Grécia que já havia batido Portugal no jogo inaugural da prova, então por 2-1, no Dragão.

A formação portuguesa dominou o encontro, mas não conseguiu marcar nas poucas ocasiões em que logrou superar a defesa helénica e os gregos, como fizeram ao longo de toda a prova, aproveitaram um erro para marcar o seu golo.

Num canto na direita, Charisteas venceu nas alturas a Ricardo Carvalho e Costinha e bateu de cabeça Ricardo, que falhou a interceção.

Face aos gregos, Portugal arrancou com Ricardo na baliza, uma defesa com Miguel, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade e Nuno Valente, um meio campo com Costinha, Maniche e Deco e os extremo Figo e Cristiano Ronaldo no apoio a Pauleta.

Ainda na primeira parte, aos 43 minutos, Scolari foi obrigado a mexer no lado direito da defesa, com Paulo Ferreira a entrar para o lugar do lesionado Miguel.

Depois do tento dos gregos, o brasileiro lançou Rui Costa, que na véspera anunciara o adeus à seleção, para o lugar de Costinha, aos 60 minutos, e, aos 74, trocou de avançados, fazendo entrar Nuno Gomes e sair Pauleta.

As alterações acabaram, porém, por não dar frutos e Portugal perdeu mesmo, em casa, a final do Europeu de 2004, a primeira da sua história.

O percurso

Pelo meio, a equipa mostrou grande alma, sobretudo face à Espanha (1-0), a fechar a primeira fase, e com a Inglaterra (6-5 na “lotaria”, após 2-2 nos 120 minutos), nos quartos de final.

Para a história ficou o melhor registo de sempre de Portugal numa competição internacional, mas soube a pouco, muito pouco, a uma oportunidade única que se perdeu.

Olhando para o período antes do Euro2004, Portugal nem prometia tanto, já que somou sucessivos maus resultados nos jogos de preparação, alguns preocupantes, como o 0-3 sofrido perante a Espanha, em Guimarães.

Se a desconfiança já era generalizada, o cenário ainda piorou com a estreia, a derrota por 2-1 face à Grécia, num embate em que Portugal só marcou já nos descontos (90+3 minutos), pelo emergente Cristiano Ronaldo.

Os alarmes dispararam e Scolari deixou-se de “teimosias” e deu, finalmente, ouvidos a quem pedia sangue novo no “onze”, promovendo Deco, Ricardo Carvalho e Nuno Valente (todos campeões europeus pelo FC Porto) e ainda Miguel.

A equipa respondeu com um indispensável triunfo sobre a Rússia, por 2-0, selado por Maniche e o suplente Rui Costa, num jogo em que o ex-guarda-redes de Benfica e FC Porto Ovchinnikov viu o vermelho direto aos 45 minutos.

Depois, já com Ronaldo no “onze”, em vez de Simão, Portugal selou o apuramento com um triunfo por 1-0 sobre a Espanha, que não podia perder, graças a mais um golo vindo do banco – marcou Nuno Gomes, aos 57 minutos.

Nos “quartos”, Portugal superou a Inglaterra, de Sven-Goran Eriksson, na “lotaria”, decidida de forma dramática pelo guarda-redes Ricardo, ao defender, sem luvas, o remate de Darius Vassell e apontar o 6-5 final, isto depois de, pelo meio, Hélder Postiga ter “brincado com a sorte”, com um “penalti à Panenka”

Nos 120 minutos, os ingleses adiantaram-se muito cedo, com um tento de Michael Owen (três minutos), mas o “banco” luso deu a volta ao jogo - Postiga (83) e, novamente, Rui Costa (110) -, para, aos 115, Frank Lampard empatar.

Já sem França, Itália e Alemanha, Portugal passou a ser o principal favorito e confirmou-o nas “meias”, face à Holanda (2-1), batida por Ronaldo e um “golão” de Maniche.

A primeira final estava conquistada, mas, como a abrir a competição, Portugal não teve arte para superar o pragmatismo dos surpreendentes gregos, vencedores com um tento de Angelos Charisteas. A Luz chorou.

A Grécia

Foi contra todos as probabilidades que nasceu o nono vencedor da competição rainha do “velho continente”, um conjunto sem brilho, mas tremendamente eficaz, superiormente orientado pelo alemão Otto Rehhagel.

Depois de uma primeira fase sofrida, três vitórias por 1-0 na fase a eliminar, perante França (quartos de final), República Checa (meias-finais) e Portugal (final) valeram o título aos gregos.

O “gigante” Trainos Dellas, líder de uma defesa de aço, e o médio e “capitão” Theodoros Zagorakis (melhor jogador da prova) destacaram-se num conjunto que exibiu também um grande rigor tático e conhecimento dos adversários.

Os Helénicos, que acabaram a qualificação com seis triunfos, todos sem golos sofridos, ficando à frente da Espanha no Grupo 6, iniciaram a fase final em grande, ao baterem o anfitrião Portugal por 2-1.

Um empate com a Espanha (1-1), no segundo jogo, lançou os helénicos para o apuramento, que esteve “tremido” no derradeiro embate, quando a Rússia, já afastada, chegou a 2-0: um tento de Zissis Vryzas salvou a qualificação.

Os gregos estavam pela primeira vez na fase a eliminar, mas não acusaram a pressão e despacharam a França, nos “quartos”, com um tento de Angelos Charisteas (65 minutos), e a República Checa, nas “meias”, com um “golo de prata” de Dellas (105).

Na final, numa reedição do jogo inaugural, a Grécia voltou a precisar de apenas um golo, de novo apontado por Charisteas (57 minutos), para chegar ao título, perante uma equipa lusa incapaz de escapar à “teia” helénica.