O currículo de Ivo Pinto nos escalões de formação revelava uma aprendizagem feita no Boavista e no FC Porto. No entanto, esse estatuto não lhe valeu grandes oportunidades no futebol sénior. Após a última época como júnior seguiram-se quatro anos de empréstimos a quatro clubes diferentes: Gil Vicente, V. Setúbal, Sp. Covilhã e U. Leiria. Sem espaço para se impor, deixou Portugal em 2012 à procura da sorte. Foi assim que os romenos do Cluj se cruzaram no seu caminho, seguindo-se depois o atual Dínamo Zagreb e, agora, a estreia na convocatória da Seleção. No entanto, em entrevista ao SAPO Desporto, o lateral de 24 anos mostra-se preocupado com a falta de aposta nos jovens jogadores portugueses.
Foi formado no FC Porto, mas depois não teve real aproveitamento em Portugal. Foi preciso ir para fora para ver o valor reconhecido? Foi uma decisão que custou a tomar?
A formação foi quase toda no Boavista e só depois ingressei no fim no FC Porto. Senti que foi uma decisão muito difícil sair com 21 ou 22 anos por não ter tanta oportunidade de jogar num bom clube que me desse uma projeção maior para atingir os meus objetivos, nomeadamente jogar na seleção. Fi-lo, muito ponderado, nunca hesitei, tive o apoio de toda a gente à minha volta. Não saí com mágoa ou triste, mas senti que podia ter dado mais a Portugal, caso tivesse tido mais oportunidades. Mas não me arrependo de nada.
Também no futebol, como na sociedade portuguesa, é mais um jovem a ter de ir fora para mostrar o seu valor. Custa-lhe ver isso?
Até penso por um lado positivo. Em todas as áreas e tipos de profissão saímos por motivos de força maior porque em Portugal não há condições ou está mais complicado ter um bom emprego para se ter uma boa vida. É de ficar orgulhoso. É verdade que é um pouco triste, mas é um ciclo em que fomos guerreiros e arriscámos. O que importa é que tentamos. Não ficamos à espera que as oportunidades chegassem. Arrisquei, tive de abdicar de muitas coisas: família, amigos, namorada e é um passo de muita coragem, que felizmente correu bem.
O André Gomes disse numa entrevista que há mais margem de erro para um estrangeiro do que um jovem português em Portugal. Concorda? Porque é que isso acontece?
Concordo. Há mais aposta num jogador que é aquisição, ainda mais sendo um jogador estrangeiro. Se repararmos nos clubes portugueses os planteis são maioritariamente compostos por estrangeiros. Não critico, ninguém tem culpa e muito menos os jogadores, mas a verdade é que há cada vez mais escassez de bons valores portugueses nos principais clubes. Acredito que seja um erro, porque a formação já mostrou nos últimos anos que tem muita qualidade. Temos o melhor jogador do Mundo, Ronaldo, que saiu da formação. Mas não só: João Moutinho, Nani, Miguel Veloso, … temos muitos jogadores que saem e provam o seu valor. Enfim, é o futebol e o negócio que temos neste momento em Portugal.
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