O jovem indonésio Martunis, que foi encontrado com a camisola da seleção portuguesa 21 dias depois do tsunami que devastou o sudeste asiático em 2004, diz-se apaixonado por Portugal e que quer emigrar para jogar futebol.
“Eu realmente quero jogar em Portugal e jogar na seleção”, afirma o jovem, vestido com o equipamento da seleção portuguesa de futebol, dez anos depois de ter sido encontrado a deambular pelas praias de Aceh, vestido com uma camisola do então capitão da equipa, Rui Costa.
A história da criança de sete anos encontrada desidratada, mal nutrida e assustada numa praia isolada de Banda Aceh, no norte da ilha indonésia de Samatra, três semanas após o tsunami conquistou o coração da equipa portuguesa. Para além de uma doação de 40 mil euros, que serviu para construir a casa onde Martunis vive atualmente, a Federação de Futebol Português ofereceu-lhe uma viagem a Portugal em 2005.
“Desde a infância que sonho em ser um jogador de futebol profissional como o [Cristiano] Ronaldo (…) É o melhor jogador do mundo, é uma pessoa bondosa e, além disso, é bonito”, sublinha, respondendo que preferia jogar em Portugal em evz do Real de Madrid ou da seleção do seu próprio país.
O indonésio, cuja timidez não deixa esconder o entusiasmo, diz que encara Cristiano Ronaldo - com quem já esteve várias vezes e com quem partilha o tipo de penteado - “como um pai”.
Martunis espera que o internacional português “receba o prémio de melhor jogador do mundo em 2014 e possa levar a equipa portuguesa a ser campeã da Europa ou do mundo”.
O jovem atacante, que está ligado à escola sócio desportiva da Fundação Real Madrid em Aceh, pratica futebol diariamente e é reconhecido como Ronaldo da Indonésia, pela ligação que tem ao jogador português.
O indonésio apresenta-se como MartunisCR8 no Twitter e como Martunis Ronaldo no Facebook, onde partilha fotografias em que aparece com o jogador do Real Madrid.
Para além das cicatrizes dos arranhões que tem em várias partes do corpo, Martunis ainda sente o “trauma” do maremoto quando há um terramoto, por exemplo, e tem dificuldades em recordar os 21 dias em que esteve desaparecido.
O pai, Sarbini, recorda que há nove anos não aceitou o convite para Martunis ficar em Portugal, porque “era muito pequeno e era o único filho que tinha”, após o maremoto ter levado a sua esposa e dois filhos, mas frisa que se o jovem fosse hoje para terras lusas ficaria “muito feliz”.
Sarbini, de 44 anos, voltou a casar e agora conta quatro filhos, mas há ano e meio que não trabalha, devido a um problema de saúde na tiroide que se traduz em dificuldades visuais e dores.
Apesar de ter despendido “cerca de 7000 dólares (5650 euros)” em “cinco médicos em Banda Aceh”, Sarbini ainda tem de usar óculos escuros para esconder o efeito de olhos esbugalhados provocado pela doença.
O progenitor vive agora momentos de preocupação com a sobrevivência da família, porque o dinheiro que recebeu de ajudas “está quase a acabar”.
Nas memórias, Sarbini recorda que se sentiu “um pouco melhor” após a descoberta de Martunis vivo no pós-tsunami, porque perdeu o resto da família.
Na carta ao capitão da equipa das “quinas”, Martunis aproveita ainda para pedir alguns “fundos de ajuda”, para que ele e o irmão possam prosseguir os estudos e para “as necessidades da sua família”.
O encontro de 2013 criou novos laços entre os dois Ronaldos, que vivem em lados opostos do globo, através do apoio que ambos deram à promoção dos mangais.
O português tornou-se embaixador do Fórum de Conservação dos Mangais de Bali, porque ficou impressionado com a devastação que encontrou em Aceh em 2005, e o indonésio passou a ser o embaixador dos mangais na região de Aceh, uma atribuição conferida pelo Ministério das Florestas local.
O tsunami de há dez anos destruiu muitos mangais da região de Aceh, mas nos locais fartos em florestas de mangues o efeito das ondas gigantes foi menos devastador.
Em Banda Aceh, as ondas arrastaram embarcações de grande dimensão, que hoje são atrações turísticas no centro de uma cidade que tem apostado no turismo de tsunami, uma consequência natural do facto de receber muitos curiosos que querem ver os efeitos do desastre.
Aceh foi uma das zonas mais afetadas pelo maremoto de 2004, considerado o maior desastre natural dos últimos 100 anos.
A Indonésia encontra-se localizada sobre o chamado "Anel de Fogo do Pacífico", uma zona de grande atividade sísmica e vulcânica abalada anualmente por cerca de 7.000 terramotos, a maior parte dos quais moderados.
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