O inverno está aí à porta, mas no Benfica vive-se um estado de renascimento que remete para a Primavera. Desde que Lage chegou a equipa parece outra e a vitória gorda contra o Estrela da Amadora (7-0) provou que a paragem das seleções não mudou o ritmo de um comboio que segue a todo o vapor.
Na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, a equipa da Luz fez uma exibição a roçar a perfeição e conseguiu vencer em mais do que um aspeto. Passou aos oitavos de final, jogou bom futebol, deu minutos aos menos utilizados, promoveu uma estreia e ainda assistiu à redenção de Arthur Cabral. Mas isso guardamos mais para a frente...
O jogo explicado: Arranque supersónico resolveu cedo o problema
As águias estavam em boa forma quando as competições nacionais pararam para dar lugar às seleções e havia curiosidade para perceber como seria o regresso. O primodivisionário Estrela da Amadora pedia algumas cautelas na escolha da equipa, até porque num contexto a eliminar não é assim tão raro ver o atrevimento da equipa que não é favorita a ser recompensado.
O plano era entrar a todo o gás para evitar aflições e minutos desnecessários nas pernas e funcionou na perfeição. Antes de estarem cumpridos 2 minutos, já Di María tinha feito das suas: tentou um cruzamento de letra que fez ricochete e voltou, puxou a bola para o lado e abriu o marcador.
As hostilidades estavam abertas e o camisola 11 não pedia licença para disparar. Três minutos depois, ainda fez melhor: Aursnes e Bah desenharam uma bela jogada na ala direita e após um cruzamento a bola foi cortada para a zona onde estava o argentino. Ajeitou com um toque subtil por cima do adversário e fez um pontapé de bicicleta como se estivesse a jogar no campo à beira de casa.
O Benfica estava completamente dono e senhor do jogo e aquela ala direita endiabrada. Ainda nem o Estrela da Amadora tinha conseguido criar verdadeiro perigo e Di María consumou o hattrick. A bola chegou lhe novamente dentro da área, sentou o defesa e rematou para colocar o que seria uma pedra demasiado difícil para os tricolores levantarem.
Sem nada a perder, foi a partir deste momento que os visitantes acordaram e mostraram que também estavam na Luz para jogar e tentar a sua sorte. Este novo atrevimento na partida fez com que Samuel Sores tivesse de mostrar serviço, mas o resultado manteve-se inalterado até ao intervalo.
Com o jogo completamente controlado o Benfica manteve o ritmo elevado no arranque do segundo tempo. A diferença de futebol era notória e era inevitável que voltasse a haver festejos, até pela maior exposição na defesa tricolor.
Akturkoglu, lançado para o segundo tempo, também fez questão de deixar marca no jogo e aumentou a contagem para 4-0. A partir deste momento nem a boa entrada após o intervalo ajudou o Estrela da Amadora a recuperar e Bruno Lage sentiu que era altura de distribuir minutos.
Kokçu entrou para dar qualidade ao meio-campo, Amdouni deu um merecido descanso a Di María e Bah saiu para a estreia de Leandro Santos, de apenas 19 anos, que fez o primeiro jogo pela equipa principal.
Amdouni colocou a partida em 5-0 numa fase em que o Benfica se estava a divertir em campo e tudo saída bem, mas o melhor estava guardado para o fim.
O Momento: Adeptos e colegas não o deixaram cair
Como leu há umas linhas atrás, Amdouni tinha fixado o 5-0 e o jogo podia ter ficado por aí. Mas por vez o futebol proporciona momentos inesperados que estão carregados de simbolismo. Arthur Cabral fez uma verdadeira ode ao desperdício neste jogo, em lances que não é costume um avançado deste nível falhar.
Nesta imagem, os colegas foram levantar o camisola 9 depois de um falhanço e Bruno Lage pediu aos adeptos para incentivarem em vez de assobiar, o que teve frutos mais à frente. Perto do final da partida, Arthur Cabral assumiu a confiança que lhe passaram e fez um grande pontapé de bicicleta, que foi como um agradecimento por não o terem deixado cair.
E para colocar a cereja no topo do bolo desta história de redenção, meros minutos depois Cabral aproveitou uma defesa incompleta de Meixedo para bisar e, quem sabe, afastar os fantasmas que o atormentam de vez.
O melhor: Di "Magía" é como vinho do Porto
Nesta era do futebol moderno já não é tão raro vermos jogadores veteranos a exibirem-se em bom nível, mas o que Di María fez este sábado lembrou os tempos de Real Madrid. O argentino, de 36 anos, fez golos para todos os gostos, pressionou, fez jogar... e isto tudo em 65 minutos.
Acrescenta fantasia ao futebol do Benfica e é um prazer para todos os adeptos apreciar jogadores desta qualidade.
O pior: Melhor dizendo, o mais apagado
Jan-Niklas Beste tem sido sempre um jogador fiável quando é chamado e até costuma acrescentar muita velocidade na frente. No entanto, contra o Estrela da Amadora não parecia o mesmo. Sempre previsível, com pouca criatividade e sem grande impacto na fluidez ofensiva.
Sem surpresa, ficou nos balneários ao intervalo e já provou que consegue muito mais. Resta esperar para ver quando será a próxima oportunidade.
As Reações
Bruno Lage, treinador do Benfica: "Tínhamos o objetivo de dar continuação à exibição com o FC Porto e queríamos dar uma demonstração de força neste novo ciclo. Foi o que aconteceu".
Luís Silva, treinador adjunto do Estrela da Amadora: "Hoje, acho que não houve assim tanto mérito do Benfica, houve mérito, mas nós também cometemos muitos erros e olhámos muito para dentro".
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