Um triunfo do Sporting sobre o FC Porto, esta quinta-feira, na segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal, libertará os ‘leões’ da iminente perda do título de campeão nacional para os ‘dragões’, afirma o ex-futebolista Mário.

“O Sporting até pode pensar em salvar a época. Independentemente de ter perdido na primeira mão em Alvalade, tudo pode ocorrer. É uma coisa difícil de explicar. A Taça de Portugal é diferente do campeonato e envolve muitas coisas. Acho que o Sporting tem possibilidade de reverter a eliminatória. É difícil, mas o futebol é apaixonante por isso”, partilhou à agência Lusa o ex-médio brasileiro, que alinhou pelos lisboetas nos anos 80 do século passado (1986/1988).

FC Porto e Sporting, ambos com 17 troféus, voltam a lutar pelo acesso ao duelo decisivo da edição 2021/22 da prova ‘rainha’ na quinta-feira, às 20h15, no Estádio do Dragão, no Porto, um mês e meio depois do triunfo dos ‘azuis e brancos’ em Alvalade (2-1).

“Todos sabem que tenho um carinho especial, e virei adepto do Sporting. Acredito que a magia destes encontros de Taça de Portugal é um pouquinho diferente e pode ser que o Sporting se supere. Os adeptos acreditam, independentemente de não ter mais condição para ser campeão. [Essa meta] Ficou muito difícil e a única chance é a Taça de Portugal. Quase tenho a certeza de que vai jogar tudo por tudo nesse jogo no Dragão”, reiterou.

Julgando que a derrota caseira no dérbi de domingo com o Benfica (0-2), da 30.ª jornada da I Liga, que deixou em nove pontos a distância para o líder FC Porto, “mexa um pouco” com o ânimo dos ‘leões’, Mário Coelho constata uma “mudança muito grande” no clube.

“A própria ‘torcida’ compareceu e nunca deixou de apoiar, mesmo perante 19 anos sem o título de campeão nacional. Acho que foi muito positiva a maneira como, de repente, o Sporting mudou na época passada, com muitas coisas a acontecerem dentro e fora do campo. O clube está a dar uma reviravolta sobre o que aconteceu no passado”, avaliou.

O vencedor de uma Supertaça (1987) pelo clube de Alvalade, que também passou pelo Estrela da Amadora, deteta “boas ideias” no treinador Rúben Amorim, mas sente que a perda de influência de alguns titulares de 2020/21 pesou na regularidade desta época.

“Uma equipa que se mexe pouco, ganha consistência. Isso é facto e marca comprovada. O Sporting tem jogado bem e, logicamente, certas mudanças são feitas de acordo com a necessidade. É uma forma de jogar algo diferente entre as duas temporadas. Não é que tenha mexido no sistema de três defesas, mas usa nomes diferentes. Então, talvez essa mudança, até conseguir dar consistência e personalidade a quem entra, demore”, notou.

Apesar de escapar o ‘sonho’ do primeiro bicampeonato em 68 anos, Mário vinca a gestão “entre jovens e nomes consagrados” de Rúben Amorim, que já venceu quatro títulos em pouco mais de dois anos e foi uma “escolha muito boa” para “mudar a crença” do clube.

“O clube foi muito feliz nessa opção e agora também é preciso paciência, visto que nem sempre está tudo errado quando se perde uma época. Nas derrotas, consegue-se tirar alguma coisa boa. O Rúben Amorim tem muita estrada pela frente, está a mostrar uma capacidade incrível e é muito coerente nas suas entrevistas. Se mereceu perder, não se esconde e vai enaltecendo a sua equipa. Penso que está no caminho certo”, observou.

Confiante de que os ‘leões’ “se irão manter no segundo lugar” da I Liga, quando têm seis pontos de avanço sobre o Benfica a quatro rondas do fim, o ex-médio deposita atenções na continuidade na Taça de Portugal, competição na qual se destacou ante o FC Porto.

Em 10 de maio de 1987, numa meia-final disputada no antigo Estádio das Antas, Mário Coelho resolveu o encontro no final do prolongamento, aos 119 minutos, com um ‘tiro’ à entrada da área ‘azul e branca’, indefensável para o guarda-redes polaco Mlynarczyk.

“Se agora vai ser difícil, naquela época era muito mais, pois havia só um jogo. Fui muito feliz com um golo que me marcou, tanto na vida pessoal, como dentro do Sporting, e irá ficar eternamente para mim. Não tem como fugir àquela imagem na segunda parte do prolongamento. Está na minha mente. Só se um dia tiver [a doença de] Alzheimer é que me esquecerei do que aconteceu nesse jogo e, principalmente, nesse golo”, gracejou.

O “golo mais bonito da vida” do ex-médio, de 65 anos, que alinhou por Botafogo, Grêmio, Fluminense e Vasco da Gama, ganhou outra dimensão 17 dias depois, com a conquista do FC Porto da Taça dos Campeões Europeus, em Viena, ante o Bayern Munique (2-1).

“Em 1986/87, não tínhamos mais chances no campeonato, mas batemos o FC Porto em Alvalade [2-0, à 24.ª ronda] e o Benfica isolou-se na frente com quatro pontos. Um mês depois, veio a Taça de Portugal e nunca tinha jogado com lenços brancos nas bancadas. Não se elimina da noite para o dia uma ‘super’ equipa que viria a ser campeã do mundo”, finalizou Mário, atual técnico do São Vicente Pereira, dos escalões distritais de Aveiro.