Se houvesse um gráfico demonstrativo da crença geral dos adeptos portistas e sportinguistas no trabalho dos respetivos treinadores ao longo do arranque da temporada, esse gráfico seria quase antagónico.
Do lado azul-e-branco, a construção de um plantel rico em soluções, como há muito não se via, permitiu um clima de euforia inicial que gradualmente tem vindo a dar lugar à desilusão pelo acumular de resultados menos positivos. A rotatividade promovida por Lopetegui, justificada pelos vastos recursos ao seu dispor e pelo nível de exigência de uma temporada mais longa do que o habitual (recorde-se que a Liga terá 34 jornadas, contra 30 nas últimas épocas) continua a adiar a construção de uma equipa sólida, que dê garantias.
Para os lados de Alvalade, aconteceu precisamente o contrário: um arranque menos conseguido despoletou dúvidas sobre a capacidade de Marco Silva para domar o Leão, mas a consolidação da equipa e a (re)afirmação dos nomes mais mediáticos do plantel (Rui Patrício, Nani e William Carvalho estão em claro crescendo) animou a massa adepta. Com a eliminação de um rival direto numa fase precoce da Taça de Portugal, os ânimos só podem ter melhorado.
Se é que ainda se pode falar em surpresas nas escolhas de Julen Lopetegui, estas surgiram logo com a exclusão de Alex Sandro e Martins Indi do lote dos convocados para um duelo em que nada menos do que uma vitória seria suficiente. As entradas de Adrián, que ainda não justificou o elevado valor investido, e Casemiro para o onze inicial reforçaram o clima de desconfiança. De fora ficaram, durante boa parte da partida, jogadores em destaque como Rúben Neves e Yacine Brahimi. Ricardo Quaresma, altamente moralizado depois de uma assistência decisiva na Dinamarca, não saiu do banco.
Já Marco Silva foi bem mais comedido. Montero ocupou o lugar que seria de Slimani se este estivesse em plena condição física e Capel substituiu Carrillo, mas as alterações não foram muito além disso. A diferença refletiu-se no relvado do Estádio do Dragão. Como é habitual num "clássico", ambas as equipas passaram boa parte do tempo em busca de erros do adversário, e estes surgiram do lado da equipa com menos rotinas.
Iván Marcano, contratado como opção de recurso para o centro da defesa, abriu o marcador com um auto-golo infeliz. O brasileiro Casemiro, que "obrigou" Rúben Neves (também ele moralizado depois da histórica vitória da seleção sub-21) a sentar-se no banco, cometeu um erro que Nani não perdoou. O único ponto positivo para o lado portista foi a bela jogada do golo solitário: notável passe longo de Quintero para finalização irrepreensível do "capitão" Jackson Martínez.
Contra um Dragão que continua em busca da sua identidade, o Sporting conseguiu estar de olho nas oportunidades e investir quando se abriam espaços. Nani, mais uma vez o cérebro das manobras ofensivas, voltou a ser decisivo. Recuou quando necessário, assumiu a responsabilidade de pegar no jogo e coroou a exibição com um remate portentoso para o 2-1. William deu novas amostras das qualidades que despertaram o interesse de "tubarões" europeus e Rui Patrício brilhou quase tanto como na receção ao Chelsea.
Julen Lopetegui, treinador da equipa da casa, fez questão de justificar a derrota com as falhas nos dois primeiros golos. Maicon, central portista, também apontou o bom aproveitamento das ocasiões por parte do Sporting como única razão para o desaire. Já a equipa visitante viu uma partida distinta. Marco Silva defendeu que os seus jogadores foram "superiores durante os 90 minutos". Rui Patrício defendeu também a justiça do resultado e regozijou-se com "uma grande partida" do Sporting.
Talvez o 3-1 tenha sido demasiado penalizador para um FC Porto que podia ter reposto a igualdade da marca dos 11 metros, mas erros crassos como aqueles cometidos no setor recuado portista raramente são perdoados. Não o foram no sábado, dia em que, de forma precoce, o FC Porto ficou desde já impedido de conquistar um título relevante do futebol português.
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