O SC Braga publicou esta quarta-feira uma "carta aberta ao Conselho de Administração da SportTV", canal que transmitiu o jogo de terça-feira entre os minhotos e o FC Porto, referente à segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal.
De acordo com o clube bracarense, a estação televisiva iludiu o videoárbitro com as imagens que colocou do lance no autogolo de Filipe, que resultaria no 1-0 para a equipa da casa.
De referir, contudo, que o VAR não tem acesso às linhas de fora de jogo dos operadores de TV.
Leia a carta aberta enviada pelo SC Braga na íntegra:
"A SC Braga, SAD vem por este meio interpelar V/ Exas. no sentido de manifestar a preocupação com que vimos registando a interferência que a SportTV tem tido em áreas que extravasam a sua competência e ferem os valores que devem nortear a empresa na relação com os agentes desportivos e, acima de tudo, com os assinantes e os telespectadores.
Ao longo da temporada, vimos assistindo a uma forma de condicionamento da opinião pública por via da realização dos jogos das competições nacionais e das análises que são veiculadas pelos colaboradores que a SportTV apresenta como especialistas.
Recordamos a V/ Exas. que a SportTV, enquanto operador televisivo, é um auxiliar fundamental da ferramenta de vídeo-árbitro e que tal papel exige redobradas responsabilidades, quer nas imagens disponibilizadas, quer nos grafismos que as acompanham. Conforme verificamos no jogo desta terça-feira, frente ao FC Porto, a contar para a Taça de Portugal Placard, a SportTV iludiu os telespectadores, mas também os elementos designados para a função de VAR, ao disponibilizar uma linha aplicada numa câmera em ângulo impróprio e que induziu em erro os vários analistas.
Aliás, a própria SportTV viria mais tarde, já após o final do jogo, a revelar a imagem da câmera principal, alinhada com os jogadores em ação, e que é esclarecedora quanto à infelicidade do plano oferecido aquando da ocorrência do lance.
Resulta evidente a interferência que o operador teve na apreciação de uma jogada de golo, contribuindo para a sua indevida anulação e assim condicionando, potencialmente, o resultado de uma eliminatória e o acesso a uma final.
É absolutamente discricionária e avulsa a forma como o operador tem aplicado a tecnologia da linha de fora de jogo, o que se verifica igualmente nas transmissões da BTV, abrindo neste caso uma reflexão que deve ser mais alargada, partindo da questão se pode competir a um órgão de uma entidade desportiva a realização dos seus próprios jogos. Obviamente, não pode!
Na era do VAR, tal realidade afigura-se até como problemática, mas reforça a luta que o SC Braga tem liderado para que a Federação Portuguesa de Futebol disponibilize, o mais rapidamente possível, a referida tecnologia, devidamente creditada e validada.
Até lá, são os operadores que desempenham, como e quando bem lhes apetece, um papel que não lhes cumpre.
Não é esta, em particular, a guerra da SportTV.
Não compete à SportTV a função de influenciar a tomada de decisão.
Não deve a SportTV moldar a opinião pública, quer através das imagens que filtra e dos grafismos que apresenta, quer através da convicção dos colaboradores que expõe como especialistas, sem cuidar de verificar a sua idoneidade profissional ou as relações que alimentam e que os condicionam.
O programa Juízo Final presta, nesse sentido, um mau serviço ao futebol, na medida em que confia a único elemento a sentença sobre lances que são muitas vezes de interpretação, fazendo prevalecer uma perspetiva pessoal que não podemos deixar de questionar naquilo que terá de corporativa ou de interesses de qualquer outra ordem.
Interesses que também podem e devem ser averiguados no que concerne aos comentadores da estação, que sob a capa da independência veiculam julgamentos sem pudor, moldando a perceção geral e condicionando a opinião pública.
A SportTV tem o dever de contribuir para o debate, oferecendo múltiplas perspectivas aos seus assinantes e respeitando a pluralidade do serviço que presta.
A SC Braga, SAD confia que o Conselho de Administração e a Direção da SportTV saberão interpretar a responsabilidade da função que desempenham, entendendo a validade dos pontos que realçamos nesta missiva e contribuindo, como certamente é seu desejo, para a neutralidade do seu posicionamento enquanto agente do futebol e do desporto em Portugal."
Comentários