A Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA) pediu hoje “coerência” à Direção-Geral da Saúde (DGS), no momento de estabelecer permissões para a abertura de diferentes espetáculos ao público durante o processo de desconfinamento da pandemia de covid-19.
No seguimento de um comunicado dos Adeptos de Futebol da Europa (FSE, na sigla em inglês), a presidente da signatária institucional portuguesa desta associação, Martha Gens, reconheceu à Lusa que é necessário “confiar nas instituições que tutelam essa matéria”, mas sublinhou que “a bitola com que se estabelece determinadas permissões” deve ser também aplicada a outras áreas.
“Se determinados contextos já são permitidos pela DGS, não vemos problema que, num estádio com 60.000 lugares, uma percentagem seja preenchida por adeptos. Não vemos mal nenhum em que aconteçam, por exemplo, os espetáculos culturais no Campo Pequeno, mas não barrem o acesso às outras coisas. Coerência é a palavra-chave”, pediu a presidente da APDA.
Em março a associação defendeu mesmo o cancelamento definitivo do campeonato da I Liga de futebol, “em virtude do estado em que se encontrava” a situação pandémica no país, mas Martha Gens lembra que “contextos diferentes exigem medidas diferentes” e, neste momento, não vê impedimento no regresso dos adeptos às bancadas, mas “com regras”.
“Até porque na maior parte dos jogos das equipas da I Liga, muitas só têm o estádio cheio três vezes por época, aquando da visita dos grandes. O eventual problema coloca-se sobretudo aos cinco primeiros classificados, onde percebo que a preocupação tem de ser maior”, justificou.
Além disso, a presidente da APDA concorda com o comunicado da Football Supporters Europe (FSE), assinado por grupos de adeptos de 16 países, no ponto em que se manifesta contra o som artificial de público transmitido nos jogos à porta fechada, devido à ausência de assistência como medida de prevenção da covid-19.
“O papel do adepto no estádio é fundamental e não é uma gravação que vai fazer o jogador sentir-se melhor ou pior. Tudo isto é muito artificial e os adeptos não servem para entretenimento das audiências televisivas. Se trocassem os jogadores por robôs era a mesma coisa? Se retirarmos as coisas genuínas do jogo, substituindo os adeptos por gravações ou cachecóis, que futebol queremos para o futuro?”, questionou Martha Gens.
Nesse sentido, a presidente da APDA subscreve que “os adeptos devem estar envolvidos nas decisões relacionadas com o futuro do futebol”, cujo modelo atual é “ineficiente, injusto e insustentável”, conforme ficou “demonstrado pela crise do coronavírus”.
Além disso, apela a uma consulta por parte da UEFA e das Ligas nacionais aos representantes dos adeptos sobre “os protocolos de saúde e outras medidas operacionais” a tomar para o regresso em segurança dos espetadores.
Após a declaração de pandemia, em 11 de março, as competições desportivas de quase todas as modalidades foram disputadas sem público, adiadas - Jogos Olímpicos Tóquio2020, Euro2020 e Copa América -, suspensas, nos casos dos campeonatos nacionais e provas internacionais, ou mesmo canceladas.
Os campeonatos de futebol de França e dos Países Baixos foram cancelados, enquanto outros países regressaram com fortes restrições, como sucedeu na Alemanha, Espanha ou Portugal, enquanto Inglaterra e Itália preparam-se para regressar.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 438 mil mortos e infetou mais de oito milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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