Em 2015, quando estalou a crise dos refugiados, centenas de ONG instalaram-se nas ilhas do mar Egeu para ajudar quem chegava à Europa em busca não de uma vida melhor mas de uma digna. As autoridades gregas apontavam o dedo à mais de uma centena de ONG e milhares de voluntários que estavam baseados em Lesbos, acusando a 'ajuda humanitária' de ser um “fator de atração” da imigração ilegal.

Uma das detidas era a (hoje) nadadora olímpica Yusra Mardini, que, juntamente com a irmã Sarah, arrastou a nado uma embarcação à deriva. Num frágil barco com 20 refugiados, devido a falha no motor, Yusra Mardini, então com 17 anos, atirou-se ao mar e nadou em direção à costa mediterrânea, durante cerca de três horas, orientando a embarcação até terra grega.

Quando o teto desaba literalmente

Yusra nasceu e cresceu em Darayya, nos subúrbios da capital síria de Damasco. Desde pequena que ganhou o gosto pela natação, ao lado da irmã, ambas influenciadas pelo pai, que era treinador da modalidade. Em 2012 conseguiu o título federativo, num período em que os bombardeamentos na Síria faziam parte da 'normalidade'. Ainda conseguiu competir nos Mundiais de Piscina Curta, nas provas de 200 metros estilos, 200 metros livres e 400 metros livres.

Porém, a guerra civil síria foi de encontro às aspirações enquanto atleta e destruiu, como tantas outras, a sua vida. Na sequência dos bombardeamentos, a casa onde Yusra vivia com os pais e as irmãs foi destruída e o teto da piscina onde treinava desabou. Estávamos em 2015 e a jovem Mardini, de 17 anos, tinha de fazer alguma coisa.

A viagem mais longa da sua vida

Abandonou Damasco em agosto de 2015, com a irmã, em direção a Istambul onde iriam contatar os “passadores” que organizariam o transporte posterior até à Grécia, contou a irmã Sarah à agência Lusa em 2019.

Foi na travessia de barco entre Esmirna, na Turquia, e a ilha de Lesbos, na Grécia, que o pior aconteceu. Quando o motor avariou, as irmãs Mardini saltaram para a água e rebocaram a embarcação por três horas até chegarem a Lesbos, evitando um naufrágio certo e que mais mortos se juntassem ao cemitério silencioso do Mediterrâneo.

Daí seguiram para Atenas, passaram pela Macedónia, Sérvia, Hungria e Áustria até chegarem finalmente a Munique, na Alemanha, onde obtiveram asilo mais tarde.

A viagem que Yusra fez foi igual à de milhões de outros sírios que quiserem escapar ao conflito sangrento que dilacera o país desde 2011 e é considerado o segundo mais letal do século XXI.

Equipa Olímpica de Refugiados em Tóquio2020
Equipa Olímpica de Refugiados em Tóquio2020 créditos: EPA/RITCHIE B. TONGO

A ambição olímpica de Yusra

Agora com 23 anos, Yusra foi a porta-estandarte da equipa olímpica de refugiados, tal como o nome indica são atletas que tiveram de fugir às más condições onde viviam, nos Jogos Olímpicos de Tóquio que decorrem atualmente. Esta não é a primeira participação da nadadora síria no maior evento desportivo do mundo.

Em 2016, no Rio de Janeiro, apenas um ano depois de ter fugido da guerra, Mardini venceu uma bateria de 100 metros contra quatro outros nadadores. No ranking geral, ficou-se pelo 41º lugar entre os 45 atletas em prova. A nadadora converteu-se também na embaixadora da boa vontade mais jovem da ONU.

Da coragem para um livro e depois para o grande ecrã

Já em Tóquio, a nadadora síria não conseguiu qualificar-se para a final dos 100 metros mariposa, mas sabe que a sua corajosa história vai originar um filme. O livro autobiográfico 'Mariposa: De refugiada a atleta olímpica — A minha história de resgate, esperança e triunfo, publicada em 2018, vai ser realizado por Stephen Daldry (“The Crown”, “O Leitor”, “As Horas”). Ainda não há data de estreia.

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