A destruição da favela Vila Autódromo, por causa da construção do Parque Olímpico, o principal centro das competições das Olimpíadas do Rio de Janeiro, está a causar polémica entre as autoridades locais e alguns moradores.
"Eu sou agora a única habitante do Parque Olímpico. Você acha que eles vão deixar-me ficar? Eu adoraria, mas...", interrogou-se Márcia Lemos, de 59 anos, em declarações à AFP.
A moradora da favela frisou que não quer que a sua casa se torne num parque de estacionamento e acrescentou que vai desafiar qualquer ordem de despejo.
Já com a água e o gás cortados, Márcia teve de render-se às evidências e foi morar para a casa da mãe, mas todos os dias visita a sua casa ainda de pé entre uma centena já demolida para dar lugar a instalações desportivas.
Os vizinhos de Márcia foram sendo substituídos por trabalhadores da construção civil na favela Vila Autódromo, que originalmente era de uma comunidade de pescadores instalada em torno de uma lagoa.
A maioria dos habitantes aceitou a proposta apresentada pelas autoridades locais para sair. "A muitos eles deram milhões, mas a mim ofereceram-me 900.000 reais (225.000 euros) que eles podem dar ao diabo ... Na realidade, eu não quero ir, eu estou feliz aqui", vincou, sublinhando que tudo o que quer é "morrer" naquele lugar.
Segundo a Prefeitura, 557 famílias já se mudaram do local e a maioria foi para apartamentos construídos pelo programa Minha Casa, Minha Vida, sendo que outros optaram por receber indemnizações.
Antes, a Prefeitura tinha dito que quem quisesse poderia ficar no local, mas a pressão sob os moradores revelou o contrário.
O município justificou que precisa de retirar as casas que ficam no caminho do projeto de ampliação de uma das avenidas que dá acesso à maior parte das instalações desportivas para os Jogos Olímpicos, que começam a 5 de agosto.
Alguns moradores da Vila Autódromo estavam no local há mais de 20 anos e receberam o título de concessão de uso por 99 anos da Secretaria de Habitação do Estado do Rio de Janeiro.
Em 2009, as autoridades cariocas anunciaram que seis comunidades das zonas Oeste e Norte, cerca de 3500 famílias, seriam removidas por causa da realização do evento desportivo, entre as quais a Vila Autódromo.
Em 2013, antes do início da demolição, moradores elaboraram em conjunto com arquitetos e urbanistas um plano específico para a área.
Na quarta-feira, a Justiça concedeu à Defensoria Pública a suspensão da demolição de uma outra casa da Vila Autódromo, após a apresentação de um recurso.
Entretanto, um grupo de artistas e intelectuais brasileiros aderiram a uma campanha lançada no sábado na rede social Facebook para exigir explicações ao prefeito Eduardo Paes.
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