Portugal não vai estar representado na maratona masculina dos Jogos Tóquio2020, pela primeira vez desde México1968, depois de um ciclo olímpico em que faltaram atletas de referência para a obtenção de mínimos exigentes.

A marca requerida para a presença no Japão cifrava-se em 2:11.30 horas, um registo alcançado desde sempre por pouco mais de uma dúzia de portugueses, o último dos quais Luís Jesus, em 2006.

António Pinto, Carlos Lopes, Domingos Castro, Manuel Matias, Hélder Ornelas, Joaquim Pinheiro, Alberto Chaíça, Luís Novo, Joaquim Silva, Carlos Patrício, Paulo Guerra, António Rodrigues e Fernando Couto foram os outros maratonistas que, alguma vez, correram abaixo do tempo necessário para estar na prova marcada para 08 de agosto, em Sapporo, último dia dos Jogos, que arrancam em 23 de julho.

“Em Portugal, tirando dois ou três clubes, há pouco investimento. Fazer uma maratona despende muito tempo, tens de treinar durante dois ou três meses e, sem um clube ou apoios, têm de fazer provas e isso desgasta (…). Houve atletas que tentaram, que investiram, e deixaram de fazer as provas de estrada, que eram o ganha-pão, e, de repente, concluíram que não vale a pena, porque não pode ser só investir, tem de haver retorno”, explicou Sara Moreira.

Em declarações à agência Lusa, a atleta do Sporting reconheceu que a maratona “é especial e diferente de todas” as outras distâncias do atletismo, sem conseguir identificar um motivo para a ausência masculina de Tóquio2020.

“Como não tem havido resultados de excelência, não tem havido investimento, e os atletas têm de se voltar para a estrada, sendo que neste momento nem há provas de estrada. Muitos dos que faziam provas e viviam um bocado disto tiveram de ir trabalhar e assim é difícil arrancar resultados. Eu acho que é efeito bola de neve”, vincou Sara Moreira, antevendo a sua quarta presença em Jogos Olímpicos.

Entre as possíveis explicações para esta quebra, a atleta natural de Santo Tirso apontou a falta de competitividade nas provas nacionais, mas, também, o decréscimo dos treinos coletivos masculinos.

Carla Salomé Rocha lamentou a ausência masculina, preferindo enaltecer a qualidade das qualificadas para Tóquio2020, para a distância de 42,195 quilómetros.

“É [uma prova] diferente, e é isso que a torna especial, assim como o facto de termos tido grandes maratonistas, principalmente dois medalhados de ouro, a Rosa Mota e o Carlos Lopes, e também por termos três mulheres. Isso diz muito da qualidade que Portugal tem. Isso e o facto de a nossa história ser tão boa”, vincou a terceira maratonista portuguesa mais rápida de sempre.

A sua companheira de treino, e igualmente sportinguista, Sara Catarina Ribeiro não conseguiu explicar, mas reconheceu a exigência das marcas de qualificação, alcançadas por 547 atletas para uma prova que vai ter 110 participantes.

“Claro que é uma prova emblemática, não só para os portugueses, é uma maratona e isso impõe respeito. Não posso dizer triste, mas o sentimento é de que podíamos lá ter mais gente. Mas, realmente, as marcas tendem a dificultar e o nível internacional é demasiado forte, como temos visto, não só na maratona, mas como em todas as distâncias, em que qualquer recorde passou a ser banal e a ser batido com muito mais facilidade”, sustentou.

Carla Salomé Rocha, Sara Catarina Ribeiro e Sara Moreira são as três representantes portuguesas na maratona feminina, marcada para 07 de agosto, em Sapporo, véspera do encerramento dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, que arrancam em 23 de julho.