Oksana Masters nasceu na Ucrânia, na cidade de Khmelnytskyi, situada a pouca horas de Chernobyl.

A impactante história de vida desta super atleta começa ali mesmo, numa localidade que naquela altura ninguém escolheria para viver.

O desastre nuclear de 1986 dissolveu no tempo as brutais consequências de uma tragédia marcante na história da Ucrânia e da Europa. Oksana Masters nasceu três anos depois, cedo demais para evitar um destino anunciado. A persistente radiação viria a ter implicações diretas e irreversíveis no seu desenvolvimento 'in utero'.

Oksana nasceu com uma perna maior do que a outra e com seis dedos em cada um dos pés. As mãos, apesar dos cinco dedos, não têm polegares.

Incapazes de garantir uma vida digna à agora atleta paralímpica, os pais entregaram Oksana, que tem o mesmo nome da mãe biológica, a um orfanato. Terá pesado na decisão uma recomendação dos médicos, crentes de que Oksana não sobreviria a todas as limitações físicas e aos problemas de saúde de que era vítima. Um ato de amor, dirão uns, de egoísmo, acusarão outros, mas que de forma muito cruel significaria, a longo prazo, um autêntico calvário para a frágil criança.

Oksana Masters compete nas provas de cicilismo nos Jogos Paralímpicos Paris 2024.
Oksana Masters compete nas provas de cicilismo nos Jogos Paralímpicos Paris 2024. Dustin Satloff/Getty Images for the USOPC/AFP (Photo by Dustin Satloff / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP) 2024 Getty Images

Durante vários anos, no orfanato, Oksana foi vítima de abusos sexuais, passou fome e sofreu graves agressões físicas que deixariam marcas para a vida, físicas e psicológicas. No fundo, um 'cocktail' perfeito para um final aparentemente irremediável. Mas não.

A cicatriz vincada na pele, na zona da barriga, não lhe permite esquecer-se de tudo o que foi obrigada a viver, sem defesa, na escuridão, no absoluto anonimato. Foi esfaqueada quando tentava defender-se de uma violação, agressão de que foi vítima durante vários anos, todas as noites, numa cave.

Talvez por isso tenha decidido inscrever uma tatuagem ali mesmo, para que as dolorosas memórias possam ser substituídas pela esperança de um futuro melhor. Oksana escolheu uma rosa, mas não uma rosa qualquer. A preto e branco, a flor, já com poucos ou nenhuns sinais de vida, caída na pele, é acompanhada por uma frase: "Uma rosa ainda é e vai ser sempre uma rosa."

Uma rosa que começou a ser regada com a ajuda de Gay Masters, que viria a ser a sua mãe adotiva. Oksana tinha 8 anos. Foi nessa altura que viajou com a nova família para os EUA. A amputação das pernas era um cenário absolutamente necessário. Caso contrário, antecipavam os médicos, Oksana não passaria dos 10 anos. Hoje tem 35 anos, 18 medalhas conquistadas nos Jogos Paralímpicos e um sorriso contagiante. Apesar de participar nos Jogos Paralímpicos nas provas de ciclismo, também pratica, ao mais alto nível, canoagem, esqui de fundo e biatlo.

Oksana Masters, ainda hoje, assume não conseguir ouvir o brilho de facas a cortar, de tomar um banho frio - como era obrigada a fazê-lo no orfanato - e dormir mais do que duas horas seguidas. As marcas estão lá, as memórias persistem, mas Oksana não parou.

Em 2020, quando ganhou o prémio Laureus atribuído à melhor atleta com deficiência, a atleta nascida na Ucrânia não se esqueceu de agradecer à mãe adotiva por tudo o que alcançou até hoje.

"Muito obrigado à pessoa número um de toda a minha vida. Mãe, obrigado por estares aqui. Obrigado por me salvares e me dares uma segunda oportunidade."

Oksana Masters soma 18 medalhas em Jogos Paralímpicos.
Oksana Masters soma 18 medalhas em Jogos Paralímpicos. Tom Pennington/Getty Images for Team USA/AFP (Photo by TOM PENNINGTON / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP) 2021 Getty Images