Desde 2012, logo após os Jogos Paralímpicos de Londres que Carlos Fernandes, 52 anos, natural de Odivelas, treina o atleta paralímpico cabo-verdiano Márcio Fernandes, que no ano passado sagrou-se campeão do mundo no lançamento do dardo, disciplina que vai competir no Rio de Janeiro, nos jogos que acontecem de 7 a 18 de setembro.
Em declarações à agência Lusa, Carlos Fernandes, que treina no SL Benfica e ainda é professor de Educação Física na Guarda Nacional Republicana (GNR), disse que tem sido um percurso progressivo com o lançador cabo-verdiano.
"Começámos por efetuar um trabalho por etapas, que culminou com o resultado do Qatar, em que o Márcio foi campeão do mundo, fruto desse percurso por etapas, que queremos ver consolidado agora nos jogos do Rio de Janeiro", perspetivou.
Questionado se a consolidação do trabalho será a conquista de medalhas Carlos Fernandes respondeu: "Nesses campeonatos, o nosso objetivo é pensar no pódio. Pensando no pódio tudo pode acontecer e só no final da competição podemos dizer se os objetivos foram cumpridos como nós queríamos, ou se ficou algo mais por se concretizar".
Outro português que vai estar no Rio de Janeiro a treinar um atleta cabo-verdiano é Serafim Gadelho, que orienta Gracelino Barbosa, há quase três anos.
Em declarações à Lusa, Serafim Gadelho, 48 anos, afirmou que tem sido um "trabalho positivo" com o atleta paralímpico cabo-verdiano, que já conseguiu alguns títulos mundiais, sendo recordista do mundo nos 400 metros.
No Rio de Janeiro, o português disse esperar que o atleta também consiga um bom resultado.
"Neste momento estará preparado para conseguir um melhor resultado daquele que é o recorde pessoal dele e, se assim for, esperemos que ele consiga ir à final, esse é o primeiro objetivo", traçou o técnico, que também treina atletas sem deficiência no Porto há cerca de 20 anos.
"Estando na final, se fizer o seu melhor, pode até chegar às medalhas. Esse é um desejo que toda a gente tem", indicou, o treinador, garantindo que equipa cabo-verdiana vai fazer "o máximo", esperando ganhar uma medalha "seja ela qual for".
Questionados pela Lusa, ambos os treinadores portugueses garantiram que não têm tido quaisquer dificuldades em treinar atletas com alguma deficiência, sendo Márcio Fernandes amputado de uma perna e Gracelino Barbosa deficiente intelectual.
"No caso do Gracelino, a deficiência dele é ligeira, não traz grandes impedimentos. É uma questão de mantermos próximos e organizados e as coisas funcionam de forma normal. Não temos tido grandes entraves à preparação e participação dele nas competições", sustentou Serafim Gadelho, garantindo que entende bem com o velocista cabo-verdiano.
"Eu não tenho dificuldades em treinar esse tipo de atletas. Treino atletas sem deficiência e estou a treinar o Márcio com a deficiência física que tem. É o atleta que menos dificuldade me dá no trabalho, porque adaptar-se bem a qualquer exigência física, técnica e a qualquer situação", explicou Carlos Fernandes, dizendo que assim o trabalho é "mais facilitado".
Os treinadores elogiam as condições de trabalho que Cabo Verde tem criado para os seus atletas e garantem que querem continuar a dar o seu contributo para desenvolver o desporto no país.
"Para haver um trabalho mais eficaz, mais permanente e mais consolidado é preciso sempre mais condições porque há mais exigência, mas há um bom esforço em acompanhar todas essas exigências", terminou o técnico Carlos Fernandes.
O presidente do Comité Paralímpico Cabo-verdiano (COPAC), Rodrigo Bejarano, que é também presidente da delegação paralímpica cabo-verdiana ao Rio, disse que Cabo Verde tem "bom relacionamento" com o movimento paralímpico de Portugal.
Apesar de os dois treinadores não fazerem parte do movimento paralímpico português, Rodrigo Bejarano salientou que não se pode negar as relações entre os dois países, que estão enquadrados no movimento paralímpico lusófono.
Os atletas cabo-verdianos treinam no centro de alto rendimento do Jamor e, segundo Bejarano, Cabo Verde espera contar com o apoio da Federação de Atletismo de Portugal para certificar a pista de atletismo do seu Estádio Nacional, a maior infraestrutura desportiva do país.
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