O primeiro título do campeonato nacional de andebol conquistado pela equipa sénior feminina do Clube Desportivo 1º de Agosto foi um dos principais triunfos marcantes na carreira desportiva da ex-jogadora, a meia-distância Nair Almeida.

Em entrevista concedida à Angop sobre a sua trajetória desportiva, iniciada em 1995 e encerrada a 26 de fevereiro último, a antiga internacional manifestou-se feliz pelo feito.

"Foi bastante marcante para mim como jogadora quando o 1º de Agosto conquistou o seu primeiro título do campeonato nacional, em 2011, precisamente no ano em que me transferi para o clube, após nove temporadas ao serviço do Petro de Luanda. É marcante e fantástico para o meu historial", declarou.

Começou a sua atividade desportiva no Desportivo da Escolinha do Lobito, aos 11 anos de idade, através de uma amiga dos pais, a antiga praticante Agda Gomes, que a incentivou a abraçar esta modalidade.

Aos 17 anos, Nair transferiu-se para a capital do país, a convite do treinador Beto Ferreira (antigo selecionador angolano) para representar o Clube Desportivo da ENANA face às suas habilidades.

"Esta transferência obedeceu a anuência dos meus pais porque era menor de idade. Haviam também condicionado a prática do desporto à continuidade dos meus estudos e assim aconteceu", realçou.

Na agremiação ligada à empresa gestora dos aeroportos em Angola, a jogadora permaneceu uma época e meia, onde foi vice-campeã nacional, atrás do Petro-Atlético, seu clube seguinte (2003).

Confessou não ter encontrado dificuldades à sua integração na agremiação 'petrolífera', já que conhecia bem as suas novas colegas na altura em que fora convidada para reforçar o Petro, em 2001 na taça dos clubes campeões, sob comando técnico de Armando Gomes Kulau e Vivaldo Eduardo.

"No Petro ganhei tudo, desde campeonatos, taças e Supertaça a nível nacional, e no continente africano campeonatos, taças das taças e supertaças. Desde o início da minha atividade como jogadora profissional só tive uma única paragem em 2009, quando recebi a minha filha", disse.

Após aproximadamente nove anos ao serviço das tricolores, Nair mudou-se, por opção, para o principal rival, o 1º de Agosto.

"Deixei o Petro por opção porque já tinha atingido um patamar alto com a conquista de vários títulos provinciais, nacionais e africanos. Notei que era o momento de mudar de ares para encontrar outro rumo. É natural na vida de um desportista fazer história num outro clube. Seguramente não houve nenhum problema com treinadores, dirigentes e colegas".

No Clube Desportivo 1º de Agosto, onde realça ter tido boa receção, a benguelense conquistou no total quatro campeonatos nacionais, duas taças de Angola e uma Supertaça, este último o único troféu que faltava na galeria do clube afeto às forças armadas angolanas.

No contexto continental, com a equipa do 1º de Agosto ganhou duas Copas Africanas e uma Taça das Taças.

"Foi uma receção espetacular. Foi organizada uma pequena festa em minha honra, as meninas também já aguardavam por mim. Aliás, já conhecia muitas delas ao serviço da seleção nacional", disse.

Nair Almeida, que começou a dar os primeiros passos no desporto de recreação (basquetebol) no campo da Académica, onde tinha uma quadra para prática de modalidades de sala, bem como de uma piscina para natação, considera Angola como uma escola em África, sobretudo na classe feminina, onde tem sabido transmitir inteligentemente os seus conhecimentos aos restantes países do continente.

"Deixamos a Tunísia interromper a nossa trajetória vitoriosa, porque o permitimos. Desta vez vamos informar aos restantes concorrentes que o nosso repouso terminou e queremos voltar ao trabalho. Posso garantir que vamos recuperar o título que perdemos na última edição, porque reconheço a capacidade e a vontade de trabalhar de todas meninas, treinadores e os nossos dirigentes. Já mostrámos como somos", assegurou.

Questionada sobre a situação no geral em Angola e o papel da mulher na atividade, disse que deve haver maiores investimentos, o surgimento de mais equipas e o que o nível organizativo seja maior.

Antes de ser andebolista tinha interesse de abraçar a medicina, mas teve de optar a pratica desportiva.

"Quando era mais nova antes de entrar para o desporto, quis ser médica para ajudar a nossa população, mas apareceu uma luz no fundo do túnel que impediu tal pretensão. Se eu fosse médica não seria o que hoje sou. Para fazer medicina é necessário estar a estudar sempre, o que é difícil para um desportista. Existem desportistas que são médicos, mas não são atletas do topo. Em 2003 estava no 1º ou segundo ano da faculdade e tive de anular por falta de tempo. Tive de optar por um outro curso, que o das Relações internacionais, onde sou formada pela universidade Lusíada de Angola", confessou.

Indicou como ídolos Palmira Barbosa, que diz tanto admirar, Filomena Trindade, Justina Praça, Luzia Joaquim, Marcelina Kiala, Ilda Bengue e tantos outros. Internacionalmente, admira da selecção sénior masculina de França.

O seu sonho foi sempre chegar a seleção angolana e representá-la "com dignidade", assim como futuramente a sua filha se tornar alguém na sociedade. Gosta de viajar para conhecer outras culturas, tem predileção pelo mufete e sumos naturais e assume-se teimosa. Gosta da música de Paulo Flores e Matias Damásio.