O MMA é considerado um desporto moderno, que muito recentemente atingiu maturidade suficiente para ser chamado também de indústria. Este desporto, que outrora se encontrava marginalizado, cresceu rapidamente para todos os continentes, atraindo fãs de todas as etnias, religiões e géneros; formando atletas profissionais; e desenvolvendo um negócio multimilionário.  

Contudo, estima-se que os desportos de combate e artes marciais sejam quase tão antigos como a própria humanidade. No ano de 648 A.C. o Pancrácio, que envolvia técnicas de wrestling, pugilismo e outros golpes como pontapés, estreia-se nas Olimpíadas da Antiguidade Grega; quatro séculos depois, o Lei Tai irrompe na China em moldes semelhantes ao moderno MMA. Na antiguidade os principais embaixadores destes desportos eram reconhecidos atletas olímpicos vindos de Atenas, Esparta e outras cidades, ou guerreiros provenientes da guarda imperial chinesa. 

Com o passar dos séculos os vários desportos de combate e artes marciais foram desenvolvendo-se e fundindo-se entre si, ao ritmo da interação de diferentes povos e culturas que conquistavam e eram conquistados.  

No decurso do século XIX e início do século XX, começaram a ocorrer célebres disputas entre atletas de diferentes modalidades, com o objetivo de saber qual seria o atleta e a modalidade dominante. O combate entre John L. Sullivan, o “pai” do Boxe moderno e primeiro campeão de pesos-pesados a fazer transição para o uso de luvas nos combates, com o wrestler William Muldoon é um dos mais célebres exemplos.  

A ideia de combinar várias artes marciais ou sistemas de combate ganha força no século XX, nomeadamente com a criação do Sambo, na Rússia, e do Jeet Kune Do de Bruce Lee. Ambos inspiraram-se em técnicas de striking e grappling provenientes de várias artes marciais. 

Falar das origens do MMA é também falar da história da família brasileira Gracie, os criadores do Jiu-Jitsu Brasileiro. Os irmãos Carlos Gracie e Hélio Gracie fundaram esta arte marcial a partir dos ensinamentos do judoca Mitsuyo Maeda que, por sua vez, realizou inúmeros combates com atletas de outras artes marciais. Os seus alunos Gracie seguiram o mesmo caminho e contribuíram fortemente para o desenvolvimento do Vale Tudo brasileiro e, posteriormente, do MMA. 

O Vale Tudo, considerado o percursor mais moderno do MMA, juntava essencialmente praticantes de Jiu-Jitsu, Luta Livre e alguns praticantes de Capoeira e Boxe. Foi quando Rorion Gracie (filho de Hélio Gracie) emigrou para os EUA – e levou consigo o enigmático Jiu-Jitsu Brasileiro e a cultura do Vale Tudo – que o MMA nasceu e começou a ganhar outra dimensão, sobretudo com a criação da promoção UFC em 1993. Foi nos EUA que o MMA, como muitos outros desportos e atividades, ganhou a sua dimensão “show business”, atraindo os media e investidores. 

Tal como nas competições de Vale Tudo, o conceito que sustentava os torneios do UFC era saber qual o lutador mais dominante, independentemente da arte marcial ou desporto de combate praticado.  

Se nos EUA o UFC era dominado por Royce Gracie, no Japão reinava outro Gracie, de seu nome Rickson, que ganhava títulos na promoção Pride (que mais tarde foi comprada pela empresa Zuffa – dona do UFC).   

Desde os anos 90 até à atualidade o MMA transformou-se enormemente em várias vertentes: tornou-se verdadeiramente num desporto, existindo hoje academias focadas apenas no ensino do MMA; consolidou regras e normas, com o objetivo de proteger a integridade física e saúde dos atletas; propagou-se por todo o globo, como atestam os recentes eventos do UFC em Londres, Abu Dhabi, Moscovo ou Pequim, transmitidos para mais de 165 países e territórios; e o número de fãs, praticantes e atletas aumentou exponencialmente. 

Atualmente as dimensões desportivas e económicas do MMA atraem atletas de elite que deixaram de competir nas suas modalidades de origem para se dedicarem exclusivamente ao MMA, como são os casos de vários ex campeões do mundo de Jiu-Jitsu Brasileiro como Damian Maia, ou ex atletas olímpicos de Wrestling como Daniel Cormier. Para além do UFC, outras organizações e promoções (e.g. Bellator, One Championship, PFL) têm surgido, considerando o galopante alargamento da modalidade a mais população e mercados. 

Apesar de toda a regulamentação e profissionalismo que caracterizam o moderno MMA, mantem-se o apelo intemporal – a paixão crua pelo combate e a admiração e respeito por aqueles que partilham a dor e a glória vividas nas derrotas e nas vitórias. 

David Pimenta

Gestor e Politólogo, autor do blogue “Fight Corner” (https://fightcorner.blogs.sapo.pt/)