O piloto Max Verstappen, ‘pulverizador’ de recordes na Fórmula 1, e o tenista Novak Djokovic foram os incontestáveis protagonistas de um 2023 marcado pelo inédito feito da Jumbo-Visma no ciclismo e pelo regresso da ginasta Simone Biles.

O domínio avassalador do piloto neerlandês da Red Bull, de 26 anos, rumo ao tricampeonato foi tal que Verstappen ganhou 19 dos 22 Grandes Prémios disputados este ano – um recorde, assim como os 10 triunfos consecutivos que conquistou -, isolou-se no terceiro lugar dos mais vitoriosos de sempre, com 54, e estabeleceu uma ‘inalcançável’ marca no número de voltas lideradas durante a temporada da Fórmula 1: 1.003 das 1.325 do campeonato.

O protagonismo (e os dados) de 'Mad Max', fulcral no segundo título consecutivo da Red Bull no Mundial de construtores, só encontra paralelo nas performances de Novak Djkovic, que venceu três dos quatro Grand Slams da época e isolou-se como recordista de ‘majors’, com 24.

Aos 36 anos, o sérvio continua a dominar o ténis mundial, ‘vulgarizando’ a concorrência, nomeadamente Carlos Alcaraz, que conseguiu superar o ‘trauma’ de Roland Garros – onde acusou a pressão de defrontar ‘Djoko’, numa meia-final que ficará eternamente na memória do prodígio espanhol pelos piores motivos – para derrotá-lo na final de Wimbledon.

O terceiro Grand Slam da época foi mesmo o único que o líder do ranking ATP não ganhou, num 2023 em que bateu muitos outros recordes: é o tenista (homem ou mulher) com mais semanas como número um (403), ampliou para 40 o número de títulos Masters 1.000 (tal como as presenças em finais, que são agora 58) e para 36 a presença em finais de torneios do Grand Slam, alcançado também um inédito sétimo cetro nas ATP Finals.

A hegemonia de Djokovic e de Verstappen ‘ofuscou’ feitos como as revalidações de título do italiano Francesco Bagnaia, em MotoGP, e do finlandês Kalle Rovanperä, o mais novo bicampeão da história no Mundial de ralis, ou o novo recorde mundial da maratona, estabelecido pelo queniano Kelvin Kiptum em Chicago – é agora de 2:00.35 horas, menos 34 segundos do que o anterior máximo, que pertencia ao seu compatriota Eliud Kipchoge desde 2022.

Foram muitos os recordes no atletismo, nomeadamente o sétimo no salto com vara do sueco Armand Duplantis, mas nenhum deles mereceu ‘honras próprias’ como aconteceu com o salto que marcou o regresso à competição ao mais alto nível de Simone Biles, após uma pausa de dois anos.

Fora da competição desde os Jogos Olímpicos Tóquio2020 (disputados em 2021 devido à covid-19), quando se retirou a meio do evento devido a problemas de saúde mental, a mais bem-sucedida ginasta norte-americana conquistou quatro ouros nos Mundiais de Antuérpia, onde se tornou na primeira mulher a realizar um Yurchenko Double Pike, um salto no cavalo agora rebatizado ‘Biles II’.

Embora as conquistas a nível individual justificassem a entrada, per si, do dinamarquês Jonas Vingegaard (Tour), do esloveno Primoz Roglic (Giro) e do norte-americano Sepp Kuss (Vuelta) na lista de notáveis de 2023 é o feito da Jumbo-Visma, a primeira equipa a ganhar as três grandes Voltas no mesmo ano, que vai perdurar não só na história do ciclismo, mas também na do desporto.

Se a vitória de ‘Rogla’ na Volta a Itália foi ‘arrancada a ferros’, no contrarrelógio da penúltima etapa em que destronou o britânico Geraint Thomas (INEOS), numa edição em que João Almeida também fez história para Portugal ao ser terceiro na geral final, a de Vingegaard na ‘Grande Boucle’ foi quase um ‘passeio’, sobretudo depois do espantoso colapso do seu arquirrival, o esloveno Tadej Pogacar.

O primeiro ocaso da carreira de ‘Pogi’, intratável até à queda na Liège-Bastogne-Liège em abril, coincidiu com a afirmação do dinamarquês como ciclista mais forte do pelotão, com Vingegaard a defender com sucesso o título no Tour e a crescer em confiança, ao ponto de tentar a ‘dobradinha’ na Vuelta.

Da luta de egos da Jumbo-Visma emergiu, no entanto, o supergregário Sepp Kuss, que sobreviveu aos ataques dos seus colegas para conquistar a última grande Volta de uma temporada velocipédica em que Mathieu van der Poel alcançou o sonhado arco-íris e o pelotão ficou órfão de uma lenda, a também neerlandesa Annemiek van Vleuten, a mais dominadora ciclista feminina da história.