O ex-presidente da Confederação do Desporto de Portugal (CDP) Carlos Paula Cardoso recordou a criação deste organismo, em entrevista à agência Lusa, reconhecendo ter ponderado candidatar-se ao Comité Olímpico de Portugal (COP), sem ter inveja do seu protagonismo.
Carlos Paula Cardoso sucedeu a José Manuel Constantino na CDP, em outubro de 2002, quando o atual presidente do COP se demitiu para liderar o Instituto Nacional de Desporto (atual IPDJ), com quem mantém amizade: “Podemos ter estilos diferentes e, por vezes, ideias diferentes, mas nunca houve qualquer momento agreste entre nós”.
Depois, em 2012, avaliou candidatar-se à presidência do COP, mas acabou por integrar o elenco para a vice-presidência do organismo olímpico nas listas de Marques da Silva, que viria a ser derrotado por Constantino, tendo, em 2017, recolhido apoios, que foram insuficientes para avançar.
“Ponderei! Eu nunca fiquei com saudades de nenhum cargo que tivesse ocupado, porque fiquei sempre com coisas por fazer. Sigo em frente e pronto. Na altura, pensei no COP e integrei uma candidatura, mas não calhou e eu não fico com nostalgia. Sou um homem do olimpismo, escrevi vários livros sobre o olimpismo, mas não tenho pena de não ter sido [presidente ou vice-presidente], essa nunca foi a minha maneira de estar. É como agora, estive muitos anos na CDP, gostei muito, isso fica, mas não fico a pensar no passado”, assegurou.
Em entrevista à agência Lusa, recordou a criação da CDP, em 1993, na ‘ressaca’ dos Jogos Olímpicos Barcelona1992.
“Estes Jogos Olímpicos tinham tudo para serem uns excelentes Jogos para Portugal. Quando foram anunciados para Barcelona, foram lançadas estruturas no Jamor, algumas delas más, com a ideia de que iríamos receber imensos atletas estrangeiros em estágios. E levámos a Barcelona aquele que ainda é o nosso segundo maior contingente [101, só batido pelos 107 em Atlanta1996], mas foi um fracasso total. Foi mau, muito mau”, referiu.
A consequência foi “a criação de um ‘sindicato’ de federações”, que “não se reviam no COP”, mas a CDP nunca assumiu o ‘protagonismo’ olímpico.
“Quando o [José Manuel] Constantino chega à CDP, em 2000, como presidente e eu como um dos vice-presidentes, as necessidades das federações já eram diferentes. E o papel era ser um elo dinamizador de soluções, sem que seja um trabalho muito visível, às vezes passa despercebido”, admitiu.
Além das responsabilidades nas competições internacionais, também o financiamento é diferente, potenciando outro tipo de atividade.
“O COP também mudou muito, as verbas são diferentes das do tempo do Vicente Moura, o que leva a que haja outras possibilidades. Não tenho nenhuma inveja do que é feito, e ainda bem que é feito, pelo COP, mas nós, pelo nosso orçamento, não tem qualquer hipótese de comparação”, realçou.
Como líder da CDP, Carlos Paula Cardoso chegou ainda à presidência da European Non–Governamental Sports Organisation (ENGSO), sendo atualmente seu presidente honorário, numa decisão tomada em junho de 2019, no fim do seu mandato de quatro anos, por aclamação.
Entre as “lutas” travadas durante 21 anos, recorda a conquista do financiamento do Estado à CDP em 2002 – “agora já há um apoio razoável” –, o debate legislativo sobre o Regime Jurídico das Federações Desportivas (RJFD), em 2013, as dificuldades decorrentes da queda do BES, que afetaram a seguradora Tranquilidade, então parceira do organismo, a entrada da ‘troika’, em 2012, e a pandemia de covid-19, que “parou completamente o desporto”.
“Nestes dois últimos casos, o trabalho das federações proporcionou dois regressos à normalidade e, no da pandemia, até superando o número de praticantes que havia anteriormente”, salientou.
Relativamente aos responsáveis pela tutela do desporto, Carlos Paula Cardoso não tem dúvidas em eleger Laurentino Dias como “o melhor secretário de Estado” com quem trabalhou, recordando, imediatamente, o bom relacionamento tido com com Emídio Guerreiro e o seu “ar desesperado quando se deparou com o anúncio de um brutal corte no orçamento, durante uma reunião com a CDP”.
“Mas, também relativamente a estes responsáveis, não senti qualquer tipo de azedume ou crispação. Dei-me razoavelmente bem com todos. Com quem tive menos contacto foi o primeiro secretário de Estado do primeiro Governo de António Costa [João Wengorovius Meneses], porque só tive uma reunião com ele nos pouco mais de três meses em que esteve no cargo. E, ultimamente, tive bom relacionamento com os dois João Paulo [Rebelo e Correia]”, concluiu.
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