A Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) já reagiu a mais recente polémica entre os triplistas Nelson Évora e Pedro Pablo Pichardo, que conheceu um novo capítulo na noite de domingo.

Jorge Vieira, presidente da FPA, diz-se "chocado" com as palavras de Nelson Évora, atleta que afirmou que a naturalização de Pichardo tinha sido comprada.

"A federação não teve sequer uma troca de palavras com o Pedro Pichardo antes de ele estar naturalizado. Não houve qualquer convite da nossa parte, nenhum aliciamento. 'Compra' é um termo que me choca. É impossível consentir uma acusação deste género, porque naturalmente não comprámos nenhum atleta, nunca uma naturalização partiu da federação, nunca convidámos nenhum atleta a ser português", explicou Jorge Vieira, em declarações à 'Rádio Observador'.

Sobre as diferenças nos tempos de naturalização de Nelson Évora, que esperou 11 anos até obter a cidadania portuguesa (nasceu na Costa do Marfim mas é filho de cabo-verdianos) e de Pichardo que esperou três meses, o líder da Federação Portuguesa de Atletismo deu a seguinte explicação.

"A lei da nacionalidade, no artigo 24.º, aponta casos especiais, como a situação de atletas, ou noutras áreas, onde os cidadão candidatos à nacionalidade possam prestar serviços relevantes ao estado português, mediante vários requisitos. [...] Isto é apreciado pelo Governo, pelo Ministério da Justiça, sendo também sustentado por pareceres. Houve um parecer da federação a sustentar que o atleta, ao ser naturalizado, podia prestar serviços ao país. [Nelson Évora] quando veio para Portugal com 9 anos, não colhia nenhum argumento dentro desta lei, que nem sei se na altura existia. Durante todo este período jovem do Nelson Évora não houve qualquer argumento para acelerar a naturalização. Teve de se esperar pela maioridade", argumentou.

No domingo, numa entrevista à rádio 'Observador', no podcast '40 minutos', Nélson Évora, primeiro campeão olímpico nacional no triplo salto, disse que a Federação Portuguesa de Atletismo "comprou" um atleta para ter resultados no curto prazo.

"Não temos um atleta júnior que salte 16 metros. Que possamos dizer que saltará 17 metros em sénior, que possa ganhar uma medalha. Fico contente que ele [Pichardo] traga uma medalha. Mas isto espelha o quê? Interesse de quem? Quem é que lucrou com isso? Foi Portugal! Claro, é bom, no curto prazo. Foi um investimento feito no curto prazo. Foi comprado um atleta para poder ter resultados a curto prazo. É uma referência. É como é! Dei aqui uma referência exata. Não pode acontecer isto [n.d.r. obtenção da nacionalidade em timings diferentes]. Não tenho nada contra ele e nunca tive nada contra ele. Estive 11 anos em Portugal, não competi por Cabo Verde e Costa do Marfim, e até me sinto envergonhado quando dou de caras com as federações das minhas origens. Até baixo a cabeça. São as minhas raízes mas não quis porque vim para cá com seis anos. Não sei nada sobre Cabo Verde e a Costa do Marfim. Tinha duas pessoas em casa que me deram educação conforme os costumes cabo-verdianos. À parte disso, todos os meus amigos são portugueses. Quando me foi dado a escolher em juvenil, eu recusei [outros países]. Disse que não me ia sentir bem vestir a camisola de um país no qual não me sentia", defendeu Nelson Évora, campeão olímpico na China, em 2008.

Pedro Pablo Pichardo ouviu, não gostou e deu o troco.

"What the fuck bro! ['Mas que raio, irmão!']. Quando dizes que fui comprado estás a faltar-me ao respeito. Não sou uma prostituta nem sou como tu que saíste mal do clube porque te ofereceram mais. Não sei quais os problemas que tens na cabeça ou se tens problemas com alguém no Benfica mas não deves misturar-me nessas coisas falando de mim. Mas deixa-me explicar-te algumas coisas e também aos que te apoiam. Saí de Cuba pelos problemas que já toda a gente sabe. Estava na Suécia e o Benfica fez-me uma proposta como fizeram-me outros clubes de outros países. Cheguei a Portugal sem saber nada dos teus problemas. Simplesmente estava focado na minha carreira", escreveu o recém-sagrado campeão da Europa através da conta pessoal de Instagram.

Pichardo alcançou a melhor marca com 18,08 metros e sublinha que Évora nunca se aproximou dessa marca. Esta disputa de marcas foi reacesa nas redes sociais.

"Até porque já era o 'campeão' mas nunca me tinhas ganho, na tua carreira só ganhaste 2 vezes e a tua melhor marca é 17,74 metros e eu salto mais do que isso de leggings compridas e chapéu. Nunca foste a minha referência como atleta nem como pessoa. Ficas a falar de Tóquio. Ok... Quando saíste lesionado eu já não estava na pista porque fiz a qualificação logo no primeiro ensaio. Então, como queres que eu fale contigo? Passar 11 anos para teres um documento português não te faz mais português do que ninguém, ou seja, do que eu, que tive em pouco tempo. Afinal, adquirimos os dois nacionalidade portuguesa o que quer dizer que não nascemos cá. Dizes não ter nada contra mim mas o teu colega agora espanhol também teve documentos rápidos e foste um dos primeiros a dar-lhe os parabéns. Sempre que tens uma oportunidade falas do Pichardo. Sê homem e fala diretamente para a pessoa e ou para o clube com o qual tens os problemas. Pára de falar de mim que já pareces uma menina quando gosta de um rapaz. És bonito mas não sou gay. Sempre fiquei no meu cantinho, mas chega de humildade e de ficar calado. Podes ter a tua história e és o Nélson Évora como disseste mas eu também tenho a minha e sou o Pichardo. Quando fores vencedor da Diamond League, saltares 18 metros e tiveres os meus títulos em um ano então falamos de campeões. 'Mó Cota', sou melhor do que tu... aceita. Tu sabes", atirou Pichardo, de 29 anos, nas redes sociais.