O atleta Hélio Fumo conseguiu, através de uma iniciativa que apelidou de "Alimenta esta Corrida", angariar 18 toneladas de alimentos para pessoas afetadas pela pandemia de covid-19.

A iniciativa, que teve lugar no passado sábado, dia 06 de junho, e juntou corredores em todo o país, teve o epicentro no Campo Pequeno, em Lisboa, onde o atleta de trail esteve 12 horas a correr, desde as 08:00 até às 20:00.

O resultado final foi a angariação de 18 toneladas de bens alimentares, que chegaram a 79 instituições e 89 famílias, para grande satisfação do atleta.

"O balanço é super positivo e reflete a grande adesão de grupos de corrida, organizações de provas e pessoas individuais, que foram contribuindo ao longo do evento", diz Hélio.

A ideia de correr por alimentos não é nova para Hélio, mas a pandemia levou o atleta da seleção nacional portuguesa de trail a ir mais longe.

"Todos os anos faço algo parecido, com uma recolha de bens alimentares para a paróquia onde crescei, em Santo Adrião, que ajudou a minha família. Este ano com a pandemia achei por bem amplificar para vários grupos, fui convidando alguns amigos, que convidaram outros amigos e o evento cresceu", conta o atleta, que juntou corredores por todo o país.

No total foram nove mil quilómetros percorridos por quem quis participar. Hélio Fumo manteve o compromisso de correr 12 horas, mas confessa que houve uma altura em que pensou que tinha sido demasiado ambicioso, sobretudo para quem esteve parado durante o período da pandemia.

"Correr as 12 horas foi um toque de loucura, porque tínhamos de fazer alguma coisa extra e achei que 12 horas era um desafio para mim depois deste tempo todo parado. Queria ir ao extremo para mostrar a dedicação a esta causa", explica em entrevista à Lusa o atleta, que acrescenta que com o avançar do dia a dificuldade foi aumentando.

"As primeiras horas foram fáceis porque foram aparecendo amigos. Mas do almoço até ao lanche foi o verdadeiro desafio. Cheguei a parar e dizer à minha mulher que tinha sido uma má ideia", revela.

Contudo, no fim, acabou por superar o cansaço que se ia acumulando e já só com a mulher e a filha como espetadoras superou a barreira dos 100 quilómetros.

"À hora de almoço pensei que era uma estupidez estar a fazer aquilo tanto tempo. Parecia um rato numa roda e até tive de começar a inverter o sentido, pois já sentia o corpo desequilibrado. Mas no fim fiz o que tinha planeado, foi um bom desafio", resume Hélio.

Apesar do desconfinamento, a pandemia continua a fazer "vítimas" e Hélio Fumo acredita que muitas dificuldades ainda estão para chegar. Por isso, admite que pode repetir a iniciativa e que cada um pode começar por ajudar nos casos que conhece.

"Temos sempre alguma desconfiança em ajudar, mas ter proximidade torna as coisas mais fáceis. E nesta fase temos certamente casos de proximidade e pessoas que precisam de ajuda. Não consigo explicar o sucesso do ‘Alimenta esta Corrida’, mas adorava poder repetir, até porque o próprio Banco Alimentar já disse que os casos de necessidade triplicaram", sublinha.

Para já a ideia fica a pairar, mas as corridas não param: depois de na quarentena ter optado por não sair de casa e fazer trabalho específico, hoje Hélio está já a retomar os treinos de corrida e ainda para este ano tem na agenda uma prova na Tailândia.

"Vivo de performance e do feedback dos patrocinadores, de quem ainda não recebi notícias más, mas está complicado, porque não conseguimos planear nada, foi tudo cancelado. Estou a fazer o desconfinamento com calma, a trabalhar algumas valências que não tive oportunidade nos últimos meses, mas sem dúvida de que que vou ter que pensar nalguns desafios para mim mesmo", termina.