Francis Obikwelu, medalha de prata nos 100 metros em Atenas2004, considerou hoje “muito difícil” Portugal voltar a ter um grande atleta como ele, uma vez que vê falta de disciplina e espírito de sacrifício nos mais jovens.

“Hoje em dia, é difícil [Portugal voltar a ter um grande velocista]. Porque temos jovens talentos, mas não têm disciplina. Eles não têm espírito de sacrifício. Naquela altura, só tínhamos pista coberta aqui. Treinávamos ao frio, à chuva”, recordou o ainda recordista nacional dos 100 e 200 metros.

Francis Obikwelu falava aos jornalistas após uma visita à residência do Centro de Alto Rendimento do Jamor (CAR Jamor), em Oeiras, que contou com a presença do secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias.

“Não lhes falta nada, mas estão sempre a queixar-se. Na minha altura, nem havia massagens, doía e continuávamos a treinar. Não há outra forma. Isso vai tornar muito difícil ter um grande atleta como eu”, estimou.

Agora com 45 anos, o antigo atleta lembrou que, atualmente, os jovens “têm tudo – ginásio, sauna – mas não há resultados”.

“Porquê? Não há disciplina. Quando no inverno está a chover, ninguém quer treinar fora, porque apanham gripes. Isso é que falta aos jovens. Nós, como geração de pais, estamos a falhar em transmitir-lhes disciplina e rigor”, notou Obikwelu, salientando que ele próprio 'absorveu' aqueles dois valores nos três, quatro anos que viveu na residência do CAR.

Obikwelu confessou que hoje viveu “um dia simbólico” ao visitar a sua “segunda casa”.

“Muita gente não percebe qual é o significado do Centro de Alto Rendimento. Estão aqui jovens, aprendem disciplina, rigor. É um sítio fantástico. Hoje em dia, já não falta nada [no CAR]. Tem o ginásio, tem tudo ao lado. Cresceu muito e acho que vai crescer mais”, perspetivou.

O vice-campeão olímpico dos 100 metros em Atenas foi um dos ex-residentes que passou hoje pela residência do CAR, onde estiveram também o judoca Jorge Fonseca, medalha de bronze nos -100kg nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, Tiago Pereira, bronze no triplo salto nos últimos Mundiais de pista coberta e em rota para os Europeus de Roma, ou Jaime Faria, número dois do ténis nacional.